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as_virgens_suicidas__jeffrey_eugenides

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And if you’re wondering what this song is leading to<br />

I want to make it with you.**<br />

A linha cou muda. (Sem aviso, <strong>as</strong> menin<strong>as</strong> nos envolveram em seus braços, zeram<br />

conssões ardentes em nossos ouvidos e fugiram da sala.) Por alguns minutos camos<br />

imóveis, ouvindo o zumbido da linha telefônica. Então começou a soar um bipe raivoso e<br />

uma gravação nos mandou desligar o telefone, desligá-lo imediatamente.<br />

Nunca tínhamos sonhado que <strong>as</strong> menin<strong>as</strong> também pudessem nos amar. Era uma ideia<br />

estonteante, e deitamos no carpete dos Larson, que tinha cheiro de desodorante de animais de<br />

estimação e, mais no fundo, dos próprios animais de estimação. Por um longo tempo,<br />

ninguém falou nada. M<strong>as</strong> pouco a pouco, ao movermos pedaços de informação em noss<strong>as</strong><br />

cabeç<strong>as</strong>, enxergamos <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> por um novo ângulo. As menin<strong>as</strong> não tinham nos convidado<br />

para a festa no ano anterior? Não sabiam nossos nomes, nossos endereços? Quando limpavam<br />

círculos n<strong>as</strong> janel<strong>as</strong> suj<strong>as</strong>, não olhavam para fora à nossa procura? Esquecemos de todo o<br />

resto e nos demos <strong>as</strong> mãos, sorrindo de olhos fechados. No aparelho de som, Garfunkel<br />

atingiu <strong>as</strong> not<strong>as</strong> agud<strong>as</strong> e não pensamos em Cecilia. Pensamos somente em Mary, Bonnie,<br />

Lux e Therese, desamparad<strong>as</strong> na vida, impossibilitad<strong>as</strong> de falar conosco, o que naquela noite<br />

se deu de forma inexata e tímida. Recordamos seus últimos meses na escola, coletando nov<strong>as</strong><br />

lembranç<strong>as</strong>. Certo dia, Lux tinha esquecido o livro de matemática e precisou sentar-se com<br />

Tom Faheem. Na margem de uma página, escreveu: “Quero sair daqui”. Até onde ia esse<br />

desejo? Pensando em retrospecto, concluímos que <strong>as</strong> menin<strong>as</strong> tinham p<strong>as</strong>sado o tempo<br />

inteiro tentando falar conosco e pedir nossa ajuda, m<strong>as</strong> estivéramos apaixonados demais para<br />

ouvir. Nossa vigilância tinha sido tão concentrada que não deixamos p<strong>as</strong>sar nada, exceto um<br />

simples olhar devolvido. A quem mais el<strong>as</strong> poderiam recorrer? Não aos pais. Nem aos<br />

vizinhos. Dentro de c<strong>as</strong>a eram prisioneir<strong>as</strong>; fora dela, lepros<strong>as</strong>. E <strong>as</strong>sim se esconderam do<br />

mundo, esperando por alguém — nós — para salvá-l<strong>as</strong>.<br />

M<strong>as</strong> nos di<strong>as</strong> seguintes não tivemos sucesso ao telefonar para <strong>as</strong> menin<strong>as</strong>. O telefone tocava<br />

sem esperança, desolado. Imaginamos o aparelho uivando debaixo de travesseiros enquanto<br />

<strong>as</strong> menin<strong>as</strong> procuravam por ele, em vão. Sem conseguir fazer contato, compramos The Best<br />

of Bread e colocamos “Make It With You” para tocar repetid<strong>as</strong> vezes. Conversamos muito<br />

sobre túneis, que começariam no porão dos Larson e p<strong>as</strong>sariam por baixo da rua. A terra<br />

poderia ser transportada n<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> calç<strong>as</strong>, que seriam esvaziad<strong>as</strong> durante p<strong>as</strong>seios como em<br />

Fugindo do Inferno. As possibilidades dramátic<strong>as</strong> nos atraíram tanto que por algum tempo<br />

esquecemos que nosso túnel já tinha sido escavado: o esgoto pluvial. M<strong>as</strong> quando conferimos<br />

<strong>as</strong> galeri<strong>as</strong>, vimos que estavam chei<strong>as</strong> d’água: o nível do lago tinha voltado a subir naquele<br />

ano. Não importava. O sr. Buell tinha uma escada extensível que poderíamos facilmente<br />

apoiar n<strong>as</strong> janel<strong>as</strong> d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong>. “Como se estivessem fugindo para c<strong>as</strong>ar”, comentou Eugie<br />

Kent, e <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> zeram noss<strong>as</strong> mentes vagarem até um juiz de paz de cidade pequena,

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