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línguas, o para quê?, vai ligado às pessoas que as falam. Podia<br />
vir-nos à cabeça o inglês, não por acaso a língua do PIB nº 1<br />
do planeta, os EUA e do nº 7, o Reino Unido. Para que serve o<br />
inglês? No mínimo, para muito mais do que servia na época<br />
de Robin Hood e João sem Terra numa altura em que as elites<br />
inglesas falavam normando (francês).<br />
Uma segunda pergunta suscetível de se fazer de uma língua<br />
é: como é? Num olhar superficial, podemos pegar numa<br />
gramática e num dicionário e proclamar: é assim. Se ultrapassamos<br />
a epiderme, que é bem melhor, deparamos com<br />
que as línguas não são um presente de indicativo: é, mas um<br />
gerúndio: sendo. Que ninguém se assuste, metafísica fora!<br />
mas na verdade as línguas são processos. Um(a) físico(a) poderia<br />
fazer metáforas magníficas com ondas de energia... eu,<br />
infelizmente, não dou.<br />
Neste sentido, as línguas, quer sejam hegemónicas num<br />
espaço social, quer periféricas, estão em processos e seguem<br />
umas direções concretas. Peguemos no castelhano para<br />
exemplificar isto. As sociedades que o falam, como quase<br />
todas as sociedades, estão expostas ao inglês (não ao de Robin<br />
Hood mas o de Bill Gates) e centenas de palavras estão a<br />
formar parte do dia a dia das pessoas que falam o dialeto de<br />
Burgos. Este seria um processo: entrada de anglicismos. Ora,<br />
o castelhano é uma língua com uma forte presença social em<br />
vinte e tantos países e o seu para quê, a sua função, não é a<br />
mesma em todos eles. Uma conversa como a que se segue 1<br />
seria improvável em Madri ou em Buenos Aires mas não em<br />
Illinois ou Nova Iorque:<br />
— Ábrela tú.<br />
— ¿Por qué yo? Tú tienes las keys. Yo te las entregué. Además,<br />
I left mine adentro.<br />
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