13.01.2015 Views

will_e_will-um_nome_um_destino

will_e_will-um_nome_um_destino

will_e_will-um_nome_um_destino

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

capítulo cinco<br />

Esse é <strong>um</strong> daqueles fins de semana em que não saio de casa pra nada —<br />

literalmente — exceto <strong>um</strong>a ida rápida com minha mãe até a loja de conveniência<br />

White Hen. Esses fins de semana em geral não me aborrecem, mas fico meio<br />

que torcendo pra que Tiny Cooper e/ou Jane liguem e me deem <strong>um</strong>a desculpa<br />

pra usar a identidade que escondi nas páginas de Persuasão na minha estante.<br />

Mas ninguém liga; tampouco Tiny ou Jane aparecem on-line; e está mais frio<br />

que o peito de <strong>um</strong>a bruxa em <strong>um</strong> sutiã de aço, então fico em casa e ponho o<br />

dever de casa em dia. Faço o trabalho de pré-cálculo, e, quando termino, fico<br />

sentado com o livro por <strong>um</strong>as três horas, tentando entender o que acabei de<br />

fazer. É <strong>um</strong> fim de semana desses — do tipo em que você tem tanto tempo que<br />

vai além das respostas e começa a olhar as ideias.<br />

Então, na noite de domingo, quando estou no computador vendo se alguém<br />

está on-line, meu pai coloca a cabeça na porta do quarto. “ Will”, diz ele, “ você<br />

tem <strong>um</strong> segundo pra conversar na sala” Giro na cadeira e me levanto. Meu<br />

estômago se contrai <strong>um</strong> pouco porque a sala é o lugar menos agradável de se<br />

ficar; o lugar onde a não existência do Papai Noel é revelada, onde as avós<br />

morrem, onde testas franzidas olham as notas nos boletins e onde se aprende que<br />

a caminhonete do homem entra na garagem da mulher, e então sai, e então volta<br />

a entrar, e assim por diante, até <strong>um</strong> óvulo ser fertilizado etc. etc.<br />

Meu pai é muito alto, muito magro e muito careca, e tem dedos longos e<br />

finos, que ele tamborila no braço de <strong>um</strong> sofá de estampa floral. Eu me sento de<br />

frente pra ele em <strong>um</strong>a poltrona superacolchoada e superverde. O dedo que<br />

tamborila prossegue por uns 34 anos, mas ele não diz nada, e então eu<br />

finalmente digo:<br />

— Ei, pai.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!