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professor-leitor: uma história de vida - Programa de Pós-Graduação ...

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<strong>uma</strong> estratégia para compreensão/interpretação/produção <strong>de</strong> textos e a literatura<br />

integra-se à área <strong>de</strong> leitura. ( BRASIL,1999:139).<br />

Para finalizar esta pequena explanação - neste tecido recortado <strong>de</strong> falas <strong>de</strong><br />

leituras resenhadas - ousamos apropriarmo-nos das palavras <strong>de</strong> um francês, não por<br />

acaso, mesmo que esse tenha criticado em Schopenhauer o abuso <strong>de</strong> citações 11 .<br />

Sem dú<strong>vida</strong>, a amiza<strong>de</strong>, a amiza<strong>de</strong> que diz respeito aos indivíduos, é <strong>uma</strong> coisa frívola,<br />

e a leitura é <strong>uma</strong> amiza<strong>de</strong>. Mas ao menos é <strong>uma</strong> amiza<strong>de</strong> sincera, e o fato <strong>de</strong> dirigir-se a<br />

um morto, a um ausente, lhe dá qualquer coisa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteressada, quase tocante. Além<br />

do mais, é <strong>uma</strong> amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong>sembaraçada <strong>de</strong> tudo que faz a feiúra das outras. Como não<br />

somos, nós os vivos, senão mortos que ainda não entraram nas suas funções, toda essa<br />

poli<strong>de</strong>z, todas essas saudações no vestíbulo que chamamos <strong>de</strong>ferência, gratidão,<br />

<strong>de</strong>votamento e on<strong>de</strong> misturamos tantas mentiras, são estéreis e fatigantes. ... Na leitura,<br />

a amiza<strong>de</strong> é <strong>de</strong> repente levada à sua pureza primitiva. Com os livros, não há<br />

amabilida<strong>de</strong>. Esses amigos, se passamos a noite com eles, será porque realmente temos<br />

dú<strong>vida</strong>, a amiza<strong>de</strong> que diz respeito aos indivíduos, é <strong>uma</strong> coisa frívola, e a leitura é <strong>uma</strong><br />

amiza<strong>de</strong>. Mas vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo. Não os <strong>de</strong>ixamos, pelo menos estes, senão com<br />

remorso. E quando os <strong>de</strong>ixamos, não levamos nenhum <strong>de</strong>sses pensamentos que mimam<br />

a amiza<strong>de</strong>. O que é que pensaram <strong>de</strong> nós? – Será que não tivemos tato? – Será que<br />

agradamos? – e o medo <strong>de</strong> ser esquecido por um outro. Todas essas agitações expiram<br />

na soleira <strong>de</strong>ssa amiza<strong>de</strong> pura que é a leitura (PROUST, 1989:42-43)<br />

1.1.2 – Leitura <strong>de</strong> Literatura<br />

Continuemos. Tenciono contar a minha<br />

<strong>história</strong>. Difícil. Talvez <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> mencionar<br />

particularida<strong>de</strong>s úteis, que me pareçam<br />

acessórias e dispensáveis. Também po<strong>de</strong> ser<br />

que, habituado a tratar com matutos, não<br />

confie suficientemente na compreensão dos<br />

<strong>leitor</strong>es e repita passagens insignificantes. De<br />

11 Proust, em seu Sobre a leitura, p. 40,assim o diz: “Schopenhauer não avança jamais <strong>uma</strong><br />

opinião sem apoiá-la imediatamente em várias citações, mas sente-se que os textos citados não<br />

são para ele senão exemplos, alusões inconscientes e antecipadas nas quais ele gosta <strong>de</strong><br />

reencontrar traços <strong>de</strong> seu próprio pensamento, mas que não o inspiram em nada.”<br />

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