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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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prazer oral apoiar-se-ia sobre a função <strong>de</strong> nutrição. O conflito subjacente às neuroses<br />

traduzir-se-ia <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> oposição entre as pulsões <strong>de</strong> auto-conservação e as<br />

pulsões sexuais.<br />

A concepção freudiana <strong>de</strong> uma dualida<strong>de</strong> pulsional não será abandonada <strong>em</strong><br />

nenhum momento <strong>de</strong> sua obra, ainda que <strong>em</strong> diferentes momentos seja repensada e<br />

reformulada 130 . A partir do estudo da paranóia, no artigo “Introdução ao narcisismo”<br />

(1914), o psicanalista será levado a formular a hipótese <strong>de</strong> uma libido narcisista<br />

investindo o próprio eu.<br />

Era preciso ver no eu um gran<strong>de</strong> reservatório <strong>de</strong> libido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o qual esta<br />

última era enviada aos objetos, e que s<strong>em</strong>pre está disposto a acolher a<br />

libido que reflui dos objetos. Portanto, também as pulsões <strong>de</strong> autoconservação<br />

eram <strong>de</strong> natureza libidinal; eram pulsões sexuais que<br />

haviam tomado como objeto o próprio eu <strong>em</strong> vez dos objetos<br />

externos 131 .<br />

Tornara-se necessário modificar a proposição anterior; <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> falar <strong>em</strong> pulsões do<br />

eu x pulsões sexuais, seria melhor falar no conflito entre libido do eu (narcísica) e<br />

libido <strong>de</strong> objeto, pois a natureza das pulsões era a mesma. Para Freud haveria uma<br />

espécie <strong>de</strong> equilíbrio energético entre estes dois modos <strong>de</strong> investimento libidinal – à<br />

medida <strong>em</strong> que há um aumento da libido objetal, a libido do eu diminui e vice-versa.<br />

A partir <strong>de</strong>sta nova concepção, po<strong>de</strong>rá dar conta, além da paranóia, <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o que<br />

se passa na melancolia, na hipocondria, enfim, dos <strong>de</strong>slocamentos da libido entre o eu<br />

e o objeto. Pod<strong>em</strong>os dizer que frente às novas reflexões acerca da existência <strong>de</strong> uma<br />

libido do eu, implicando uma unificação da mesma, introduzidas no artigo sobre o<br />

130 Apesar <strong>de</strong> atribuir a introdução do termo libido, na psicanálise, a Albert Moll, o próprio Freud já o<br />

havia utilizado <strong>em</strong> seu primeiro trabalho sobre a neurose <strong>de</strong> angústia (1895). Não existe uma <strong>de</strong>finição<br />

unívoca <strong>de</strong> libido, pois ela se <strong>de</strong>senvolveu vinculada às modificações sofridas na teoria das pulsões.<br />

Porém, duas características originais mantiveram-se: primeiramente, ela t<strong>em</strong> um caráter quantitativo,<br />

isto é, “po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> medida do processo e das transformações que ocorr<strong>em</strong> no campo da excitação<br />

sexual (...) e cuja produção, aumento ou diminuição, distribuição e <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong>v<strong>em</strong> propiciar-nos<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> explicar os fenômenos psicossexuais observados” (“Tres ensaios <strong>de</strong> teoria sexual”,<br />

op. cit., p. 198). Em segundo lugar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista qualitativo, a libido diferencia-se <strong>de</strong> uma<br />

energia psíquica geral, pois a libido é expressão da pulsão sexual. Esta questão tornou-se o centro <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>bate entre Freud e Jung. Jung esvazia a libido <strong>de</strong> seu caráter sexual, confundindo-a com o<br />

interesse psíquico <strong>em</strong> geral. A expressão interesse psíquico aparece com freqüência na 26 a Conferência<br />

<strong>de</strong> introdução à psicanálise, intitulada A teoria da libido e o narcisismo. Freud utiliza o termo para<br />

distinguir as pulsões <strong>de</strong> auto-conservação da libido, ou seja, da pulsão sexual. Diferencia, assim, uma<br />

libido do eu do interesse do eu. A dualida<strong>de</strong> pulsional manteve-se na teoria freudiana, contrapondo-se à<br />

concepção <strong>de</strong> uma energia psíquica única, como propôs Jung.<br />

131 S. Freud, “Teoria <strong>de</strong> la libido”, Obras Completas, vol. XVIII, p.252.<br />

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