Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc
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1 EIXOS DO IMPERATIVO DA SAÚDE COMO PRINCÍPIO GOVERNAMENTAL<br />
DA VIDA: BIOPOLÍTICA, MEDICALIZAÇÃO E SAÚDE PÚBLICA<br />
As práticas corporais como atividades de cunho pedagógico intimamente<br />
associadas à educação física como uma disciplina escolar<br />
representam, em certa medida, uma mentalidade atinente à modernidade<br />
educativa. Quer dizer, a modernidade representa um importante<br />
momento na reestruturação do exercício do poder pela produção de<br />
novos campos de saberes, bem como de meios de transmissão daqueles<br />
tidos como oficiais, científicos e verdadeiros, saberes totalizantes e<br />
englobantes, de tal maneira que pudessem ser um eficaz exercício de<br />
poder e de governo (CASTRO, 2006). A modernidade educativa, então,<br />
entendida como uma iniciativa de disciplinarização da sociedade e de<br />
promoção da vida, pode ser analisada a partir dos efeitos que visa a<br />
produzir pelas relações de saber-poder que atualiza, sobretudo acerca<br />
de que subjetividade quer empreender.<br />
Nesse sentido, as práticas corporais estão inseridas na lógica das<br />
relações de poder-saber que a modernidade inventou para governar<br />
sujeitos, preenchendo os requisitos para um exercício do poder biopolítico.<br />
Para compreender esse cenário, uma chave interpretativa é<br />
a análise do binômio formado pelo saber médico-higienista. Há a necessidade,<br />
portanto, de se resgatarem traços do movimento higienista,<br />
que data do século XIX, e da ideia de saúde pública. É a partir do<br />
conjunto formado pela relação entre saber médico e medicalização da<br />
sociedade, pela noção de saúde pública e pelo movimento higienista<br />
que traçarei uma cartografia.<br />
O filósofo francês Michel Foucault desenvolveu uma vasta e detalhada<br />
genealogia dos modos de exercício do poder com vistas ao governo.<br />
Sob o termo governamentalidade, ele pesquisou, na década<br />
de 1970, aquilo que considerou como os dois polos do governo dos<br />
outros sob o registro do biopoder, a saber, o poder disciplinar e a<br />
biopolítica, a partir do seu surgimento no século XVII e nos séculos<br />
XVIII e XIX, respectivamente. Na década seguinte, Foucault voltou o<br />
seu olhar para a antiguidade greco-romana, entrecruzando a questão<br />
do governo com a ética, ocupando-se de um estudo detalhado acerca<br />
das práticas de si e das formas de subjetivação (a noção de cuidado de<br />
si, de ascese, de parrhysía etc.) que ensejavam o governo de si.<br />
146 SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 142-161 | MAIO > AGOSTO 2011