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Outlook | Sexta-feira, 1.10.2010 | 15Extraordinário,pop e prosaicoNovos em folhaCom KarmaPop, o fotorrepórter gonzo ArthurVeríssimo desmascara a loucura sagrada da ÍndiaFOTO ARTHUR VERÍSSIMOREALISMO FANTÁSTICO“O leitor tem nas mãos algunsdos melhores contos de JulioCortázar, ou seja, algunsdos melhores contos daliteratura hispano-americanado século 20”, escreve DaviArrigucci Jr. na orelha deAs Armas Secretas (Civilização<strong>Brasil</strong>eira). Já estecortazariano resenhistaconsidera o livro do argentinouma coletânea de algumasdas melhores narrativas já escritas em qualquerépoca, em qualquer língua. Duas em especialsão brilhantes. Em “As babas do diabo”, umtradutor sai por aí com sua câmera para fotografarum dia bonito — e acaba, sem querer, registrandoum assassinato. O conto inspirou o clássico Blow--Up, de Antonioni. Outro filme, Bird, de ClintEastwood, está contaminado pela longa narrativa“O perseguidor”, em que o autor, invulgar amantede jazz, conta a vida do saxofonista Charlie Parker,um dos criadores do bebop, pela perspectivade um crítico musical que ao mesmo tempo oadmira e o inveja.Cena do mais escalafobético dos eventos hindus, o festival Kumbha MelaArthur tem um sobrenome adequado— Veríssimo já sugere alinguagem superlativa. Não é àtoa que seu grande interesse é amais paradoxal e hiperbólica dasnações, a Índia, país visitado 17vezes por este globetrotter de 49 anos. O foco éo mais escalafobético dos eventos hindus: oKumbha Mela, festival realizado a cada 12 anosem uma das quatro cidades sagradas indianas(existe algo que não seja sagrado lá?) que reúnemultidões de até, pasme, 80 milhões de pessoas.Veríssimo, cuja atuação gonzo o faz entrarde cabeçaFOTO DIVULGAÇÃOna experiênciajornalística,mostra emKarmaPop(Master Books)um lado surpreendentementepreciso.Embora sejaconhecido pe-Veríssimo abraçando a notíciaA maioria das imagens são retratosde saddhus — os homens santosque curtem uma pobreza extrema,inflingindo-se suplícios tipo vivercom o braço pra cima por 20 anoslas atuaçõesensandecidasem frente àscâmeras ou portrás de um textoatulhado deexpressões estrambóticaseestapafúrdias,tudo na primeirapessoa, nas imagens de KarmaPop estecarioca-paulistano desaparece. A maioriadas imagens são retratos de saddhus — os homenssantos que curtem uma pobreza extrema,inflingindo-se suplícios tipo viver com obraço pra cima por 20 anos, aturar uma facaenterrada no punho, enrolar o pênis numa espada,untar o corpo todo com cinzas ou usartanguinhas ridículas. Apesar de todo o inusitado,os personagens são enquadrados comsobriedade e respeito (a maioria das imagenspresentes em reportagens da revista Trip).Valendo-se de sua proverbial cara-de-pau,Veríssimo extrai desse estranho zoo humanoum inventário de celebridades do bizarro;curioso nestas aparições é sua humanidade,quando o repórter desmascara, por trás dosagrado, sua condição humorística. ComoVeríssimo olha para este mundo com óculosinfantis, torna o extraordinário tão pop e prosaicoquanto uma lata de Coca-Cola. Seriaconfortável se contaminar pela magia dossantos indianos. Nestes retratos cômicos, porém,Veríssimo demonstra sua infame vaidade— operação que torna ainda mais extravagenteuma viagem pela Índia. R.B.REALISMO JORNALÍSTICOO também argentino RodolfoWalsh é mais conhecido porum clássico do new journalism— antes mesmo de existireste termo: Operação Massacre(Cia das Letras), que recuperaum episódio obscuro ocorridosob a ditadura de 1955.Mas é em Essa Mulher (Ed. 34)que Walsh, barbaramenteassassinado pela ditadurade 1977, exibe seu grandetalento literário. São narrativas objetivas eimpactantes, cujo conflito reside sempre entre opolítico e o ético — como o conto-título, umapequena peça dramática cujo personagem principalé um esqueleto no armário militar. Completao volume um exaltado depoimento de Walsha Ricardo Piglia.REALISMO MITOLÓGICOPara fechar, mais um argentino,outro clássico, agora em novaedição: História da Eternidade,de Jorge Luis Borges (Cia dasLetras) é o livro em que o autorabandona os bandidosestereotipados de HistóriaUniversal da Infâmia paraabraçar — nestes textos queaproximam ensaio de ficção,propondo uma nova maneirade narrar —, o tempo daeternidade, recontando fábulas das Mil e UmaNoites, as metáforas islandesas e os jogos eruditosque propõem as infinitas bibliotecas como únicarealidade possível.

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