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eyond tHe line<br />
g-stockstudio/iStock<br />
House, sweethouse?<br />
Funcionários próprios estão mais sujeitos<br />
a interferências e pitacos <strong>de</strong> superiores<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
veio lá <strong>de</strong> Brasília mais um torpedo relacionado<br />
à comunicação. Depois <strong>de</strong><br />
E<br />
questionar o investimento em propaganda,<br />
o mix <strong>de</strong> mídia (enaltecendo o po<strong>de</strong>r das<br />
re<strong>de</strong>s sociais) e até a existência do BV (programa<br />
<strong>de</strong> incentivo), pintou agora a i<strong>de</strong>ia da<br />
possível criação <strong>de</strong> uma “house” para cuidar<br />
da comunicação do governo.<br />
Como esses arroubos têm se mostrado<br />
voláteis e sem maior profundida<strong>de</strong>, não<br />
vou aqui comentar ainda mais essas manifestações.<br />
Mas quero discorrer sobre a i<strong>de</strong>ia<br />
da “house agency”. De tempos em tempos,<br />
a tal da house volta à mídia.<br />
Cabe, portanto, uma reflexão a respeito.<br />
Já ocupei este espaço para falar sobre esse<br />
fenômeno, mas acho que vale a retomada.<br />
A primeira questão é: por que uma empresa<br />
consi<strong>de</strong>raria a opção <strong>de</strong> internalizar<br />
os serviços <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong> propaganda?<br />
Tendo a acreditar que o principal motivo<br />
seja a percepção <strong>de</strong> economia. Então,<br />
vamos lá. Quando uma empresa <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />
absorver internamente um serviço prestado<br />
por terceiros, po<strong>de</strong> parecer lógico que<br />
economizará exatamente a remuneração<br />
<strong>de</strong>sse terceiro. Será?<br />
Vejamos: para po<strong>de</strong>r internalizar os serviços<br />
antes prestados por uma agência, a<br />
empresa terá <strong>de</strong> montar uma estrutura para<br />
tal, certo? Será necessária a contratação<br />
<strong>de</strong> especialistas, ferramentas e estudos,<br />
além da <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> espaço físico e equipamentos<br />
para um novo “<strong>de</strong>partamento”.<br />
O problema é a <strong>de</strong>dicação integral <strong>de</strong> profissionais<br />
para tais ativida<strong>de</strong>s.<br />
Depen<strong>de</strong>ndo da <strong>de</strong>manda, uma agência<br />
po<strong>de</strong> alocar apenas algumas horas <strong>de</strong> seus<br />
profissionais para <strong>de</strong>terminados clientes,<br />
otimizando assim os recursos <strong>de</strong>stinados<br />
para cada um <strong>de</strong>les.<br />
Ah, mas a maior economia é a “comissão”<br />
da agência na mídia e na produção, dirão<br />
alguns <strong>de</strong>fensores. Antes <strong>de</strong> mais nada,<br />
a tal comissão <strong>de</strong> mídia – na verda<strong>de</strong> o Desconto<br />
Padrão, <strong>de</strong>finido nas Normas-Padrão<br />
do Cenp – é cabível apenas para agências e<br />
os veículos não <strong>de</strong>vem repassá-la a anunciantes<br />
diretos.<br />
Se o fazem estão <strong>de</strong>scumprindo um sau-<br />
dável entendimento <strong>de</strong> autorregulação, do<br />
qual participaram anunciantes, agências<br />
e veículos. Deve-se levar em conta ainda<br />
o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> negociação das agências, por<br />
conta da administração <strong>de</strong> investimentos<br />
<strong>de</strong> diversos clientes. Portanto, numa conta<br />
mais apurada, é bastante provável que a<br />
economia não seja tão relevante para justificar<br />
a iniciativa.<br />
Bem, po<strong>de</strong> haver o argumento da rapi<strong>de</strong>z.<br />
Tendo uma equipe própria o fluxo <strong>de</strong><br />
trabalho po<strong>de</strong>ria ser mais fluido e rápido.<br />
Po<strong>de</strong> até ser, mas não é nada que não possa<br />
ser oferecido por uma boa agência. Mas,<br />
para mim, o ponto principal é a qualida<strong>de</strong><br />
da comunicação gerada.<br />
Funcionários próprios estão mais sujeitos<br />
a interferências e pitacos <strong>de</strong> superiores<br />
e até imposições <strong>de</strong> <strong>de</strong>mais diretores e pares.<br />
Com o tempo, o uso do cachimbo vai<br />
<strong>de</strong>ixando a boca torta.<br />
Já a agência tem condições <strong>de</strong> espelhar<br />
soluções geradas para outros clientes, além<br />
<strong>de</strong> oxigenar suas i<strong>de</strong>ias com mais facilida<strong>de</strong>,<br />
já que atua especificamente no campo<br />
da comunicação.<br />
E, além do mais, po<strong>de</strong> trocar equipes<br />
<strong>de</strong>stinadas a clientes, caso não estejam performando<br />
bem. E se o cliente quer ter uma<br />
equipe terceirizada, porém mais exclusiva<br />
e <strong>de</strong>dicada, é possível também. Inclusive<br />
trabalhando <strong>de</strong>ntro da sua empresa.<br />
E o argumento final é a tendência <strong>de</strong> se<br />
manter as estruturas das empresas (isso<br />
serve para governos também) mais leves e<br />
focadas no core do seu business.<br />
A verticalização tem se mostrado ineficaz,<br />
fazendo as empresas mais antenadas<br />
optarem pela <strong>de</strong>legação a terceiros especialistas<br />
as funções que não fazem parte da<br />
sua ativida<strong>de</strong> principal.<br />
Num país provido <strong>de</strong> tantas agências<br />
capacitadas e reconhecidas internacionalmente,<br />
o que não faltam são opções para<br />
clientes. Aí, é só partir para um bom contrato<br />
e contar com um serviço <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<br />
na medida das suas necessida<strong>de</strong>s.<br />
O melhor mesmo é os executivos encararem<br />
a house, sweethouse como aquele<br />
lugar para on<strong>de</strong> se vai <strong>de</strong>scansar <strong>de</strong>pois do<br />
trabalho.<br />
Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />
da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Agências<br />
<strong>de</strong> Propaganda)<br />
alexis@fenapro.org.br<br />
16 <strong>11</strong> <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> - jornal propmark