Março de 2011 - Vol 18 numero 1 - Sociedade Portuguesa de ...
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Suporte <strong>de</strong> vida pediátrico 8<br />
53<br />
Tradicionalmente têm sido utilizados tubos sem cuff em crianças<br />
até aos 8 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. No entanto, a utilização <strong>de</strong> tubos<br />
com cuff po<strong>de</strong> ter vantagens em algumas circunstâncias, p. ex.<br />
quando a compliance pulmonar está reduzida, a resistência<br />
da via aérea é elevada ou se há gran<strong>de</strong> fuga <strong>de</strong> ar através da<br />
glote 483, 490, 491 . Ao usar um tubo com cuff também se aumenta<br />
a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher o tubo <strong>de</strong> diâmetro a<strong>de</strong>quado na<br />
primeira tentativa 483, 484, 492 . A pressão <strong>de</strong> insuflação do cuff <strong>de</strong>ve<br />
ser monitorizada e mantida abaixo <strong>de</strong> 25 cm H 2<br />
O, dado que<br />
uma pressão excessiva po<strong>de</strong> causar lesão isquémica dos tecidos<br />
laríngeos e susbsequente estenose 493 .<br />
A <strong>de</strong>slocação, colocação incorrecta e obstrução <strong>de</strong> tubos traqueais<br />
ocorrem com frequência em crianças entubadas e associam-se<br />
a aumento do risco <strong>de</strong> morte 281, 494 . Não existe nenhuma<br />
técnica que seja 100% eficaz na distinção entre localização<br />
esofágica ou traqueal <strong>de</strong> um tubo 495-497 . A avaliação da posição<br />
correcta <strong>de</strong> um TET faz-se por:<br />
• laringoscopia com observação do TET colocado para além<br />
das cordas vocais;<br />
• <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> CO 2<br />
no final da expiração em crianças com<br />
circulação eficaz (po<strong>de</strong> também ser <strong>de</strong>tectado durante RCP<br />
eficaz, mas não é completamente fiável);<br />
• observação <strong>de</strong> expansão torácica simétrica durante ventilação<br />
com pressão positiva;<br />
• observação <strong>de</strong> embaciamento do tubo durante a expiração;<br />
• ausência <strong>de</strong> distensão gástrica;<br />
• auscultação <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> ar bilateral e simétrica nas axilas<br />
e vértices do tórax;<br />
• ausência <strong>de</strong> ruído <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> ar no estômago à auscultação;<br />
• melhoria ou estabilização da SpO 2<br />
consoante quadro clínico<br />
(sinal diferido!);<br />
• melhoria ou manutenção da frequência cardíaca <strong>de</strong>ntro dos<br />
valores normais para a ida<strong>de</strong> (sinal diferido!).<br />
Numa criança em paragem cardio-respiratória em quem não se<br />
<strong>de</strong>tecta CO 2<br />
expirado, ou se há dúvidas na sua <strong>de</strong>tecção, apesar<br />
<strong>de</strong> compressões torácicas a<strong>de</strong>quadas, <strong>de</strong>ve confirmar-se o<br />
posicionamento do TET por laringoscopia directa.<br />
Ventilação<br />
Administrar oxigénio na mais alta concentração possível (i.e.,<br />
100%) durante a reanimação inicial. Depois do restabelecimento da<br />
circulação, administrar oxigénio em débito suficiente para manter a<br />
saturação arterial <strong>de</strong> oxigénio (SaO 2<br />
) entre 94 e 98% 498, 499 .<br />
Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> frequentemente hiperventilam as crianças<br />
durante a RCP, o que po<strong>de</strong> ser prejudicial. A hiperventilação<br />
aumenta a pressão intra-torácica, diminui a perfusão coronária e<br />
cerebral e agrava as taxas <strong>de</strong> sobrevivência (em estudos animais<br />
e em adultos) 224, 225, 286, 500-503 . Apesar <strong>de</strong> a normoventilação ser<br />
o objectivo durante a reanimação, é difícil contabilizar o volume<br />
minuto exacto que se está a administrar. Um método simples <strong>de</strong><br />
