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futura que viverá materialmente pior do que a sua antecessora,<br />
arrisca-se a alterar, com isso, a relação que Jean-Christophe<br />
Rufin (1995 [1994]: 171) dissecou ao notar como nas<br />
sociedades de oligarquia liberal,<br />
observando os média e a informação, poderemos dizer que o<br />
paradoxo democrático está em colocar a exclusão no centro<br />
das atenções. […] Se a temperatura baixar, os sem-abrigo invadem<br />
os ecrãs, a sociedade mergulha nos seus subsolos, visita os<br />
passeios, faz subir à superfície aqueles que ela própria rejeita.<br />
Por outras palavras, diz ainda Rufin (op. cit.: 172), a<br />
representação coletiva concentra-se nas periferias; maneja o<br />
medo e alimenta o apocalipse da explosão, mas ao mesmo tempo<br />
reconduz ao seio da sociedade aqueles que dela se distanciaram.<br />
Institucionaliza e diversifica o consentimento automático,<br />
o contrato social fundado não sobre a adesão a valores mas na<br />
impossibilidade de os rejeitar sob pena de morte.<br />
Tudo isto por contraste com o que se passava nas «emissões<br />
de televisão dos países totalitários: aí, o poder é magnífico<br />
[…] Para glorificar o trabalho não deixam de mostrar as fábricas,<br />
os movimentos dos operários». A sociedade dominada<br />
pelo capital «essa, apesar da sua extraordinária capacidade<br />
produtiva, prefere esconder as suas ferramentas. As suas fábricas<br />
não aparecem no ecrã a não ser quando fecham […] os<br />
aviões, os navios, os comboios não têm interesse senão quando<br />
entram nos abismos das catástrofes» (Rufin, 1995 [1994]:<br />
171). A necrose do sistema introduz a morte não como retórica,<br />
mas como coisa, no sentido durkheimiano da expressão:<br />
como declínio, frustração e esquecimento não conseguido.<br />
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