Março de 2011 - Vol 18 numero 1 - Sociedade Portuguesa de ...
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Paragem cardíaca em situações especiais: alterações electrolíticas, envenenamentos, afogamento, hipotermia<br />
aci<strong>de</strong>ntal, hipertermia, asma, anafilaxia, cirurgia cardíaca, trauma, gravi<strong>de</strong>z, electrocussão 10<br />
69<br />
<strong>de</strong>vem ter por objectivo obter uma pressão arterial sistólica <strong>de</strong><br />
pelo menos 80mmHg e frequência <strong>de</strong> 100 min -1 .<br />
Desfibrilhação<br />
Neste contexto há risco <strong>de</strong> disjunção esternal ou lesão miocárdica<br />
causadas pelas compressões torácicas externas. 634-637 No<br />
pós-operatório da cirurgia cardíaca a presença <strong>de</strong> FV/TV em<br />
doentes monitorizados é indicação para aplicar, <strong>de</strong> imediato,<br />
três choques seguidos (se necessários)<br />
No pós operatório precoce <strong>de</strong> cirurgia cardíaca, a falência da<br />
série <strong>de</strong> três choques, <strong>de</strong>ve activar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re-esternotomia.<br />
As <strong>de</strong>sfibrilhações seguintes <strong>de</strong>vem seguir o algoritmo<br />
universal e se a re-esternotomia foi executada, <strong>de</strong>vem ser feitas<br />
com as pás internas e o <strong>de</strong>sfibrilhador carregado a 20J.<br />
Fármacos <strong>de</strong> emergência<br />
A adrenalina <strong>de</strong>ve ser utilizada com cautela e titulada em função<br />
da resposta (no adulto, 100 ou menos microgramas ev). Administrar<br />
amiodarona 300 mg ev directa se <strong>de</strong>pois do 3º choque<br />
não <strong>de</strong>sfibrilhar, mas nunca atrasar a re-esternotomia.<br />
Re-esternotomia <strong>de</strong> emergência<br />
É parte integrante da reanimação pós-cirurgia cardíaca, se as<br />
restantes causas reversíveis <strong>de</strong> PCR tiverem sido excluídas. Na<br />
FV/TV, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> assegurada a via aérea e a ventilação e se <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> aplicados três choques em sequência não <strong>de</strong>sfibrilhar,<br />
há indicação para re-esternotomia sem <strong>de</strong>mora. Na assistolia e<br />
AEsP também há indicação para re-esternotomia se as restantes<br />
intervenções falharem.<br />
Desfibrilhação interna<br />
A <strong>de</strong>sfibrilhação interna com pás aplicadas directamente nos ventrículos,<br />
requer menos energia do que a <strong>de</strong>sfibrilhação externa. Utilizar<br />
20J, 5J se o doente esteve em circulação extra-corporal (CEC).<br />
Manter as compressões cardíacas, enquanto o <strong>de</strong>sfibrilhador carrega,<br />
utilizando pás internas e se o choque for aplicado na fase <strong>de</strong><br />
638, 639<br />
<strong>de</strong>scompressão a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sucesso aumenta.<br />
[h2] PCR traumática<br />
A PCR traumática tem uma mortalida<strong>de</strong> elevadíssima, com sobrevida<br />
global <strong>de</strong> 5,6% (0-17%) 640-646 Por razões não esclarecidas<br />
as taxas <strong>de</strong> sucesso actuais são melhores do que as <strong>de</strong>scritas<br />
no passado. Naqueles em quem foi tentada a reanimação<br />
por PCR traumática e sobreviveram o resultado neurológico é<br />
bom em 1,6% dos casos.<br />
Commotio cordis<br />
Commotio cordis é a PCR ou quase PCR provocada por trauma<br />
fechado do précordio. 647-651 O impacto no tórax na fase vulnerável<br />
do ciclo cardíaco po<strong>de</strong> provocar arritmia maligna (geralmente<br />
FV). Ocorre principalmente em <strong>de</strong>sportistas (mais frequente<br />
no “baseball”) e em activida<strong>de</strong>s recreativas, sendo as vítimas<br />
geralmente jovens (ida<strong>de</strong> média 14 anos). A sobrevida média<br />
do commotio cordis é <strong>de</strong> 15%, mas se a reanimação correcta se<br />
iniciar nos primeiros 3min, chega aos 25%. 651<br />
Sinais <strong>de</strong> vida e activida<strong>de</strong> eléctrica no ECG<br />
inicial<br />
Não há indicadores <strong>de</strong> sobrevida fiáveis na PCR traumática. Há<br />
um estudo que <strong>de</strong>screve a presença <strong>de</strong> pupilas reactivas e ritmo<br />
sinusal com boa correlação com a sobrevida. 652 Noutro estudo<br />
<strong>de</strong> trauma penetrante a presença <strong>de</strong> pupilas reactivas, activida<strong>de</strong><br />
respiratória e ritmo sinusal correlacionaram-se com a sobrevida<br />
<strong>de</strong> forma não significativa. 646 Há três estudos que relatam a<br />
ausência <strong>de</strong> sobreviventes em doentes com assistolia ou ritmos<br />
agónicos. 642, 646, 653 Um outro relata a ausência <strong>de</strong> sobreviventes<br />
na AEsP por trauma fechado. 654 Com base nestes estudos o<br />
American College of Surgeons e a National Association <strong>de</strong> médicos<br />
dos SEM elaboraram recomendações para não iniciar a<br />
reanimação em contexto pré-hospitalar. 655<br />
Tratamento<br />
A sobrevivência <strong>de</strong> PCR traumática correlaciona-se com o tempo<br />
<strong>de</strong> reanimação pré-hospitalar. 644, 656-660 No local, estabelecer<br />
apenas as intervenções essenciais e se a vítima tem sinais <strong>de</strong><br />
vida, transferi-la rapidamente para o hospital mais próximo. Em<br />
doentes com indicação, consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toracotomia<br />
no local. 661, 662 Não atrasar a transferência por causa <strong>de</strong><br />
intervenções <strong>de</strong> eficácia não provada como a imobilização da<br />
coluna. 663 Tratar as situações reversíveis: hipoxémica (oxigenação<br />
e ventilação), hemorragias acessíveis (compressão digital,<br />
torniquetes e fármacos hemostáticos), hemorragias não compressíveis<br />
(enfaixamento, fluidos ev), pneumotórax hipertensivo<br />
(<strong>de</strong>scompressão torácica) tamponamento cardíaco (toracotomia<br />
imediata). Na PCR por hipovolémia as compressões torácicas<br />
po<strong>de</strong>m não ser eficazes, mas a maioria dos sobreviventes<br />
não tem hipovolémia e neste subgrupo <strong>de</strong> doentes a reanimação<br />
pelo algoritmo <strong>de</strong> SAV po<strong>de</strong> salvar vidas. A reanimação não<br />
<strong>de</strong>ve atrasar o tratamento das causas potencialmente reversíveis<br />
(e.g., toracotomia no tamponamento cardíaco).