PAGINAÇÃO 205
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MODA E BELEZA
“Agora todo mundo está a gritar
aos quatro cantos sobre a exploração
sexual, mas ninguém quer falar sobre
dinheiro. Todo mundo se cala sobre
isso”.
Como o sucesso no mundo da
moda é medido em parte pelo montante
que você ganha, modelos profissionais
raramente querem falar
abertamente sobre o problema.
Mas, nos bastidores, Ozhiganova
conta que a Model Law está a ajudar
diversos modelos a entender melhor
as suas financas. ”A falta de informação
é o principal problema. Os modelos
não sabem quanto deveriam
receber”.
Embora modelos dos quatro
cantos do mundo estejam sujeitos a
enfrentar dificuldades financeiras,
aqueles provenientes de países mais
pobres podem ser mais vulneráveis.
”E como qualquer trabalhador estrangeiro
que vai para uma economia
mais próspera” - compara Ozhiganova.
”Há uma grande dificuldade em
relação a língua, eles não conseguem
ler a papelada, o contrato. E um salto
no escuro. ”
TRABALHO ESCASSO
E SALÁRIOS BAIXOS
Para agravar a situação, a quantidade
de aspirantes a modelos é tão grande
que o trabalho é escasso e os salários
podem ser muito baixos.
Alguns trabalhos para revistas,
por exemplo, não são remunerados.
E os honorários podem variar de
100 dólares a 1000 dólares ou mais
para participar de um desfile durante
uma semana de moda ou centenas de
dólares para estrelar a campanha de
uma marca.
No entanto, a dívida dos modelos
não é uma dívida no sentido comum
do termo, diz John Horner, director
da British Fashion Models Association,
que representa as agências britânicas.
Se um jovem modelo não é bem
sucedido e deixa a indústria da moda,
ele não é perseguido para pagar o
dinheiro que “deve”, explica. Em vez
disso, a agência arca com o investimento
que fez. ”Nós assumimos a dívida”.
diz.
Ainda de acordo com Horner, a
maioria dos modelos de sucesso logo
paga o investimento inicial e começa
a ter lucro.
JOVENS E VULNERÁVEIS
Esther Kinnear-Derungs é cofundadora
da Linden Straub, uma pequena
agência criada há três anos em Londres,
para encontrar formas pioneiras
de tratar melhor os modelos.
Ela diz que avançar na carreira e
recuperar gastos faz parte da “natureza
do negócio”. O problema é que
os jovens são vistos como “descartáveis”
por muitas agências, acrescenta
ela. E não é segredo que, nas semanas
de moda, algumas grandes agências
adoptam a postura de que centenas
de novatos podem ser “jogados contra
a parede para ver se grudam”.
Segundo ela, os jovens da Europa
Oriental costumam ser os mais
vulneráveis. Os país ficam felizes em
manda-los para o exterior, acreditando
que é a “grande chance” da vida
deles, e não fazem perguntas suficientes.
Os próprios jovens não tem experiência
para gerenciar as suas próprias
financas ou carreira. ”Acreditamos
que temos a responsabilidade de
educar os modelos desde o primeiro
dia, independentemente de terem
sido descobertos na Sibéria, na África
ou em Londres”. afirma Kinnear-
-Derungs.
Candice (nome fictício) é umamodelo
francesa de ascendência africana.
Ela conta que, quando começou,
não tinha ideia que seria cobrada por
viagens e outras despesas.
“Quando você consegue o seu primeiro
trabalho, você percebe que não
era de graça. ”
‘“Você pergunta sobre o pagamento,
e eles dizem “você não vai receber
dinheiro porque está endividada. Ai,
você entende. - diz
Segundo ela, mesmo que agências
estejam, em última análise, arcando
com o risco financeiro, há uma pressão
psicológica sobre os modelos.
Figuras&Negócios - Nº 205 - OUTUBRO 2020 75