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Culture&Territories#3

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Neighbourhood & City<br />

alguns dos novos catalisadores de agregação dos indivíduos (as amizades, a especialização<br />

profissional e a interiorização de costumes mais urbanos) que podem<br />

constituir-se presentemente numa referência e até estimular num futuro próximo,<br />

a aproximação e a reunião de pessoas de origens étnicas diferentes, mas com<br />

objetivos ou interesses comuns, quando isso seja possível. Também este é um dado<br />

novo e reporta-nos por um lado, para a ideia do valor da agregação com base na<br />

especialização profissional a que já se referia Mumford a respeito do modelo de<br />

encontro das populações nas cidades da antiguidade, e por outro, para a ideia<br />

(muito importante) da mudança e da emergência de novos alinhamentos funcionais<br />

(as amizades e os costumes urbanos), passíveis de se desenvolverem com o tempo.<br />

O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO<br />

Importa então parar e recordar o início, para uma avaliação a respeito das dimensões,<br />

mesmo dos indicadores necessários à abordagem do conceito de bairro<br />

nestes lugares que apresentei. Apreciados à distância e por um observador menos<br />

experiente, estes lugares poderiam, aceito, dada a sua aparente homogeneidade,<br />

fazer sugerir que se constituem em territórios onde as populações se encontram<br />

e partilham pelo menos um conjunto de regras, esquemas organizativos e um<br />

património de valores e essa imagem permitir-nos-ia a aproximação à noção mais<br />

generalizada ou mais comum da ideia de bairro. Mas estes lugares não são assim e,<br />

em meu entender, também não requerem uma leitura feita a partir da ideia comum<br />

de bairro. São bairros, mas não serão comuns. Talvez não encaixem nas categorias das<br />

definições mais conhecidas porque não encaixam em categorias algumas, o seu cunho<br />

principal é a transformação, a mudança constante, contínua, que se expressa na<br />

circulação permanente de pessoas, de vínculos e de ofícios, ou na própria alteração<br />

do espaço por via de uma cheia; até por uma epidemia de cólera, ou ainda pela<br />

simples abertura de um novo poço ou fontanário; ou pela germinação de sucessivos<br />

postos de venda ambulante; quem sabe pela abertura de uma cantina; pela implantação<br />

de uma nova ONG que traz consigo novidades, vontade para alterar alguma<br />

coisa em prol da melhoria para a vida dos residentes.<br />

Na construção deste ou de outro qualquer conceito há vários aspetos a ter em<br />

conta. Neste caso, parece-me particularmente necessário não desprezar que a<br />

desigualdade e a variabilidade, são também princípios inerentes à estruturação<br />

de qualquer forma social, daí que considere legítimo esperar diferentes tipos de<br />

articulação entre os atores envolvidos nestes espaços sem que isso implique<br />

retirar-lhes o direito a uma identidade. Entendo que nestes cenários (que não<br />

esqueçamos, são formados pelo trinómio espaço e populações e pelo produto da<br />

articulação destes dois elementos) acabarão por se ir formando mudanças marcantes<br />

na configuração das composições sociais da vida urbana. Na verdade, elas estão já em<br />

marcha, é impossível negá-lo. A dinâmica social é complexa e na maior parte das<br />

vezes imprevisível.<br />

Perante a atual conjuntura, permito-me pensar que a necessidade de subsistência,<br />

que se expressa de forma muito vincada nos fatores de ordem económica, talvez<br />

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