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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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audácia e talvez <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio, as idéias psicanalíticas foram aceitas como algo<br />

avançado, mo<strong>de</strong>rno. 4<br />

O impacto que a psicanálise provocou no meio artístico e literário, entre<br />

médicos e intelectuais <strong>de</strong>sta época, resultou numa conexão entre mo<strong>de</strong>rnistas e os<br />

psiquiatras que iniciavam a prática da psicanálise no Brasil. Pod<strong>em</strong>os citar como<br />

ex<strong>em</strong>plo a publicação, na revista Klaxon (nº 4, agosto <strong>de</strong> 1922), <strong>de</strong> um po<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

Durval Marcon<strong>de</strong>s, 5 na época estudante <strong>de</strong> medicina, que viria a ser um dos<br />

precursores da prática psicanalítica <strong>em</strong> nosso país. No mesmo número <strong>em</strong> que saiu<br />

publicado o po<strong>em</strong>a “Sinfonia <strong>em</strong> branco e preto”, artigos <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />

Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda e Charles Baudouin foram também publicados. Outro<br />

espaço <strong>de</strong>sta interface foi o Clube dos Artistas Mo<strong>de</strong>rnos, que abrigou a primeira<br />

exposição <strong>de</strong> artistas internos do Hospital do Juqueri, além <strong>de</strong> promover conferências<br />

<strong>de</strong> psicanálise. A Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise, fundada <strong>em</strong> 1927, contava entre<br />

os seus m<strong>em</strong>bros vários professores universitários, médicos como Raul Briquet e<br />

Osório César, 6 e intelectuais mo<strong>de</strong>rnistas como Menotti <strong>de</strong>l Picchia e Cândido Motta<br />

4 M. Perestrello, História da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise do Rio <strong>de</strong> Janeiro – Suas origens e<br />

Fundação, p. 32. Foi numa das revistas <strong>de</strong> “cunho mo<strong>de</strong>rnista”, A revista (v. 3, 1925), fundada por<br />

Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, que saiu publicada a primeira tradução brasileira <strong>de</strong> Freud, feita pelo<br />

psiquiatra mineiro Yago Pimentel; tratava-se das Cinco lições <strong>de</strong> psicanálise. O psiquiatra Osório<br />

César, estudioso da psicanálise, foi um dos colaboradores da Revista nova, uma publicação dos<br />

intelectuais que na década anterior haviam participado do movimento mo<strong>de</strong>rnista. Sob a direção <strong>de</strong><br />

<strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Paulo Prado e Antônio <strong>de</strong> Alcântara Machado, a Revista nova contabilizou 10<br />

números entre 1931 e 1932.<br />

5 Durval Marcon<strong>de</strong>s, psiquiatra que tomou conhecimento da psicanálise através dos trabalhos <strong>de</strong> Franco<br />

da Rocha, tornou-se um seu discípulo e, ao que tudo indica, foi o primeiro médico a praticar a<br />

psicanálise no Brasil. Com relação à publicação <strong>de</strong> “Sinfonia <strong>em</strong> branco e preto”, o valor do<br />

acontecimento resi<strong>de</strong> mais na evidência da conexão entre psicanálise e mo<strong>de</strong>rnismo do que no po<strong>em</strong>a<br />

<strong>em</strong> si, cuja qualida<strong>de</strong> parece duvidosa. Foi o único po<strong>em</strong>a publicado por Durval, que durante toda a<br />

vida cultivou o exercício poético. Em 1926, apresentou a tese “O simbolismo estético na literatura.<br />

Ensaio <strong>de</strong> uma orientação para a crítica literária baseada nos conhecimentos fornecidos pela psychoanálise”<br />

para um concurso para a disciplina <strong>de</strong> literatura no Ginásio do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Apesar <strong>de</strong><br />

não ter sido aprovado, a tese ren<strong>de</strong>u bons frutos, pois o jov<strong>em</strong> psiquiatra <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> enviá-la a Freud, que<br />

lhe respon<strong>de</strong> incentivando-o a prosseguir seus estudos psicanalíticos. Iniciou-se entre os dois uma<br />

correspondência que, <strong>em</strong>bora não tenha sido muito extensa, respaldou as primeiras iniciativas <strong>de</strong><br />

implantação da psicanálise no país. Durval Marcon<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>alizou e fundou a Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong><br />

Psicanálise (SBP) <strong>em</strong> 1927.<br />

6 O psiquiatra Osório César, foi uma presença fecunda nesta intersecção entre psicanálise e<br />

mo<strong>de</strong>rnismo. Mesmo não chegando a praticar a psicanálise, <strong>de</strong>senvolveu por ela um agudo interesse,<br />

lançando mão <strong>de</strong> muitos dos seus conceitos. Osório César, contratado pelo Hospital do Juqueri, foi o<br />

responsável pela introdução, nesta instituição, das artes plásticas como método terapêutico. Em 1929<br />

editou o livro A expressão artística nos alienados – Contribuição para o estudo dos símbolos na arte, e<br />

no início dos anos 30 estava casado com Tarsila do Amaral. Foi ela que ilustrou o livro publicado por<br />

ele <strong>em</strong> 1932, On<strong>de</strong> o proletariado dirige, após a viag<strong>em</strong> que juntos fizeram à URSS. Nesta mesma<br />

época, Osório escreve nos jornais <strong>de</strong> São Paulo, exercendo a função <strong>de</strong> crítico <strong>de</strong> arte. Durante algum<br />

t<strong>em</strong>po, Osório manteve correspondência com <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, com qu<strong>em</strong> tinha um diálogo<br />

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