UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - Biblioteca Digital ...
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incapazes de ir além do espaço doméstico que lhes fora legado pela natureza. Estas<br />
conclusões são, no entanto contraditórias, pois, existiam naquele momento, mulheres<br />
que organizavam saraus e difundiam o espírito filosófico, a literatura e as ciências. 122<br />
Estes argumentos ganharam força ao longo do século XIX, adquirindo<br />
respaldo científico. Segundo a medicina social, a fragilidade, o recato, o predomínio das<br />
faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da sexualidade à vocação<br />
maternal, constituía-se em características biologicamente femininas. Em contraposição,<br />
os homens eram vistos como portadores de uma natureza autoritária e racional.<br />
Apoiados nesta corrente, Lombroso e Ferrero promoveram um estudo sobre a mulher<br />
criminosa e a prostituta 123 no qual buscaram analisá-las partindo das características<br />
consideradas biologicamente normais para as mulheres sem levar em consideração<br />
quaisquer razões sócio-culturais. Segundo estes médicos criminologistas a mulher<br />
normal era infantilizada, de fraca inteligência, possuía menor sensibilidade sexual, era<br />
mais frígida e passiva no ato sexual, adaptava-se facilmente à poligamia masculina.<br />
Eram mais resistentes ao sofrimento, mais piedosas e religiosas, mas eram mais<br />
irascíveis. Por serem muito frágeis tinham maior senso de justiça, porém o ciúme, a<br />
inveja, o sentimento de vingança eram maiores nelas do que nos homens. Entre as<br />
mulheres inexistia a lealdade e a amizade, não eram perseverantes e sim pacientes,<br />
eram dependentes e tinha na maternidade sua função preponderante. Aquelas dotadas<br />
de erotismo intenso e forte inteligência, eram despidas do sentimento de maternidade,<br />
121 SOIHET, Rachel.VIOLÊNCIA SIMBÓLICA: Saberes masculinos e representações femininas. In:<br />
Revista Estudos Feministas. Vol 5 n. 1/97: IFCS/UFRJ, 1997.<br />
122 Ibidem, p.9.<br />
123 LOMBROSO & FERRERO, La femme criminelle et a prostituée (Traduction de i’talien) 1896 apud<br />
SOIHET, Rachel. Condição feminina e formas de violência - mulheres pobres e ordem urbana 1890-1920.<br />
Rio de Janeiro, 1989, p.81-110.<br />
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