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as_virgens_suicidas__jeffrey_eugenides

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dourad<strong>as</strong>, que podia ter pertencido a qualquer uma d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> ou a qualquer menina no<br />

mundo. O fato de um dia termos sido íntimos o suciente para reconhecer o aroma dos<br />

xampus de cada uma del<strong>as</strong> (de um jardim de erv<strong>as</strong> aromátic<strong>as</strong> ao capim-limão, p<strong>as</strong>sando por<br />

um bosque de maçãs-verdes) começou a se tornar cada vez mais irreal.<br />

Por quanto tempo conseguiríamos permanecer éis às menin<strong>as</strong>? Por quanto tempo<br />

conseguiríamos manter pura a sua memória? De certo modo não <strong>as</strong> conhecíamos mais, e seus<br />

novos hábitos — abrir uma janela, por exemplo, para atirar uma toalha de papel am<strong>as</strong>sada —<br />

faziam com que nos perguntássemos se um dia <strong>as</strong> tínhamos realmente conhecido, ou se nossa<br />

vigilância não tinha p<strong>as</strong>sado de uma papiloscopia de fant<strong>as</strong>m<strong>as</strong>. Nossos talismãs pararam de<br />

funcionar. Ao ser tocada, a saia xadrez de Lux evocava apen<strong>as</strong> uma lembrança indistinta de<br />

como ela a usava na escola — uma mão entediada remexendo o alnete de prata, abrindo,<br />

deixando <strong>as</strong> preg<strong>as</strong> solt<strong>as</strong> sobre os joelhos à mostra, prestes a cair a qualquer instante, m<strong>as</strong><br />

nunca, nunca… Tínhamos de manipular a saia por minutos a o para enxergar claramente.<br />

E todos os outros slides em nosso carrossel começaram a desbotar da mesma forma, ou<br />

clicávamos e nada aparecia na fenda do projetor, deixando-nos arrepiados diante da parede<br />

branca.<br />

Teríamos perdido <strong>as</strong> menin<strong>as</strong> de vez se el<strong>as</strong> não tivessem entrado em contato conosco.<br />

Bem quando começamos a perder <strong>as</strong> esperanç<strong>as</strong> de algum dia estar perto del<strong>as</strong> de novo, mais<br />

santinhos laminados da Virgem começaram a aparecer. O sr. Hutch topou com um deles<br />

enado debaixo do limpador de para-brisa do carro e, sem reconhecer sua importância,<br />

am<strong>as</strong>sou a imagem e jogou-a no cinzeiro. Foi encontrada mais tarde por Ralph Hutch, sob<br />

uma camada de cinz<strong>as</strong> e bituc<strong>as</strong> de cigarro. Quando o santinho chegou às noss<strong>as</strong> mãos,<br />

estava queimado em três pontos. Ainda <strong>as</strong>sim, dava pra ver que era idêntico à imagem da<br />

Virgem que Cecilia segurava na banheira, e quando limpamos a fuligem, o número de<br />

telefone 555-maria veio à tona no verso.<br />

Hutch não foi o único a encontrar um santinho. A sra. Hessen encontrou outro enado no<br />

meio d<strong>as</strong> roseir<strong>as</strong>. Certo dia, Joey Thompson escutou um chiado incomum n<strong>as</strong> rod<strong>as</strong> da<br />

bicicleta e, quando olhou para baixo, viu um santinho da Virgem colado entre os raios. Por<br />

m, Tim Winer encontrou um santinho preso no reboco d<strong>as</strong> janel<strong>as</strong> do gabinete, olhando<br />

para ele. A imagem estava ali havia algum tempo, segundo ele, porque a superfície laminada<br />

tinha absorvido umidade, dando ao rosto da Virgem um toque de gangrena. Fora isso era<br />

igual: vestida com um manto azul de gola redonda de lamê dourado. Na cabeça, tinha uma<br />

coroa que lembrava o logotipo da margarina Imperial. Um rosário envolvia a cintura e, como<br />

de costume, a Mãe Santíssima tinha a expressão beatíca de alguém que toma lítio. Ninguém<br />

jamais viu alguma d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> espalhando os santinhos, nem descobriu por que el<strong>as</strong> faziam<br />

isso. Mesmo agora, tantos anos depois, conseguimos nos recordar sem diculdade da<br />

excitação que tomava conta de todos nós quando alguém aparecia com uma nova descoberta.

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