16 | Outlook | Sexta-feira, 1.10.2010ELEITOSCinema em casaMerecia um OscarRodado no Pará, o premiado O Solde Meio Dia é uma ode ao silêncio,ao mistério e à complexidade da atuaçãoTEXTO DANIELA PAIVAFORA DE CONTROLERobert Altman sabia desfilar suas celebridades emsátiras do mundo dos chiques e famosos. Este filme de2008 de Barry Levinson (Rain Man) relembra os bonstempos do diretor de Short Cuts. O elenco estelaré encabeçado por Robert De Niro. Tá, isso não querdizer muita coisa para quem cansou da versão alegrinhado ator nos últimos anos. Mas, nesse caso, a não--expectativa vem a favor. De Niro está ótimo comoum produtor decadente. Fora de Controle não mostranovidades dos bastidores de Hollywood. Mas é divertidover Bruce Willis dando ataques, De Niro pagando degatão, e Sean Penn bancando o esquisitão. Ups, é filme? D.P.DROP DEAD DIVAA gente não tem essa auto-estima toda, e nem tudose resolve no final. Mas é uma delícia ver a buscados enlatados por personagens mais verdadeiros,como a nerd Betty de Ugly Betty (extinta), a nãotão bonita Meredith Grey de Grey’s Anatomy, ouesta Jane de Drop Dead Diva, exibida pela Sony.A primeira temporada fala sobre a adaptação daalminha loura e burra Deb, encarcerada na inteligentee nada esquálida Jane. Piada pronta não falta. Masquem brilha mesmo é a atriz Brooke Elliott, linda esensual com seus quilinhos extras. D.P.ROBIN HOODÉ um filmão daqueles... que você tem certeza que jáviu, que sabe o que acontece e que vai ter muitosangue, porrada e flechada. Tem também a mocinhabonitona (Cate Blanchett) e o grande aventureiro eherói (Russell Crowe), que nesse caso atende porRobin Longstride. Ele já foi o Gladiador e vocêfatalmente vai se lembrar desse papel e quaseconfundir os filmes, caso os tenha visto nos últimosanos. Pudera, são obras do mesmo diretor, RidleyScott. LUIZ HENRIQUE LIGABUEOespectador está mais do que acostumadoà rotina de filmes que escondemum grande segredo. A revelaçãofica lá para o finalzinho, como sefosse um prêmio para quem segura aexpectativa até os últimos minutosda sessão. Em alguns casos (diria até que na maioriadeles), o resultado é meio conto do vigário. Emoutros, pode não fazer tanta diferença assim.O Sol de Meio Dia, de Eliane Caffé, que estreiahoje nos cinemas do <strong>Brasil</strong>, traz o mistério do assassinatocometido por Artur (Luiz Carlos Vasconcelos,de Baile Perfumado, Eu Tu Eles, Carandiru eAbril Despedaçado). E lá vem aquela história antiga:você só vai saber o que aconteceu no the end.Mas é provável que a revelação se transforme emalgo secundário. O Sol de Meio Dia deixa a visãomeio turva ao caminhar entre o drama, a comédiae o romance.Rodado no Pará, este é o terceiro longa de ElianeCaffé, diretora de Kenoma (1998) e Narradores deJavé (2003). A fotografia coube a Pedro Farkas, filhode Thomaz Farkas, que fez filmes como A MarvadaCarne e Os Desafinados, e que traduz umacerta aridez ao lado do calor da Amazônia.A chegada às telas carrega o aval dos principaisfestivais de cinema do país. Em 2009, conquistouprêmios importantes no Festival do Rio(melhor ator, dividido pela dupla de protagonistas,Luiz Carlos Vasconcelos e Chico Diaz) e naMostra Internacional de Cinema em São Paulo(prêmio da crítica).Mais próximo de um drama do que de uma comédiaromântica na maior parte do filme, até porqueo triângulo amoroso só se configura de verdadelá pela metade do percurso, o roteiro tece aospoucos a trajetória de cada personagem. Sexo esexualidade estão nas entrelinhas, junto com abusca pela redenção e a fuga.Artur é o homem que transpira masculinidademas não sabe bem o que fazer dela por conta dopassado obscuro. Matuim (Chico Diaz, brilhante,FOTOS OCTAVIO CARDOSOChico Diaz (Matuim) ao lado de Claudia Assunção (Ciara): brilhante como um bonachãode Baile Perfumado, GabrielaCravo e Canela, OsMatadores e Amarelo Manga)se esforça para escondera insegurança até o últimofio de cabelo com um jeitobonachão, de bobo da corte.Ciara (Claudia Assunção)forma o terceiro vérticecomo uma mulher recatadaque se redescobrequando se distancia da decepçãocom a filha prostitutae do pai controlador, vividopor Ary Fontoura.A premiação em dupla deChico Diaz e Luiz CarlosVasconcelos no Festival doRio faz