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PAGINAÇÃO 205

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CULTURA

Defensor da angolanidade, Bonga

Kuenda é referência para a nova geração,

mostrando-se sempre disponível

para dar um pouco de si em prol da cultura

angolana, ajudando e incentivando

os jovens para carreiras sólidas e com

os pés bem assentes no chão.

Bonga teve entrada fulgurante no

meio musical internacional, com vários

espectáculos, reedições, vídeos, discos

de ouro e platina, menções honrosas e

diversos prémios

Solicitado ainda hoje como no passado,

pisou vários palcos de prestígio

internacional, tais como De Doelen Rotterdam,

Olympia de Paris, Apollo Harlem

em Nova Iorque, Coliseu e Casino

Estoril em Lisboa.

Bonga tem o dom de cativar as várias

faixas etárias com o seu talento, e

a prova disso são as lotações esgotadas

em todos os seus espectáculos, que são

a autentica festa de reencontros do

multicolor lusófono, e não só.

No desporto - Bonga sempre se

sentiu atraído pelo atletismo. Tudo começou

ainda muito jovem quando revelou

perante os seus amigos do bairro

ser o mais rápido nas corridas e nas

fugas. Depois começou oficialmente a

correr no São Paulo do Bairro Operário,

rotulado pejorativamente como o "club

dos pretos". Ingressou no Clube Atlético

de Luanda.

Em 1966, com 23 anos de idade, depois

de ter alcançado os maiores títulos

de Angola em 100, 200, e 400m, a sua

entrada em Portugal dá-se aquando de

um convite do Sport Lisboa e Benfica,

que se deveu às suas múltiplas vitórias

nos campeonatos em Angola. O objectivo

deste convite é a prática semi-profissional

de atletismo. É entre 1966 e

1972 que Bonga atinge por sete vezes o

estatuto de campeão e permanente recordista

de atletismo: onze internacionalizações

nos 400 metros, nos 200 e

400 metros na taça da Europa de 1967,

nove nos 4 x 400 metros e seis nos 200

metros, além de várias vitórias em torneios,

tal como o prémio de Viseu em

1968 (400 metros), o Torneio Toddy

em 1969 (100 metros), o II Grande Prémio

das Festas de Santo António.

Carreira musical - Em 1972, na

Holanda lança o seu primeiro álbum

"Angola 72", onde canta a revolução e

o amor à pátria. É por esta altura que

Barceló de Carvalho passa a chamar-

-se Bonga Kuenda. Adopta um nome

africano que significa "aquele que vê,

aquele que está à frente e em constante

movimento".

Bonga actua pela primeira vez nos

Estados Unidos, em 1973, aquando da

celebração da independência da Guiné-

-Bissau, integrado num espectáculo

de homenagem à cultura lusófona. Em

Abril de 1974 Bonga lança "Angola 74".

Nos anos 80 torna-se no primeiro

artista africano a actuar a solo, dois

dias consecutivos no Coliseu dos Recreios

(Lisboa), símbolo da música portuguesa,

é o primeiro africano Disco de

Ouro e de Platina em Portugal.

O seu sucesso estende-se para lá

das fronteiras lusófonas e Bonga actua

no Apolo em Harlem, no S.O.B. de Nova

Iorque; no Olympia de Paris, na Suíça,

no Canadá, nas Antilhas e em Macau. O

seu sucesso é resultado de um trabalho

árduo, intensivo e metódico e de uma

imaginação criativa que caracteriza

toda a sua carreira.

A marca Bonga - Bonga cria uma

fusão entre a sua pessoa e a música de

Angola, tornando-as indissociáveis e

tendo como maior estandarte, o Semba,

um ritmo tradicional angolano correspondente

ao samba brasileiro, mas

precursor deste.

Bonga também interpretou géneros

musicais cabo-verdianos, sendo

responsável pela roupagem da coladeira

“Sodade” para uma morna, 18 anos

antes de Cesária Évora a tornar mundialmente

famosa.

Prémios - Bonga recebeu inúmeros

prémios de popularidade e homenagens

relativamente à sua obra, onde

conta com distinções várias, medalhas

e discos de ouro e de platina.

Tem manifestado inúmeras vezes

a sua solidariedade e altruísmo dando

concertos de beneficência para instituições

como a MRAR, a Amnistia Internacional,

FAO, ONU e UNICEF.

Para além disso tem participado em

CDs como por exemplo "Em Português

Vos Amamos" dedicado a Timor, "Paz

em Angola" ou ainda "Todos Diferentes,

Todos Iguais", um marco na luta contra

o racismo.

Tem mais de 300 composições da

sua autoria, 32 álbuns, 6 video-clips, 7

bandas sonoras de filmes, e álbuns com

inúmeras reedições em todo mundo.

Os seus temas têm sido interpretados

por ilustres artistas, entre os quais

Martinho da Vila, Alcione e Elsa Soares,

Mimi Lorca (França), Bovic Bondo Gala

(República Democrática do Congo), Heltor

Numa Morais (Uruguai) e muitos artistas

angolanos da nova vaga.

PERFIL

BONGA KUENDA

José Adelino Barceló de Carvalho

nasceu em, 1942, em Quipiri,

na província do Bengo, a

norte de Luanda, em Angola.

A família tratava-o carinhosamente

por Zeca. A sua infância foi passada

em bairros como os Coqueiros,

Imgombotas, Bairro Operário, Rangel,

e no Marçal. Aí vive-se um ambiente

intimista de preservação das

músicas e tradições angolanas, marginalizadas

pela dominação colonialista

presente na época.

O folclore dos musseques (bairros

pobres) cedo fascinou o pequeno

Zeca e por isso começou a frequentar

e a participar das turmas

dos bairros típicos de Angola, onde

iniciou a sua actividade musical. Foi

no bairro do Marçal onde fundou o

grupo Kissueia.

Bonga resolve criar o seu próprio

estilo musical, afirmando a

especificidade da cultura angolana,

numa época muito conturbada.

Figuras&Negócios - Nº 205 - OUTUBRO 2020 53

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