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Elas por elas 2009

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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[ Entrevista ]

sintomático. Ele diz que quando ele leu O Quinze

(Rachel de Queiroz), de 1930, não acreditou que teria

sido escrito por uma mulher. Ele disse, de tão bom

que era: “isso aqui é um pseudônimo de algum

barbado. Nenhuma mulher escreveria assim”. Logo

depois, em 1931, ela lança o segundo, João Miguel,

com a mesma temática, isto é, a denúncia

contundente da realidade do Nordeste. Aí Graciliano

viu a fotografia dela. Era tão forte o preconceito dentro

dele, de que mulher não poderia escrever coisa

boa, que, mesmo vendo a foto de Rachel de Queiroz,

não acreditou que ela existisse. Ele disse isso, que

demorou um bom tempo para ver que estava errado.

A sra. destacaria algum romance que seja representativo

dessa literatura feminista?

Um dessa época é o da Patrícia Galvão. Ela publicou

um romance fantástico chamado Parque industrial

(1933). A narrativa d estaca, e ntre o s

operários, a vida de uma operária, uma mocinha pobre,

semianalfabeta, da periferia de São Paulo, que

precisa trabalhar e é seduzida pelo patrão e estuprada

pelo rapazinho boa-pinta que promete casamento. Ela

mostra nesse romance uma série de situações das mulheres

da época que se expunham ao trabalho. Além

de serem exploradas pelo trabalho, como operárias,

eram também exploradas por serem mulheres. Há a

questão da violência sexual, do aborto, uma série de

problemas do gênero feminino. Então há uma questão

de classe, mas de gênero também.

A sra. diz que apenas em meados do século

19 é que começaram a surgir os primeiros

jornais dirigidos por mulheres. Como eram

esses jornais?

Os primeiros donos de jornais no Brasil eram estrangeiros,

principalmente franceses e ingleses. Em

1827, um francês, em São João Del Rei, abriu um

jornal chamado O Mentor das Brasileiras . Em

Recife, outro francês, que era dono de um grande

jornal da cidade, abriu O Espelho das Brasileiras.

Mas o primeiro jornal que se tem notícia voltado para

o público feminino e dirigido por uma mulher foi o

Jornal das Senhoras, de 1852, no Rio de Janeiro. É

a partir desse último que começaram a pipocar outros

tantos.

Como foi a recepção desses jornais? Houve

muita reação por parte dos críticos?

Provavelmente. Eu não tenho muitos registros

da recepção. O que eu tenho é recepção positiva. Por

exemplo, em 1873, em Campanha das Princesas, em

Minas Gerais – hoje é só Campanha–, uma mineira,

chamada Francisca Senhoria da Paula Diniz, abriu um

jornal chamado Sexo Feminino , bárbaro,

contundente, interessantíssimo! T inha oitocentos

assinantes na cidade. Esse jornal só funcionava com

assinatura. Eu fico imaginando: o que era Campanha

nos anos de 1870? Depois ela vai para o Rio de Janeiro,

e o jornal dobra o número de assinantes. Ela diz isso

no editorial da primeira edição no Rio de Janeiro, em

1875. Dom Pedro e Princesa Isabel eram assinantes.

Veja, se você vai estudar a história da imprensa no

Brasil, com Werneck Sodré ou qualquer outro, isso

não existe. Por causa do cânone. Ele [Werneck] registra

jornais de dois anos, de um ano, de cinco

números, mas não registra o que durou vinte anos.

Podemos falar em de literatura de autoria

feminina? Ou isso não faz muito sentido, pois

literatura é literatura, independentemente de

sexo? Quero dizer o seguinte: existe uma voz

especificamente feminina?

Quem tem sexo não é a literatura, é quem escreve.

É como se a literatura estivesse acima das classes

sociais, dos gêneros, das etnias. Isso é uma falácia;

porque a literatura está dentro do seu tempo. Ela tem

uma autoria. Isso é minha opinião. Há um olhar, uma

perspectiva. Então a tentativa de negar a existência

de uma literatura feminina é porque a outra literatura,

a masculina, que sempre existiu, virou “a” literatura,

sem questionamentos, sem adjetivação. Percebe?

Mas existe uma voz especificamente femi -

nina?

Existe. É minha opinião, existe. Não estou

dizendo que toda a literatura de autoria feminina tenha

esse olhar, essa apropriação.

18 ELAS POR ELAS - AGOSTO DE 2009

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