PAGINAÇÃO 205
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CULTURA
COVID-19 OBRIGA A
CRIATIVIDADE NO
MUNDO DAS ARTES
O artista plástico angolano
Álvaro Macieira destaca à
necessidade de os criadores
angolanos apostarem
na criatividade para contornar
os efeitos causados
pela pandemia da Covid-19
Em entrevista à
Figuras&Negócios Álvaro
Macieira faz uma abordagem
sobre a actualidade do
mundo das artes.
O artista avança que o
paradigma da sua inspiração
pictórica é a poesia, a
filosofia dos provérbios,
os contos, as histórias que
ouviu na sua infância rural,
o contacto com as artes e
as tradições africanas, as
viagens, os museus que
tem visitado pelo mundo e
os lugares e sítios de memória.
Textos: Venceslau Mateus
Fotos: Arquivo NET
Figuras&Negócios (F&N):
Álvaro Macieira, como é
fazer cultura em tempo
de Covid-19?
Álvaro Macieira
(AM)- A nossa economia,
de modo geral, esta em crise. Esse é
um problema que afecta grande parte
da humanidade, em luta pela sobrevivência,
perante um quadro tão duro e
dramático agravado com a pandemia
actual, que nos prejudica a todos. Os resultados
sociais, económicos e financeiros
da nossa vida artística e cultural em
Angola já vinha sendo difícil de suportar
nos últimos sete anos . Agora, essa
situação agravou-se, de tal forma, que
os resultados dramáticos são visíveis.
Estamos a viver momentos muito
duros, cujas consequências serão igualmente
difíceis de superar a curto prazo.
Teremos um futuro sombrio na Cultura,
e sobretudo entre os fazedores da arte,
em geral, e em todas as dimensões, se
não existir, para todos, uma política
concreta de gestão desta crise, cujos
contornos e resultados são, ou serão,
dramáticos e assustadores.
A crise pretende tirar-nos a alegria
. Nós, artistas, cultuamos a alegria.
Esse é o nosso papel e a nossa missão:
insuflar esperança, palavras de encorajamento,
poesia, literatura, luzes, cores
e formas tridimensionais, dança e música.
A crise pode trazer-nos a incerteza,
a falta de recursos para comprar
os remédios, a fome a afectar as nossas
crianças ou mesmo a indigência. É
preciso fazer alguma coisa para ultrapassar
estes momentos, com mais solidariedade,
inteligência e criatividade
para melhor distribuição dos poucos
recursos financeiros. Temos que ir ao
encontro das necessidades vitais do
artista e não deixar que as notícias tristes
nos roubem a pouca alegria que nos
resta. Esta é a verdadeira e inadiável
hora de se abrir "os cordões à bolsa"
para nos acudirem, como diz a sabedoria
popular.
F&N: Que futuro perspectiva
para a cultura angolana, de uma forma
geral, face ao actual cenário?
AM- Esta é a hora de resolver os
problemas, porque as necessidades
humanas, que não podem esperar,
clamam em cada um de nós. É hora
de agir, porque há fome. Então será a
hora para abrir o celeiro e distribuir
o trigo. Mas se não providenciamos? Se
não foi possível guardar nada, quando
46 Figuras&Negócios - Nº 205 - OUTUBRO 2020