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da noçom foucaultiana de biopolítica 18 . Com efeito, a caraterizaçom<br />
que Agamben fai do (bio)poder é transcendente,<br />
negativa e simplesmente repressiva. Face a esse género absoluto<br />
de poder, o sujeito, caraterizado como «nua vida», carece<br />
por completo de agência, de capacidade de resistência e, em<br />
suma, mesmo de estatuto de sujeito. Esta proposiçom é limitada<br />
para compreender as caraterísticas do excecionalismo<br />
penal do s. XXI, mesmo que seja só porque semelha presentar<br />
um biopoder unidimensional, sem fendas, que implementa<br />
o seu decisionismo sem ter que fazer contas com nengum<br />
género de resistência. Seguramente seria muito mais acaído<br />
retornar ao quadro analítico da teorizaçom foucaultiana sobre<br />
os dispositivos biopolíticos de governo, no qual o poder<br />
aparece como positivo, produtor e, sobretudo, imerso numha<br />
perpétua tensom com as resistências. Face a isto, a perspetiva<br />
agambeniana mesmo corre o risco de constringir o sujeito à<br />
inanidade política, na medida em que nom contempla nengum<br />
espaço para a resistência frente ao excecionalismo.<br />
A segunda eiva que cabe apreciar hoje nos textos de<br />
Agamben sobre o Estado de exceçom tem a ver com essa<br />
constataçom da existência de resistências, e do protagonismo<br />
destas na redefiniçom do tempo histórico presente. Com<br />
efeito, face à retórica que se empregou institucionalmente<br />
para dotar de sentido à guerra global contra o terrorismo,<br />
hoje resulta evidente que essa ferramenta de redefiniçom<br />
da soberania global fracassou de vez. O seu modelo bateu<br />
violentamente com a resistência de todo o género de atores<br />
—institucionais e nom institucionais— opostos a aquele modelo<br />
soberano global.<br />
Poderia discutir-se se aquele paradigma geopolítico concluiu<br />
simbolicamente em setembro de 2008, com a quebra de<br />
Lehman Brothers, ou em janeiro de 2009, com a tomada de<br />
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