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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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eprodução, conservando assim todos os seus po<strong>de</strong>res. Apresenta-a como <strong>de</strong>sprovida<br />

<strong>de</strong> aparelho sensorial, guiando-se sobre o puro real. Sendo assim, “ela teria vantagens<br />

sobre nós, homens, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre nos prover <strong>de</strong> um homúnculo <strong>em</strong> nossa<br />

cabeça, para fazer do mesmo real uma realida<strong>de</strong>” 192 .<br />

Lacan passará a chamá-la <strong>de</strong> Lamelle 193 , cujo mito t<strong>em</strong> a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

“<strong>de</strong>signar a libido não como um campo <strong>de</strong> forças, mas como um órgão” 194 . A Lamelle<br />

é, então, um órgão por ser instrumento do organismo. Organismo cujo limite vai mais<br />

além do corpo, não é equiparável ao corpo e por isso é <strong>de</strong>signada como “órgão do<br />

incorporal” 195 . Esse limite que vai além do corpo, Lacan o ilustra com um ex<strong>em</strong>plo da<br />

etologia, pela queda súbita do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> intimidação do animal que vai até ao limite<br />

circunscrito <strong>de</strong> seu território.<br />

Outra característica da libido é a <strong>de</strong> ser um órgão irreal, “no sentido <strong>em</strong> que o<br />

irreal não é o imaginário e prece<strong>de</strong> o subjetivo que condiciona, por estar <strong>em</strong> contato<br />

direto com o real” 196 . No S<strong>em</strong>inário XI, ele acrescenta que dizer irreal é apontar para<br />

uma relação com o real que nos escapa, e por isto mesmo sua representação t<strong>em</strong> que<br />

ser mítica, traduzindo um esforço para lhe dar uma articulação simbólica. Este órgão<br />

irreal po<strong>de</strong> encarnar-se no corpo, através da tatuag<strong>em</strong>. A escarificação funciona como<br />

marca que situa o sujeito <strong>em</strong> suas relações <strong>de</strong> grupo, está aí para o Outro, além <strong>de</strong> ter<br />

uma função erótica evi<strong>de</strong>nte.<br />

Ao ser apresentada como mortífera, como esse “puro instinto <strong>de</strong> vida”,<br />

guiando-se sobre o real, a libido aparece <strong>em</strong> sua relação essencial com a pulsão <strong>de</strong><br />

morte, articulando o sujeito com o objeto a, perdido. Quando entra na questão do<br />

sujeito e sua perda, Lacan apresenta a libido como princípio, matriz dos objetos<br />

perdidos. Destes objetos, dirá que são equivalentes, representantes da libido. São<br />

quatro os objetos a: o seio, o excr<strong>em</strong>ento, o olhar e a voz.<br />

Ao distinguir o corpo do organismo como libidinal, foi possível situar esses<br />

objetos que faltam ao corpo e que estão submetidos à ativida<strong>de</strong> da pulsão, que<br />

trabalha s<strong>em</strong> cessar para restaurar a perda sofrida pelo sujeito. A ativida<strong>de</strong> da pulsão<br />

consiste <strong>em</strong> ro<strong>de</strong>ar estes objetos, “para neles restaurar sua perda original” 197 . Lacan é<br />

192 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>.<br />

193 Em Francês, diminutivo <strong>de</strong> lame, lâmina <strong>em</strong> Português. Foi traduzido, nos Escritos, como lamínula,<br />

mas optei por manter o termo original, lamelle.<br />

194 Id<strong>em</strong>, O S<strong>em</strong>inário. Livro XI, p.195.<br />

195 Id<strong>em</strong>, Posição do inconsciente, p.333.<br />

196 Id<strong>em</strong>, p.332.<br />

197 Id<strong>em</strong>, p.333.<br />

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