LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
16<br />
O gênero dramático<br />
Na épica, o narrador apresenta a ação progressivamente, através de análises e descrições, estendendo-se longamente.<br />
Na obra dramática, ao contrário, há uma economia de meios, devido ao fator tempo (que é limitado).<br />
A ação épica se estende no tempo e no espaço, deslocando-se de um lugar para outro, do passado para o futuro.<br />
A ação dramática tem como espaço o palco, no momento da representação, coagida a uma seleção de lances<br />
num ritmo acelerado. Na épica, o narrador se demora em cada parte, importante em si mesma, pois seu objetivo<br />
não é o final. No drama não há essa visão setorial (por partes), mas há uma visão globalizante, que se volta<br />
para o que vai acontecer e instiga a ação para o final, para o desfecho. Esta preocupação faz com que todas as<br />
partes se relacionem entre si e com o todo, interdependentes. Este conjunto que se volta para o que vai ocorrer<br />
é o que Staiger chama de tensão.<br />
Fenômenos estilísticos do gênero dramático<br />
A maneira dramática: na obra lírica a relação entre o autor e o mundo é de envolvimento, na épica, de confronto,<br />
de distanciamento, visto que o narrador é o mediador do relato. Na obra dramática o autor desaparece<br />
atrás do mundo criado, visto que os acontecimentos se desenrolam autonomamente, sem interferência do narrador.<br />
A ação é desenvolvida por meio de personagens num palco, como representação do mundo.<br />
A maneira dramática consiste, pois, no modo de realização das ações, que faz as personagens aparecerem e<br />
agirem diante de nós. A ação se desenrola através de acontecimentos que revelam as personagens, situadas num<br />
determinado lugar e numa determinada época. Ausente o narrador, as personagens são responsáveis para dar<br />
conta das ações, através da representação [Drama = ação].<br />
A tensão dramática, dinamizada pelo alvo a alcançar, impulsiona a ação e suprime todo o excesso. Daí decorre<br />
a concentração ou densidade.<br />
Convém restringir o tempo, economizar espaço e escolher um momento expressivo da longa história, um momento<br />
pouco antes do final, e daí desse ponto reduzir a extensão a uma unidade sensivelmente palpável, para<br />
que, ao invés de partes, grupos coesos ao invés de passagens isoladas, o sentido global fique claro, a fim de que<br />
nada do que o espectador deva fixar se perca.<br />
A obrigação da concentração e do sentido global mobilizado em função de desfecho se conexiona com a unidade<br />
de ação. Tal unidade condensa num todo coeso a ação principal e as acessórias. A ela se junta a unidade de<br />
lugar, pela concentração da encenação às vezes num só cenário, e a unidade de tempo, que é sempre restrito.<br />
O diálogo é a forma natural de as personagens, emancipadas do narrador, desenvolverem a ação. A respeito<br />
dele, Anatol Rosenfeld afirma:<br />
O que se chama, em sentido restrito, de “dramático”, refere-se particularmente ao entrechoque de vontades<br />
e à tensão criada por um diálogo através do qual se externam concepções e objetivos contrários produzindo<br />
o conflito (ROSENFELD, 1996).<br />
A ação, provinda do choque de interesses opostos, antes de chegar ao desfecho, passa por momentos chamados<br />
nó (conjunto de interesses que destrói a situação inicial para encetar a ação), reconhecimento (passagem<br />
da ignorância ao conhecimento de uma dada situação), peripécia (mudança da ação ao contrário do que se<br />
esperava) e clímax (ponto culminante do conflito, depois do qual a trama deve terminar).