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Outlook | Sexta-feira, 1.10.2010 | 94 56 7FOTO DPH/PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO8FOTO DPH/PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULOtromete o boa-praça Arnaldo Cardoso Filho, 48 anos,um dos raros amigos da aposentada na vizinhança.Cidadão nativo da vila, Naldinho é quem nos acompanhapara um passeio pelo que resta dela. Os avós,portugueses, chegaram ao lugar nos bons tempos,cresceram e se multiplicaram. O pai jogou bola numcampo de terra às margens do rio. Ele, na quadra doclube, onde também aprendeu a nadar. Há tempos,porém, a correnteza do Itororó deu lugar ao intensotráfego da Avenida 23 de Maio. Depois, foi a vez daquadra de futebol e da piscina virarem depósito demáquina velha e água suja. Não seria mal voltar a desfrutardas atividades do clube, mas hoje a prática deesportes não está entre suas prioridades. Em breve,Naldinho pode ter que deixar a residência onde, diz,gastou um bom dinheiro ao longo dos anos para trocarpiso, telhado e construir um mezanino. É que a prefeitura,que hoje é dona, quer remover todos os habitantes,independente do tempo de casa, para transformara vila em um centro de cultura e memória do bairro.“Sei que vai ficar bonito, mas e a moradia do pessoal?”,indaga, com desgastada indignação.Histórica também é a indefinição sobre o futuroda Vila Itororó. Após a morte do seu construtor, oconjunto foi comprado por credores e doado à fundaçãoLeonor de Barros Camargo, que mantém aSanta Casa de Indaiatuba. A instituição parou de recolhero aluguel em meados da década de 90 e, algumtempo depois, colocou tudo à venda. Há quemdiga que abastados ilustres como Silvio Santos eAbílio Diniz teriam se interessado pelo negócio.Boatos à parte, quem assumiu o imbróglio foi a prefeitura,após a desapropriação da vila pelo estado e opagamento de indenização à fundação. No ano passado,a justiça determinou a remoção das famíliaspara início de obras de revitalização, decisão queainda não foi cumprida. “As funções cultural e residencialnão são incompatíveis”, contesta a arquitetaRaquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquiteturae Urbanismo da USP e relatora especial daONU para o direito à moradia adequada. “O patrimôniodeve ser revitalizado e preservado, mas semexcluir os moradores, que têm uma relação antiga eo direito de permanecer na vila”, defende Raquel.As festanças daquele português alegree sociável reuniam grandes intelectuaise boêmios paulistanos. De dia, paralavar a alma, os amigos se banhavamna primeira piscina particular da cidadeEm troca da liberação dos imóveis, o governomunicipal ofereceu apartamentos financiados, de40 a 70 metros quadrados, em um edifício ainda emconstrução a três quarteirões da vila. Os habitantes,porém, não se entusiasmaram com a proposta eentraram com uma ação de usucapião. Coordenadorada associação de moradores, a auxiliar de serviçosgerais Maria Aparecida de Santana ajudou apovoar o lugar. Seus cinco filhos e nove netos nascerame ainda vivem ali. Cida ainda sonha em resgatarpara eles a segurança e o ambiente familiar deoutrora. Mas, cansada, reconhece que pode ser tardedemais. “Se sair o despejo, não tem que pensar, éir embora, né?”, resigna-se, pois, como já cantavao sambista, nóis sempre arranja outro lugá.

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