Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
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Supraconsciente<br />
Em 1921, quando escreve o “Prefácio interessantíssimo” à Paulicéia<br />
<strong>de</strong>svairada, o <strong>Mário</strong> vanguardista, interessado nas experiências <strong>de</strong> renovação estética,<br />
estuda o papel do consciente e do inconsciente na elaboração do discurso poético. As<br />
pesquisas sobre o inconsciente, juntamente com os estudos acerca da imaginação, do<br />
mecanismo das <strong>em</strong>oções e do processo criador, inser<strong>em</strong>-se no conjunto das<br />
preocupações que visam uma compreensão <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as concernentes ao campo das<br />
artes.<br />
No referido Prefácio, <strong>Mário</strong> escreve, citando o psicólogo francês Théodule<br />
Ribot: “Ribot disse algures que inspiração é telegrama cifrado transmitido pela<br />
ativida<strong>de</strong> inconsciente à ativida<strong>de</strong> consciente que o traduz”. 304 Trata-se <strong>de</strong> uma<br />
citação do livro Essai sur l’imagination créatrice <strong>de</strong> Ribot, ao lado da qual anota o<br />
leitor: “‘Inspiração’ significa imaginação supraconsciente <strong>de</strong> que é apenas um caso<br />
particular, o mais eficiente. A imaginação consciente é a ré<strong>de</strong>a que pren<strong>de</strong> e<br />
aperfeiçoa”. 305 Como esclarece numa outra anotação marginal no mesmo livro,<br />
supraconsciente é como chama o subconsciente e como traduz o termo inconsciente,<br />
utilizado pelo psicólogo naquele contexto. Na mesma nota, aproxima e diferencia as<br />
manifestações inconscientes e “supraconscientes”: “a incerteza, a vacuida<strong>de</strong>, a<br />
liberda<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do próprio eu” implicam a s<strong>em</strong>elhança que há entre as duas, e,<br />
assim como os sonhos, “as inspirações fictícias, provocadas pelos tóxicos”, são<br />
manifestações inconscientes, e não supraconscientes. Em A escrava que não é Isaura,<br />
<strong>Mário</strong> volta à idéia <strong>de</strong> que é necessário traduzir o que v<strong>em</strong> do subconsciente: “O poeta<br />
traduz <strong>em</strong> línguas conhecidas o eu profundo”, tradução realizada através da<br />
inteligência. Na seqüência do texto esclarece, novamente tomando Ribot como<br />
referência, que o “eu profundo” não é regido por “nenhuma <strong>de</strong>terminação intelectual,<br />
que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> nós mesmos, é impessoal e estranho”. Em La psychologie <strong>de</strong>s<br />
sentiments, <strong>de</strong> 1896, Ribot <strong>de</strong>fine o inconsciente a partir <strong>de</strong> uma parte profunda e<br />
escondida, subconsciente, da consciência, diferenciando-a do conceito freudiano <strong>de</strong><br />
Unbewusst. Acredita o psicólogo que o inconsciente seria uma espécie <strong>de</strong> acumulador<br />
<strong>de</strong> energia para uso da consciência.<br />
304 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Poesias completas, p. 72.<br />
305 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> apud Nites T. Feres, Leituras <strong>em</strong> Francês <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, p. 61.<br />
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