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Elas por elas 2009

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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[ Entrevista ]

entre vários outros. Sua mais nova empreitada, ainda

em fase de pesquisa, é a elaboração de um dicionário

ilustrado do periodismo feminino no Brasil. A

pesquisadora já recolheu 340 títulos de várias regiões

do país. A ideia é catalogar jornais, boletins, revistas

e demais publicações voltadas para as mulheres,

desde o século XIX até os dias de hoje. Uma contribuição

não só para a história do jornalismo, mas

também para a do feminismo brasileiro.

A sra. escreveu um artigo no qual faz uma

divisão do movimento feminista brasileiro em

quatro períodos (em torno dos anos 1830, 1870,

1920 e 1970). Quais são os diálogos estabele ci -

dos entre feminismo e literatura de autoria

feminina nesses períodos?

Esse texto que você menciona é fruto de uma

pesquisa, ainda em processo, que busca exatamente

a resposta dessa pergunta. Ela está me mostrando uma

coisa muito interessante: que as ideias feministas e a

literatura de autoria feminina surgiram na mesma

época. A condição feminina, não importa a classe social

da mulher, era de tal forma rebaixada, submetida, que,

quando as primeiras mulheres conseguem sair dessa

condição e refletir , elas refletem sobre a condição

feminina. Então os primeiros textos de autoria

feminina são também feministas, compreende? Eu

estou vendo o feminismo num sentido muito mais amplo.

Penso-o como uma reflexão em torno da condição

feminina, que vê possibilidades de mudanças dessa

condição.

Havia alguma participação de mulheres nos

círculos literários antes do século 19?

No Brasil não. Estávamos atrasados uns duzentos

a trezentos anos em relação à Europa. Há informações

de escritoras na Europa desde o século 15. Em plena

Revolução F rancesa, h ouve m ulheres q ue f oram

degoladas porque falaram de seus direitos. No Brasil,

para se ter uma ideia, a primeira lei autorizando as mulheres

a aprenderem a ler é de 1827. A história intelectual

da mulher brasileira é muito recente por isso.

É pouco tempo. No século 17, enquanto os jovens da

elite iam estudar em Paris, Lisboa, Coimbra, já que aqui

não havia universidades, as meninas ficavam no

borralho, no canto . A literatura brasileira existia

desde o século 17. Já a de autoria feminina vai surgir

depois de 1800, quando as primeiras mulheres têm

acesso à escrita. Com isso elas passam a ter acesso à

leitura, e ela leva à reflexão.

É possível falarmos em características

comuns dessa literatura? São de fato textos

literários transgressores de uma hegemonia

patriarcal?

Sim, a m aioria. M as n ão p osso g eneralizar.

Quando as mulheres começaram a escrever, elas enfrentaram

muita resistência, não foi fácil. Ninguém

bateu palmas quando as primeiras começaram a escrever.

Pelo contrário, havia muito preconceito. Era

muito comum as primeiras escritoras escreverem com

pseudônimos, masculinos inclusive. Isso até o começo

do século 20. Havia uma intimidação. Publicar é

tornar pública sua pessoa, suas ideias. Isso inibia, a

família era contra muitas vezes. Se tivesse marido, nem

pensar. Eram transgressoras no sentido de denúncia,

de colocar uma personagem transgressora, quase um

alter ego. Rachel de Queiroz, por exemplo, assina com

pseudônimo. A família era totalmente contra. Ela era

parente de José de Alencar, então havia na família uma

tradição literária, mas era masculina. As primeiras

personagens dela são mulheres ousadas, que não

queriam s e c asar, p ois s abiam q ue o c asamento

significava colocá-las numa condição inferior.

Quais escritoras foram precursoras de uma

literatura feminista no Brasil?

Existiram muitas. V ou falar da primeira: Nísia

Floresta Brasileira Augusta, norte-rio-grandense que

morou em Recife, Porto Alegre, R io de Janeiro,

depois foi para a Europa e lá morreu. Ela é a primeira

mulher brasileira a falar sobre direito das mulheres.

Em 1832, com 22 anos, publicou um livro chamado

Direitos das mulheres e injustiça dos homens; injustiça

dos homens em não reconhecer os direitos das

mulheres, é claro. Esse livro mostra que ela estava a

par das ideias mais avançadas que circulavam na

Europa em seu tempo em relação aos direitos das mu-

16 ELAS POR ELAS - AGOSTO DE 2009

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