Culture&Territories#3

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talvez ainda hoje possa acontecer em certos nichos), a vida ia correndo a um ritmo
lento, pausado, muito camponês, pois que os seus moradores iam organizando o seu
dia-a-dia de forma muito próxima à do tradicional modelo de natureza rural,
mantendo com as suas terras de origem e com o grupo de parentes do campo, laços
muito estreitos.
As casas eram feitas de canas (caniço) um material abundante na região e muito
apropriado para a construção de abrigos em regiões de clima quente. Viver nas
imediações da cidade colonial implicava mudanças por relação à vida no campo, mas
estas eram especialmente notadas na organização da vida dos homens que, por via
do trabalho assalariado (segundo o modelo vigente, de base europeia), passavam
o dia fora de casa ocupados em empregos urbanos no âmbito do pequeno funcionalismo
público, como empregados nos cafés, ou nos restaurantes e mercearias; ou
como serviçais nas casas da população portuguesa e por fim também nas de alguns
assimilados 2 . Em casa as mulheres responsabilizavam-se, como sempre lhes coubera,
pela ordem doméstica, tratando dos filhos e fazendo produzir as pequenas
machambas 3 familiares, garantindo-se dessa forma uma certa manutenção e preservação
das referências costumeiras. Pela mão das mulheres, se viabilizava então a
continuidade na ligação à vida da aldeia e assim se acautelava a manutenção dos
códigos e valores ancestrais específicos das comunidades de origem dos grupos
agora residentes no Caniço (Fig 1).
Fig. 1: Construções em caniço. Maputo, 2009. Fonte: Arquivo da autora
2
População de origem local que por via do sucesso e/ou enriquecimento pessoal, acedia a um novo estatuto social (dito superior),
passando também a adotar estilos de vida e comportamento social de modelo europeu.
3
Horta familiar. Este termo pode ser também usado para fazer referência a campos e cooperativas agrícolas de grande dimensão.