UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - Biblioteca Digital ...

uma mera desculpa. A mulher ao cortar cabelos e ao usar roupas retas que omitiam as
suas curvas, perdia muito da sua feminilidade, ficava menos sensual à medida em que
se masculinizava, segundo os críticos.
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Cortei...e agora? Tenho pena; mas, que fazer? È a moda e não é de tua
conta!...
Ora muito bem!Si a moda, com o seu despotismo, mandar um absurdo,
impuzer mais ainda que a seminudez, que já impõe, que manche o pudor, que
periclite a honra de uma donzella?!Seguil-a-ão ainda cegamente?
Muitas moças, em nossos dias, e até algumas mais vitalinas, não usam mais
aquelles cabellos que lhes davam tanta graça, e que, outr’ora, eram objecto de
rimas poéticas e inspiravam os bardos e trovadores das noites enluaradas.
Hoje, desgraçadamente, ellas vão cortando os cabellos á balaclan, esta peste
da moda que se introduziu no Rio e que já campêa até pelos sertões.
E, contudo, acham isto o mais fino e chic ornamento da sociedade! 151 (grifos
nossos).
A imagem da mulher moderna era veiculada pela imprensa como a
representante dos novos tempos e freqüentemente a associava à figura da feminista, o
que deve ser visto com algumas ressalvas. O fato de cortar os cabelos, dirigir ou dançar
charleston, por exemplo, não fazia da mulher uma militante da igualdade de direitos, ao
mesmo tempo, aquela que se considerava feminista, não era necessariamente uma
adepta das novidades da moda. Talvez o que aproximasse uma representação da outra
seria o fato de que ambas fossem vistas pelos seus críticos como deturpadoras das
normas e costumes, responsáveis pela degradação da família e da sociedade.
Observamos pela imprensa que a moda refletia as transformações que a sociedade e
em especial as mulheres apresentavam nas primeiras décadas do século XX, e, por
isso fornecia elementos para a reafirmação de valores, crenças e costumes que
caracterizavam a representação idealizada da mulher, defendida arduamente pelos
149 (O) Pão de Santo Antonio – Diamantina, 06/07/1924.
150 União dos Moços – Belo Horizonte, 04/11/1927.
151 (O) Pão de Santo Antonio – Diamantina, 01/06/1924.