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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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“<strong>de</strong>scabidas”, o crítico sublinha a todo momento a sua força lírica e beleza poética.<br />

Destaca o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> adjetivação, surgindo no texto inesperadamente expressões<br />

como: “harmonioso louvor”, “garboso test<strong>em</strong>unho”, “erudição <strong>de</strong>liciosa”, <strong>de</strong>ntre<br />

outras. Apresenta certas passagens do livro <strong>em</strong> que os anjos exaltam o Príncipe do<br />

fogo, mas também esta <strong>em</strong> que o Príncipe se entrega “às malícias da autopunição [<strong>em</strong>]<br />

passo dramático”:<br />

não sou eu, oh flor do mal, o Senhor dos mundos: este Trono não é meu, este<br />

arco-íris não me pertence, o jaspe não vê, a sardonia não t<strong>em</strong> olhos, estas<br />

vozes não são minhas, estes relâmpagos não são meus, estes trovões não são<br />

meu po<strong>de</strong>r, estes espíritos não me quer<strong>em</strong>, este mar não me vê, estas criaturas<br />

viventes não me conhec<strong>em</strong>, estes anciões não são meus servos, a terra não é<br />

minha, o céu não me foi dado, o Livro Selado não é minha herança, os anjos<br />

faz<strong>em</strong> o que outro or<strong>de</strong>na, as trombetas tocam s<strong>em</strong> o meu bramido, as pragas<br />

não são enviadas por mim, o incenso das salvas não é meu, o Santuário fecha<br />

s<strong>em</strong> eu entrar, eu não sou o Santo Criador! 288<br />

Segue o comentário <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>:<br />

Consi<strong>de</strong>ro trechos, como estes citados, verda<strong>de</strong>iramente notáveis, uma<br />

exaltação mística vibrante, uma eloqüência sentida, criadora <strong>de</strong> ótimos ritmos<br />

e sonorida<strong>de</strong>s, uma imaginação mirífica on<strong>de</strong> se misturam práticas, ritos <strong>de</strong><br />

várias religiões (o espiritismo também não é esquecido), produzindo<br />

combinações novas, imagens esplêndidas, um sentido muitas vezes inédito <strong>de</strong><br />

adjetivação. 289<br />

Afirma ainda que o texto “evoca por momentos a eloqüência apocalíptica <strong>de</strong> São<br />

João, e noutros, pelo inesperado sonhador das visões, l<strong>em</strong>bra Lautréamont”. 290 Pô<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>duzir no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua leitura <strong>de</strong> As revelações do príncipe do fogo que o Santo<br />

Tabernáculo é Deus Pai, e o filho do fogo, que escreve, é Jesus, “numa fácil imitação<br />

do dualismo Deus-Padre e Deus-Filho”.<br />

Após uma introdução, o príncipe do fogo se dirige, no curso do livro, à terra,<br />

ao espaço, ao mar, aos vegetais, aos animais, nuvens, ilhas, enfim, à toda a criação,<br />

<strong>de</strong>rramando todo o seu po<strong>de</strong>r e benevolência. Cria Adão e Eva e os absolve do<br />

pecado. Deixa claro que não criou Adão “para exercer sobre ele a fortaleza divina da<br />

sua santida<strong>de</strong>”, mas para que fosse <strong>de</strong>le “simples amiguinho”, “irmão <strong>em</strong> inocência”,<br />

288 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, op. cit., 1939. A citação está na p. 19 do livro <strong>de</strong> Febrônio, com anotação <strong>de</strong> <strong>Mário</strong><br />

à marg<strong>em</strong>.<br />

289 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, op. cit., 1939.<br />

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