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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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traduzir a vida”. Porém, acha abusivas as digressões do autor e enten<strong>de</strong> que com<br />

Freud ou s<strong>em</strong> ele as coisas seriam do mesmo jeito, i. é, ele “não modificou nosso<br />

mecanismo psicológico; o que modificou <strong>em</strong> alguns pontos foi o conhecimento que<br />

tínhamos <strong>de</strong>le”. 16 Segundo o crítico, a influência <strong>de</strong> Freud sobre o romancista não<br />

chega a comprometer o livro, a torná-lo um “livro <strong>de</strong> gabinete”, pois a referida obra<br />

<strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, alcança “uma vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> qualquer teoria científica”.<br />

Alvo das críticas, o autor resolve falar, e para tanto escreve “A propósito <strong>de</strong> ‘Amar<br />

verbo intransitivo’ – Uma carta <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>”, utilizando o mesmo veículo<br />

que os críticos: o jornal. Lamenta que estes tenham acentuado o freudismo do livro,<br />

coisa que ele mesmo já tinha feito <strong>de</strong>ntro da própria obra. Reafirma seu “jogo<br />

estético”, não compreendido pelas “melhores penas da crítica literária”, <strong>de</strong><br />

“transformar <strong>em</strong> lirismo dramático a máquina fria <strong>de</strong> um racionalismo científico”.<br />

Não enten<strong>de</strong>ram, também, a sátira produzida pelo autor, en<strong>de</strong>reçada “para todos os<br />

filhos do t<strong>em</strong>po”, ou seja, da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, que pa<strong>de</strong>c<strong>em</strong> da “profun<strong>de</strong>za e agu<strong>de</strong>za <strong>de</strong><br />

análise psicológica” dos dias atuais:<br />

aqueles que estão magnetizados pelo ‘sentimento trágico da vida’ e perceb<strong>em</strong><br />

forças exteriores, aqueles que estão representados pelo fatalismo mecânico<br />

maquinal do indivíduo mo<strong>de</strong>rno, tal como Charles Chaplin o realiza; aqueles<br />

que atravessaram o escalpelo <strong>de</strong> Freud e se sujeitaram a essa forma dubitativa<br />

<strong>de</strong> auto-análise <strong>de</strong> Proust; aqueles que por tanta fineza, tanta sutileza, tanta<br />

infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reações psicológicas contraditórias não consegu<strong>em</strong> mais<br />

perceber a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> si mesmos. 17<br />

Mesmo d<strong>em</strong>arcando, sarcasticamente, diretrizes para uma leitura crítica <strong>de</strong><br />

Amar, verbo intransitivo, numa das cartas a Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> 18 , <strong>de</strong><br />

alguma maneira, <strong>Mário</strong> se sentiu afetado pelas críticas, pois fez modificações no<br />

romance para a segunda edição, amenizando um pouco o tal excesso <strong>de</strong> freudismo.<br />

16 Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes Neto, “Uma questão <strong>de</strong> gramática: Amar verbo intransitivo”, O jornal, Arquivo<br />

<strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, IEB – USP. Não é nosso intuito, neste momento, discutir as idéias que <strong>em</strong>basam a<br />

crítica, mas é tentador assinalar a concepção <strong>de</strong> um psiquismo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, alheio à história e aos<br />

acontecimentos que nela ocorr<strong>em</strong>. A psicanálise freudiana foi possível numa <strong>de</strong>terminada época, b<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>scrita a seguir por <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, e que Freud analisou com argúcia e percepção. Mas Freud<br />

também inventou uma forma única <strong>de</strong> laço social, que não existiu antes <strong>de</strong>le – o discurso analítico, que<br />

alterou significativamente o modo pelo qual o sujeito pensa a si mesmo.<br />

17 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “A propósito <strong>de</strong> ‘Amar verbo intransitivo”, 04-12-1927. Arquivo <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />

IEB – USP.<br />

18 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, A lição do amigo, Cartas <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> a Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, p.<br />

104-05.<br />

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