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Revista Sinais Sociais N16 pdf - Sesc

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A participação no Projeto permite que novos códigos sejam internalizados<br />

e que sejam construídas pontes de sentido entre os indivíduos<br />

e a dança, ou seja, a prática da dança os inclui, lhes dá sentido de pertença<br />

e de filiação. Isso também pode ser percebido nos bate-papos<br />

antes das aulas, nos períodos de descanso ou nos camarins antes das<br />

apresentações. Tudo gira em torno de eventos, associados às vivências<br />

proporcionadas pela prática artística. Pode-se dizer, entretanto, que<br />

são momentos efêmeros de igualdade social, pois não são transformadas<br />

as condições objetivas de vida.<br />

3.5 O LAZER<br />

Conversei com os bailarinos e perguntei o que havia mudado na vida<br />

deles com o Projeto. Duas coisas chamaram a atenção: a ideia de disciplina<br />

e uma rejeição aos bailes funk. Talvez o baile funk represente o<br />

Outro da disciplina. É a festa versus a ordem. O projeto, então, parecia<br />

estar na categoria da ordem, mas não era só isso.<br />

Diário de campo (15 de março de 2003)<br />

Quando perguntados sobre o que fazem nos momentos de lazer,<br />

aos sábados e domingos, os alunos falavam do lugar social do Projeto,<br />

ou seja, incorporavam discursos normativos para tentar reforçar sua<br />

posição de não desviante. Desse modo, temas como “ficar na rua”,<br />

“ficar à toa” ou frequentar bailes funks eram prontamente evitados. “Eu<br />

agora estou mais calmo. Estou saindo pouco, não tenho muito tempo e<br />

às vezes estou muito cansado...”. Ou, como disse outra bailarina: “Eu<br />

fico em casa, vendo televisão. Lá onde eu moro é meio perigoso. Tem<br />

dias que tem hora para chegar e hora para sair. Prefiro ficar quieta em<br />

casa...” Se, por um lado, a violência é um dado de realidade na vida<br />

contemporânea, ela não é o único fator que apaga do discurso desses<br />

jovens a representação da rua. Parece existir uma moral que constantemente<br />

policia suas expressões mais soltas. O discurso instituído visto<br />

nas reportagens dos jornais também surge nos projetos, ao menos<br />

como um acordo de falas entre os bailarinos e o pesquisador externo.<br />

Muitas vezes os bailarinos colocam a participação no Projeto como<br />

um divisor de águas em suas vidas. “Antes eu só zoava por aí ou ficava<br />

pensando besteira...”, disse um bailarino. E outro: “Eu ia a todos<br />

SINAIS SOCIAIS | RIO DE JANEIRO | v.5 nº16 | p. 108-141 | MAIO > AGOSTO 2011<br />

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