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O desafio das diferenças nas escolas - TV Brasil

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principalmente, pelo preconceito que permeia a nossa sociedade, ainda incrustado<br />

culturalmente em cada um de nós...<br />

Nem sei bem se tinha claro dentro de mim essas assertivas, quando, em 15 de julho de 1981,<br />

<strong>nas</strong>ceu minha filha Débora, com a síndrome de Down.<br />

A síndrome de Down, na época denominada “mongolismo”, significava uma condição prenhe<br />

de discriminação, de ausência de perspectivas, uma verdadeira ameaça. Essa discriminação<br />

me agrediu, me desnorteou, me pôs pelo avesso. E me fez desejar morrer e que ela, “a<br />

menina” morresse antes de sair da maternidade. O <strong>nas</strong>cimento de Débora foi marcado por<br />

sofrimento intenso, mescla de frustração, rejeição e desespero. Entendemos hoje, com clareza,<br />

que o nível da dor sequer pôde ser amenizado por estímulos de histórias bem-sucedi<strong>das</strong>, pois,<br />

à época, a desinformação em nossa cidade (Natal/RN), sobre a síndrome de Down, era<br />

absoluta. As referências eram totalmente desastrosas, marca<strong>das</strong> pelo preconceito e abandono:<br />

as famílias que tinham a “desventura” de ter filhos “diferentes” os escondiam, nada lhes<br />

oportunizando, pois os tinham como absolutamente incapazes.<br />

Foi longo, muito longo, o caminho para se chegar a um equilíbrio, sobretudo no sentido de se<br />

retomar o nível de felicidade pessoal, o que somente se tornou possível à medida que juntos –<br />

meu marido e eu –, com apoio de familiares e amigos, enfrentamos o problema. Suas<br />

contínuas verbalizações contribuíram para que fôssemos entendendo nossos próprios<br />

sentimentos, que eram, inclusive, seriamente marcados pela rejeição.<br />

Pois bem. Num determinado momento, nem sei bem quando e como, senti algo maior que o<br />

sofrimento que vivenciava. Pensei: “ É... ela é mongol, mongolóide, seja lá que terrível rótulo<br />

se lhe dê... mas é a minha filha. E vai ser do jeito DELA e não estereotipada como as poucas e<br />

maltrata<strong>das</strong> pessoas com síndrome de Down que permeavam as minhas lembranças, que<br />

raramente vi, na infância e adolescência”.<br />

A partir de então entramos – o casal em uníssono – num outro momento de viver a<br />

experiência de ter uma filha com síndrome de Down e não mongol ou mongolóide, com a<br />

clareza de que lhe seriam enseja<strong>das</strong> as mesmas oportunidades que ao filho mais velho,<br />

Frederico. Naturalmente com os facilitadores que lhe fossem necessários, numa prática de<br />

tratar desigualmente os desiguais, em algumas situações, a fim de que pudesse alcançar o<br />

mesmo objetivo do irmão, por um caminho para ela possível.<br />

O DESAFIO DAS DIFERENÇAS NAS ESCOLAS. 33 .

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