PAGINAÇÃO 205
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DOSSIER
peitas de que,entre beneficiários, possa
estar muita gente poderosa ligada a
Sonangol e ao poder político de época.
disse fonte judicial que acompanha o
processo.
Perante a nuvem de suspeitas
levantadas pelas autoridades, José
Eduardo dos Santos, a partir de Barcelona,
onde se encontra a receber tratamento
médico desde o ano passado,
apressou-se a telefonar para o Presidente
João Lourenço para sair em defesa
do general Dino.
“Remeteu para Manuel Vicente
toda responsabilidade por tudo que
passou a volta dos negócios que envolveram
a presença do CIF e de Sam Pá
em Angola” - revelou ao Expresso fonte
do Palácio da Cidade Alta.
Precisando tanto de dinheiro como
quem precisa de pão para a boca, João
Lourenço lançou o isco aqueles dois
antigos e poderosos colaboradores de
Eduardo dos Santos e obteve respostas
distintas.
A indisponibilidade manifestada
pelo general Dino durante a audiência
quando foi aventada a hipótese de restituir
recursos financeiros ao Estado,
foi interpretado pelos investigadores
da DNIAP, como brincadeira de mau
gosto. ”Não percebeu que tinha uma
oportunidade de ouro para colocar
a cereja em cima do bolo, mas agora
corre o risco de ver o Estado chamar
a si,sem pagar um tostão, as suas participações
societárias na Unitel e em
outros activos” - revelou fonte da maior
operadora móvel em Angola.
Em contraste com aquela posição,o
general Kopelipa, que manteve sempre
uma relação de grande conflitualidade
com Sam Pá, opondo-se a muitas das
suas operações, manifestou-se disponível
em colaborar com as autoridades
,prontificou-se a apoiar o Estado com
fundos próprios.Ausente de Angola, o
antigo presidente da Sonangol é agora
cada vez mais apontado como o verdadeiro
detentor da “chave” que pode
ajudar a descodificar todo o emalháramos
criado a volta deste complexo
processo.
Antes de viajar para o Dubai, onde
recebe tratamento médico,Manuel
Vicente, que goza de imunidades especiais
até 2022, fez chegar a PGR um
documento destinado a esclarecer as
suas muitas zonas cinzentas. Muito
longe de convencer as autoridades, o
documento, segundo apurou o jornal
Expresso, revelou-se uma desilusão.
”Mais uma vez não abriu o jogo e,em
vez disso, remeteu-nos uma folha
cheia de nada” - confidenciou uma
fonte governamental conhecedora do
processo.
A mesma fonte acrescenta que,
recebido por diversas vezes por João
Lourenço, este sempre esperou que
Manuel Vicente tomasse a iniciativa
de avançar com esclarecimento inequívoco.
"O Presidente cansou-se e,
se e verdade que Manuel Vicente sabe
onde “foram enterrados os corpos",
não sei se agora não estará também ele
próprio, a enterrar-se-“deixou escapar
fonte do Palácio.
Ao apontar o dedo a Sonangol,em
recente entrevista ao Wall Street Journal,
pelo desvio de 14 mil milhões de
dólares durante o consulado de Manuel
Vicente, para muitos observadores, o
Presidente não poderia ter sido mais
claro na escolha do alvo.
O Expresso tentou colher uma opinião
de Manuel Vicente, mas este manifestou-se
indisponível para prestar
declarações.
Figuras&Negócios - Nº 205 - OUTUBRO 2020 39