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Culture&Territories#3

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Neighbourhood & City<br />

A seguir à independência, assistiu-se, como já se fez referência, a um aumento da<br />

população da cidade de Maputo. Para tal contribuíram fatores como i) a guerra (1977-<br />

-1992), que devastou de forma particularmente aguda as áreas rurais gerando uma<br />

crise produtiva que empobreceu muitas famílias, forçando-as a procurar alternativa<br />

na cidade; ii) a falta de políticas agrícolas e de incentivos à retenção de populações<br />

no c<strong>amp</strong>o; iii) fatores ligados às representações e à esperança de uma vida melhor<br />

em contexto urbano (Frias, 2014). A guerra foi, no entanto, o fenómeno dominante<br />

e aquele que forçou milhares de famílias a fugir e a procurar abrigo na cidade, numa<br />

situação de verdadeira emergência. A chegada massiva de c<strong>amp</strong>oneses desencadeou<br />

uma mudança profunda na capital moçambicana, quer ao nível da cidade de Cimento,<br />

quer ao nível do Caniço. Melo (2017) fala mesmo de uma transformação ao nível da<br />

ecologia da cidade. Na verdade, assistiu-se a uma transformação com impactos quer<br />

em termos das reconfigurações dos espaços, quer em termos da economia, quer em<br />

termos dos alinhamentos ao nível das relações socioculturais. Os bairros de Caniço,<br />

expandiram-se desde então muito para além da cintura da cidade, crescendo não<br />

apenas em número, mas também em dimensão, e hojeestendem-se por uma região<br />

cada vez mais <strong>amp</strong>la e distante do antigo núcleo urbano. Presentemente continuam<br />

a aumentar, embora segundo uma linha mais contida. Serão vários os motivos para<br />

essa contenção, mas o mais evidente terá certamente a ver, como refere Potts (2013),<br />

com o facto de se registar hoje, um pouco por toda a África subsariana, uma<br />

tendência para a perda de vigor dos fluxos migratórios do c<strong>amp</strong>o para a cidade pelo<br />

que o atual aumento da população na maior parte das cidades (e Maputo não foge<br />

a essa regra) se deva essencialmente ao natural crescimento demográfico.<br />

227<br />

A PRODUÇÃO DE NOVOS LUGARES - TAMBÉM SOCIAIS<br />

Há 30, 40 anos, os indivíduos e famílias que chegavam do c<strong>amp</strong>o, agregavam-se<br />

naturalmente aos seus e junto deles procuravam fixar a sua residência. Esse facto<br />

permitia, em certa medida, a formação de pequenas comunidades que se distribuíam<br />

pelos diversos bairros, e assim, de alguma forma se iam reproduzindo e sustentando<br />

as redes e as cosmogonias tradicionais. Esse encontro, tornava relativamente clara a<br />

identificação da procedência geográfica da maioria das gentes que residia em cada<br />

bairro pois que nessa primeira fase, sendo ainda fácil a reunião de comuns, acabava<br />

por est<strong>amp</strong>ar-se nesses lugares a marca da origem dos indivíduos - pela forma como<br />

construíam as suas casas, pelos símbolos com que as adornavam, pelo modo como<br />

ocupavam os espaços livres ou mais ou menos livres, pela pequena agricultura que<br />

sempre conseguiam produzir em qualquer espaço aberto disponível, ou mesmo<br />

pela tipologia de produtos agrícolas que por ali se iam vendendo e que distinguiam<br />

práticas alimentares e outros usos e costumes de origem diversa.<br />

Ao longo dos anos e devido à alta intensidade migratória, muitos bairros deixaram<br />

de ter, em termos físicos, possibilidade para continuar a albergar mais gente. Na<br />

maioria deles a pressão populacional tornou-se de tal ordem, que as casas se passaram

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