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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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como aquela intitulada “Brasília”, <strong>de</strong> um pedantismo insuportável. Outras<br />

(“Cocoricocó”, “Eva”) po<strong>de</strong>riam figurar nos volumes do Sr. Júlio Dantas s<strong>em</strong><br />

provocar estranheza no espírito do leitor. O primeiro conto do livro – “Conto <strong>de</strong><br />

Natal”- é também muito ruim e chega a acanhar a gente: imagine-se Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo <strong>em</strong> pessoa incomodado com o que faz a socieda<strong>de</strong> paulista e armando um<br />

rolo, um sarilho tr<strong>em</strong>endo, ao fim <strong>de</strong> um baile no Trianon...<br />

Em compensação, encontramos no livro aquela boa “Caçada <strong>de</strong> Macuco”, <strong>de</strong><br />

que já se falou acima, o “Caso Pansudo”, também excelente e, mais para o fim, “A<br />

História com Data”, que é interessante, a “Moral Cotidiana” e “O Besouro e a Rosa”,<br />

magníficos. O volume vale, sobretudo, pela idéia que nos dá da formação da<br />

personalida<strong>de</strong> literária do Sr. <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>: principiando com um aspecto <strong>de</strong><br />

todo mundo e chegando a este feitio acusado, inconfundível <strong>de</strong> hoje.<br />

<strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>: “Amar, Verbo Intransitivo”. Casa editora Antônio Tisi. – São<br />

Paulo – 1927.<br />

Não há mais espaço aqui para uma análise <strong>de</strong>scente do primeiro romance do<br />

Sr. <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, que é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a primeira tentativa verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />

romance mo<strong>de</strong>rnista no Brasil.<br />

Diga-se, contudo, que “Amar, Verbo Intransitivo” po<strong>de</strong>ria ser um idílio<br />

admirável se não foss<strong>em</strong> dois erros graves <strong>em</strong> que incorreu o Sr. <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. O<br />

primeiro foi o <strong>em</strong>prenho excessivo <strong>de</strong> fazer mo<strong>de</strong>rnismo, que o induziu a estar a todo<br />

instante interrompendo o caso do apostolado da Fraulein no meio dos Souza Costa,<br />

para contar histórias e fazer digressões freqüent<strong>em</strong>ente ociosas. O segundo foi ter se<br />

preocupado um pouco d<strong>em</strong>ais com a teoria <strong>de</strong> Freud, a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar no leitor a<br />

impressão aborrecida <strong>de</strong> que o romancista corria o olho nas lições do professor <strong>de</strong><br />

Viena antes <strong>de</strong> mover <strong>em</strong> qualquer sentido com as suas personagens. Está claro que o<br />

Sr. <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> não iria escrever um livro para divulgar as <strong>de</strong>scobertas da<br />

psicanálise, n<strong>em</strong> explorar uma literatura freudiana, assim como Zola manobrou nos<br />

Rougon com os achados da ciência médica <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po. Mas há vários trechos do<br />

seu romance (como aquele do período da amamentação do Carlos) que <strong>de</strong>ixam a gente<br />

<strong>de</strong>sconfiado do autor e das suas intenções.<br />

Se o Sr. <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> tivesse se <strong>de</strong>spreocupado <strong>de</strong> suas numerosas idéias<br />

e se se tivesse esquecido um pouco <strong>de</strong> si mesmo, <strong>de</strong> Freud e do mundo <strong>de</strong> coisas que<br />

sabe e que pensa, para escrever a história <strong>de</strong> Fraulein, com toda certeza “Amar, Verbo<br />

Intransitivo”seria um livro muito melhor. O seu talento admirável <strong>de</strong> contador, a sua<br />

imaginação <strong>de</strong> uma frescura surpreen<strong>de</strong>nte, o sentido profundo que ele possui dos<br />

t<strong>em</strong>pos todos daquele “verbo intransitivo” fariam <strong>de</strong> seu romance a obra boa e<br />

duradoura que se po<strong>de</strong> adivinhar, à leitura <strong>de</strong> muitas passagens do volume recente,<br />

como as das cenas da música <strong>de</strong> câmera entre os patrícios <strong>de</strong> Fraulein, da conversa no<br />

jardim com Carlos, do automóvel no corso do carnaval, etc. Essas cenas são <strong>de</strong><br />

agu<strong>de</strong>za psicológica tão gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho e <strong>de</strong> um colorido tão admiráveis, que<br />

se chega a ficar querendo mal ao Sr. <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> por ter comprometido a<br />

impressão <strong>de</strong>liciosa que <strong>de</strong>ixam na gente à força <strong>de</strong> uma porção <strong>de</strong> conversa fiada.<br />

xx

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