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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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aproveitamento <strong>de</strong> certas inclinações e impulsos próprios a cada sujeito. Através da<br />

sublimação, diz-nos Freud, é possível aten<strong>de</strong>r às exigências do i<strong>de</strong>al do eu s<strong>em</strong><br />

envolver o processo <strong>de</strong> repressão. Em “Uma recordação infantil <strong>de</strong> Leonardo Da<br />

Vinci” (1910), Freud assinala a presença do mecanismo <strong>de</strong> repressão na compulsão<br />

neurótica do pensamento, on<strong>de</strong> se dá uma inibição neurótica do pensar e uma<br />

sexualização do próprio pensar. Num outro caso, o <strong>de</strong> Da Vinci, no qual também há o<br />

enlace do que Freud <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> pulsão <strong>de</strong> investigar com interesses sexuais, a<br />

libido escapa ao <strong>de</strong>stino da repressão, sublimando-se numa se<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong><br />

investigar.<br />

Num artigo intitulado “Do cabotinismo” (1939), <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> propõe-se<br />

a rever certos i<strong>de</strong>ais e noções abandonados por causa das <strong>de</strong>scobertas científicas.<br />

Refere-se às pesquisas da psicologia da época sobre a arte e o artista. “Hoje falamos<br />

<strong>em</strong> sublimação, <strong>em</strong> transferência e muitas outras palavras importantes e<br />

incontestavelmente valiosas”. 99 Afirma que tais pesquisas arrancaram do artista a sua<br />

aura <strong>de</strong> eleito dos <strong>de</strong>uses, a sua esbelteza romântica, transformando-o num<br />

“incapacitado vital, <strong>de</strong>vorado por fobias insones”. O autor preten<strong>de</strong> resgatar certa<br />

nobreza do trabalho do artista, recuperar-lhe a dignida<strong>de</strong>, não reduzindo seu trabalho a<br />

estas “razões intestinais da existência”: financeiras, sexuais, psicológicas. Cita os<br />

ensaios <strong>de</strong> Edgar A. Poe “Filosofia da composição”, e o <strong>de</strong> Arnold Bennet, “A<br />

verda<strong>de</strong> sobre um autor”, nos quais ambos revelam as razões que os levaram a<br />

escrever e produzir os seus trabalhos; no primeiro caso, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> criar beleza<br />

“aplaudível” e no segundo, a intenção <strong>de</strong> ganhar dinheiro e celebrida<strong>de</strong>. <strong>Mário</strong><br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que os motivos secretos, as pequenas vilanias e ambições que ele chama <strong>de</strong><br />

“causas tripas”, não são <strong>de</strong> modo algum as únicas razões n<strong>em</strong> as mais importantes na<br />

produção artística.<br />

Apenas, estes móveis, para o artista perfeito, para o artista completo, para o<br />

artista legítimo, serão s<strong>em</strong>pre forças subconscientes, sentimentos recalcados,<br />

noções e causas secretas enfim. É costume, agora, dizer<strong>em</strong> que por elas somos<br />

98 J. Lacan, A ética da psicanálise. O s<strong>em</strong>inário, livro VII, p. 138.<br />

99 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “Do cabotinismo”, O <strong>em</strong>palhador <strong>de</strong> passarinhos, p. 77. No artigo crítico “Cecília e<br />

a poesia” (16-07-39), <strong>Mário</strong>, enaltecendo a força criadora <strong>de</strong> C. Meirelles, cita aquele que consi<strong>de</strong>ra um<br />

<strong>de</strong> seus mais admiráveis po<strong>em</strong>as – “Eco” ( Flor <strong>de</strong> po<strong>em</strong>as , p.98) –, utilizando o termo sublimação para<br />

qualificar o gesto inventivo da poetisa: “Mas por outro lado, com uma escolha inventiva extraordinária,<br />

ela caracterizou o trágico da nossa insolubilida<strong>de</strong>, transpondo uma observação comezinha, sublimandoa<br />

numa síntese nova, e iluminando o seu valor <strong>de</strong> drama, por conservá-lo no mutismo trágico, no<br />

mistério <strong>de</strong>ssa alma irracional”. ( O <strong>em</strong>palhador <strong>de</strong> passarinhos, p. 73).<br />

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