administrar um volume corrente aceitável é através da visualização<br />
<strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>sta expansão torácica. Após protecção da via<br />
aérea por entubação traqueal, continuar ventilação com pressão<br />
positiva a 10-12 ciclos min -1 sem interromper as compressões<br />
torácicas. Após restabelecimento da circulação, ou se a criança<br />
mantém circulação eficaz, ventilar com frequência <strong>de</strong> 12 a 20 ciclos<br />
min -1 <strong>de</strong> modo a atingir valores normais <strong>de</strong> PaCO 2<br />
.<br />
A monitorização do CO 2<br />
no final da expiração (ETCO 2<br />
), por<br />
capnómetro ou <strong>de</strong>tector colorimétrico, permite confirmar o posicionamento<br />
do TET em crianças com peso superior a 2 kg e<br />
po<strong>de</strong> ser usada em ambientes pré-hospitalar e hospitalar, bem<br />
como durante o transporte da criança 504-507 . Uma mudança <strong>de</strong><br />
cor ou a presença <strong>de</strong> uma curva capnográfica a<strong>de</strong>quada durante<br />
mais <strong>de</strong> quatro ventilações, indica posicionamento do tubo na<br />
árvore traqueobrônquica, quer na presença <strong>de</strong> circulação eficaz<br />
quer durante a reanimação numa paragem cardio-respiratória.<br />
A capnografia não permite excluir entubação <strong>de</strong> um brônquio.<br />
Por outro lado, a ausência <strong>de</strong> CO 2<br />
expirado durante uma paragem<br />
cardio-respiratória não implica má colocação do tubo, visto<br />
que um CO 2<br />
baixo ou não <strong>de</strong>tectável po<strong>de</strong> reflectir ausência ou<br />
diminuição <strong>de</strong> fluxo sanguíneo pulmonar 235, 508-510 . A capnografia<br />
po<strong>de</strong> ainda dar informação sobre a eficácia <strong>de</strong> compressões torácicas<br />
e ser um indicador precoce <strong>de</strong> restabelecimento <strong>de</strong> circulação<br />
espontânea 511, 512 . Se os valores <strong>de</strong> ETCO 2<br />
se mantêm<br />
abaixo <strong>de</strong> 15 mmHg (2 kPa) <strong>de</strong>ve ser melhorada a qualida<strong>de</strong><br />
das compressões torácicas. Não existe actualmente evidência<br />
que apoie o uso <strong>de</strong> um limiar <strong>de</strong> ETCO 2<br />
como indicador para a<br />
suspensão <strong>de</strong> manobras <strong>de</strong> reanimação.<br />
Os aparelhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção esofágica (ODD), como o balão auto-insuflável<br />
ou seringa <strong>de</strong> aspiração po<strong>de</strong>m ser usados para confirmação<br />
secundária do posicionamento do TET em crianças com circulação<br />
eficaz 513, 514 . Não existem estudos sobre a utilização <strong>de</strong>stes aparelhos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção em crianças em contexto <strong>de</strong> paragem cardio-respiratória.<br />
A avaliação clínica da saturação arterial <strong>de</strong> oxigénio (SaO 2<br />
) não<br />
é fiável; <strong>de</strong>ve portanto ser monitorizada continuamente a SpO 2<br />
com oximetria <strong>de</strong> pulso.<br />
Circulação<br />
• Iniciar monitorização cardio-vascular [primeira linha –<br />
oximetria <strong>de</strong> pulso (SpO2), ECG e pressão arterial não-<br />
-invasiva (NIBP)].<br />
• Garantir acesso vascular, por via intra-óssea (IO) ou intra-<br />
-venosa (IV) periférica. Se já estiver colocado, <strong>de</strong>ve usar-se<br />
catéter venoso central.<br />
• Administrar bólus <strong>de</strong> fluidos (20 ml kg -1 ) e/ou fármacos (p.<br />
ex., inotrópicos, vasopressores, anti-arrítmicos) consoante<br />
indicado.<br />
• Os cristalói<strong>de</strong>s isotónicos são recomendados para a reanimação<br />
inicial em lactentes e crianças em todos os tipos <strong>de</strong><br />
choque, incluindo o choque séptico 515-5<strong>18</strong> .<br />
• Avaliar e reavaliar a criança continuamente, recomeçando<br />
pela via aérea antes <strong>de</strong> abordar a ventilação e a circulação.