Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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Uma possível explicação para isso é de novo a hipótese de que as<br />
creches a que os pobres têm acesso não são da mesma qualidade das<br />
dos ricos, fazendo com que, dadas as opções existentes, prefiram criar<br />
seus filhos em casa.<br />
Caso os impactos sejam efetivamente heterogêneos, o desafio é replicar<br />
os casos bem-sucedidos, e fazer com que se generalizem. Um<br />
primeiro passo nessa direção é identificar e estudar quais são os programas<br />
bem-sucedidos e suas características, e isso deveria ser prioridade,<br />
tanto porque, se não houver tal heterogeneidade e o impacto<br />
for efetivamente nulo, uma mudança na prioridade da expansão da<br />
rede de creches deveria ser considerada, quanto porque, caso a explicação<br />
esteja vinculada à heterogeneidade de impactos, torna-se<br />
urgente oferecer aos menos favorecidos serviços com qualidade compatível<br />
à recebida pelos mais ricos.<br />
O QUE QUEREMOS<br />
A partir de um diagnóstico preciso a respeito das razões para que<br />
até hoje não tenham sido detectados impactos importantes de fre -<br />
quência a creches sobre resultados futuros, é possível saber se há,<br />
dentre as experiências já testadas no Brasil, algumas que funcionem<br />
melhor que outras, e que devem servir de modelo para as creches que<br />
temos. Uma primeira questão relevante, portanto, é saber como usar<br />
da melhor maneira possível os recursos que atualmente já são gastos<br />
com o sistema e em que medida os casos bem-sucedidos devem ser<br />
expandidos para que atinjam seu público-alvo.<br />
Uma segunda questão relevante é saber se há espaço para outros<br />
tipos de intervenção educacional, diferentes do modelo de creches,<br />
que devessem ser implementados, ou oferecer serviços distintos a<br />
crianças que partem de condições iniciais diferentes. Ainda que seja<br />
factível, a partir das respostas dadas à questão anterior, aprimorar<br />
nossas creches de modo a que produzam o maior benefício possível,<br />
resta a dúvida de que seja ou não conveniente fazer investimentos<br />
adicionais e complementares para crianças que vivem em ambientes<br />
familiares vulneráveis ou que apresentam defasagens de desenvolvimento<br />
diagnosticadas. Como foi dito, uma creche que mire seu<br />
foco em uma criança com desenvolvimento regular não necessariamente<br />
produzirá o efeito esperado sobre uma criança defasada,<br />
76 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 38-85 | MAIO > AGOSTO 2011