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POR UMA DEMOCRACIA RADICAL - ecrim

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não integráveis no sistema político. […] a criação voluntária de<br />

um estado de urgência permanente (mesmo se não declarado<br />

no sentido técnico) tornou-se uma das práticas essenciais dos<br />

Estados contemporâneos, compreendendo entre eles os que<br />

chamamos democráticos.<br />

Tendendo a apresentar-se «cada vez mais» como «paradigma<br />

dominante de Governo», prossegue o pensador italiano, esta<br />

«passagem de uma medida provisória e excecional a uma<br />

técnica de governo» configura-se como «um patamar de indeterminação<br />

entre democracia e absolutismo» (pp. 11,12). A<br />

prática da «exceção» é historicamente baseada na evocação<br />

da «necessidade» perante uma ameaça. Com os modernos,<br />

porém «o estado de necessidade […] tende a ser incluído na<br />

ordem jurídica», criando «uma zona ambígua e incerta, onde<br />

os procedimentos de facto sejam extra ou anti-jurídicos se<br />

transformam em direito e onde as normas jurídicas se indeterminam<br />

em puro estado de facto» (pp. 44 e ss.). Embora<br />

seja este o cerne do tema, faltará ainda recensear a leitura de<br />

Agamben segundo a qual depois de ter sido «laboratorialmente»<br />

ensaiado na Europa de entre-guerras na sua condição<br />

de «paradigma de governação» (p. 19), o estado de exceção<br />

emerge, por fim, como «uma tendência em marcha em todas<br />

as democracias ocidentais», de um expediente pelo qual «a<br />

declaração do estado de exceção é progressivamente substituída<br />

por uma generalização sem precedentes do paradigma<br />

da segurança como técnica normal de governo» (p.29).<br />

Estratégia de indiscriminação do poder, a coberto de uma<br />

retórica de medo, portanto. Ora, convocando o pensamento<br />

de Michel Foucault, o poder não é apenas um dispositivo<br />

que priva, que reprime e que oprime, mas é também uma<br />

instância produtora, positiva. Diz Foucault (1992 [1977]: 7):<br />

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