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POR UMA DEMOCRACIA RADICAL - ecrim

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com a caneta e o papel em lugar de serem cometidos em escuros<br />

becos e a golpe de faca. Mas esta verdade implacável<br />

não teve reflexo então, nem o tem agora, na legislação penal<br />

nem na política penitenciária: continua-se a penalizar a pobreza<br />

e a organização cidadã, seja esta da índole que seja, que<br />

reivindica a defesa dos direitos e liberdades; finalmente, os<br />

delinquentes de classe alta continuam a campar à sua vontade<br />

com a sua reputação intata.<br />

A atual reforma do Código Penal (CP) espanhol, Lei Orgânica<br />

5/2010 (a vigésimo quinta desde a reforma de 1995),<br />

que atinge mais de 150 artigos, praticamente 25% do CP, continua<br />

a orientação que iniciaram as precedentes: incremento<br />

do número de delitos, endurecimento das penas dos já<br />

existentes e endurecimento, também, das normas relativas à<br />

sua execução, com a escusa pré-fabricada de que com estas<br />

medidas serão combatidas situações graves (delitos contra a<br />

vida ou a liberdade sexual), mas que rematam sendo implantadas<br />

para todas as situações, inclusive as mais leves. Este<br />

efeito, a chamada vis expansiva do Direito Penal é o que se<br />

reflete no ordenamento jurídico espanhol e na sua realidade<br />

penitenciária. Existe, aliás, um claro efeito ação-reação no<br />

poder legislativo, que contradiz o princípio sobre o qual pretende<br />

estar assentado o Direito Penal, isto é, «ser a última<br />

ratio que o Estado tem contra o indivíduo». Nada mais longe<br />

da realidade. A política criminosa como elemento protagonista<br />

desta sociedade do medo, tem que se erigir em atriz<br />

principal; assim, o CP está a ser objeto de modificações a golpe<br />

de telejornal, tertúlia radiofónica, campanha eleitoral ou<br />

programa do coração, onde se clama pelo agravamento das<br />

penas de um determinado delito sobre o que previamente se<br />

gerou um desmedido alarme social para condicionar a opinião<br />

pública, infundindo um sentir geral de insegurança, que<br />

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