mais do que sentido.Este é um filme que nãoabre espaço para personagensapenas de passagempela história. Sem músicana trilha, e com longas cenas de silêncio (a aberturaé um primor), o peso e a lente da câmera estãonos atores principais.Não há espaço para personagensde passagem. Sem trilha sonora,e com longas cenas de silêncio, o pesoe a lente estão nos atores principaisChico Diaz e Luiz Carlos Vasconcelos abraçamos papéis com tamanha intensidade que se revezamem cenas, essas sim, dignas de Oscar. A brutalidadede Artur transparece no olhar apesardos gestos lentos, contidos como se a qualquerminuto ele pudesse explodir. A tristeza de Matuimé como a de um palhaço de circo, maquiadapelo exagero.O interessante do roteiro é que ele não precisarecorrer à trajetória ipsis litteris. Deixa as pontassoltas, e amarra só as que são necessárias. Acabaque o triângulo amoroso vira pano de fundo, masrende um final nada piegas e surpreendente detão brusco — um bônus para este belo filme.Luiz Carlos Vasconcelos mostra a brutalidade com o olhar
Outlook | Sexta-feira, 1.10.2010 | 17FOTOS DIVULGAÇÃOJá vimosesse filmeA escritora Liz (Julia)vai à Itália, Índia e Balipor um ano, em buscado sentido da vidaJulia Roberts está lindinha em Comer, Rezar, Amar, mas suasdescobertas parecem o que a gente lê em folhetos de viagemTEXTO CRISTINA RAMALHOA mesma mocinha, a mesma bike, a mesma trombadaVocê já viu esse filme: mulherem crise, perdida entre aprocura do amor e o sentidoda vida, foge para outraspaisagens. Sofre, descobre ovalor dos amigos, a importânciadas pequenas descobertas, e quandoestá se sentindo quase a cair do galho detão amadurecida é capaz de reconhecer opríncipe. Foi assim com Diane Lane emSob o Sol da Toscana. É assim com JuliaRoberts em Comer, Rezar, Amar.Homens também renderam versão daabertura para uma existência mais descomplicadae risonha num lugar de sonho,como Russell Crowe em Um Bom Ano.Enfim, as histórias se parecem: Crowe encontrouo amor atropelando com seu carroa ciclista Marion Cotillard. Julia Roberts éa ciclista da vez em cena idêntica em Comer,Rezar, Amar, e o amor que a atropelade carro é Javier Bardem. Faz um brasileiro,Felipe, com um deslocado sotaque espanhole irresistível como sempre.Como Liz (Julia) dizno início do filme,até os refugiadosdo Camboja chorammais pelo namoroque não deu certodo que por doresmaiores. Tantoque ela medita,reza, mas largatudo para corrersorridente paraos braços do Javiergato e ricoSe o filme é bom? Como os seus similares,é leve de ver, tem cenários lindos eprotagonistas charmosos até nas lágrimas.Mas embora essa história seja real(Julia faz Liz Gilbert, escritora que narrousua viagem de um ano e virou bestseller), ebaseada num livro que quem leu adorou, asensação é de igual a todos os outros. Aomenos na tela (confesso minha falha grave:não li o livro ainda, mas quero fazê-lo),as descobertas não passam do que a gentevê em folhetos de viagem. Italianos sãoapaixonados pela vida (Liz aprende o que édolce far niente!), americanos são ambiciosos,meditar é coisa de indiano e brasileirosgostam de festa.Na verdade, eu mesma já vi esse filme, sófaltando o detalhedo Javier bronzeadono final, na minhaprópria trajetória.Sou da geraçãoda Julia, deixeipara trás o casamentopara descobriresse mundãode Deus, fuivoluntária numcentro de refugiadosem Londres,pedi uma luzinhanos templos budistasda Tailândia,me apaixoneipor uns estrangeiros,tentei convencerminha filhaa viver comigona Europa e escorreguei numas cascas debanana no caminho. E, como a Liz, acalantei(ainda o faço, ai, ai) a ideia de já jápegar minha bolsa e sair correndo paraoutras fronteiras. Mas devo dizer quetambém redescobri o amor.Taí a graça, que, imagino, o livro contecom mais inteligência: todo mundo sereconhece, docemente, em várias dasdúvidas. Como Liz (Julia) diz no início,até os refugiados do Camboja chorammais pelo namoro que não deu certo doque por dores maiores. Tanto que elamedita, reza, conecta-se com seu Deusinterior, mas larga tudo para correr sorridentepara os braços do Javier gatoe rico. E daria para ser diferente?Javier Bardem como o brasileiro Felipe: a prova de que a fé pode titubear
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