LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
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UNIDADE II<br />
O LIRISMO<br />
2.1 - O Surgimento da Poesia Lírica na Grécia<br />
A poesia lírica, na antiga Grécia, ritmava a dicção dos<br />
textos subjetivos, a partir do instrumento que a acompanhava<br />
– a lira. Esse acompanhamento musical já<br />
deixava de ser executado na passagem da poesia grega<br />
para a romana, mas veio definitivamente divorciado a<br />
partir do chamado Doce Estilo Novo, movimento poético<br />
italiano nascido na Baixa Idade Média. Com o desaparecimento<br />
da melodia, determinados traços musicais<br />
foram acrescidos ao verso: ritmo, rima, aliteração<br />
e outros aspectos que acentuam a sonoridade.<br />
Segundo a professora Nely M. Pessanha, a poesia<br />
dita lírica, na Grécia Antiga, “nem sempre é expressão<br />
da entrega, do abandono ao fluxo e refluxo dos<br />
mais variados sentimentos; nem sempre é manifestação<br />
do estado anterior à distinção sujeito-objeto, de<br />
onde resulta o ‘um no outro’, de que fala Emil Staiger.<br />
Pode ela ‘recordar’, pode trazer de novo ao coração<br />
as ressonâncias de um estado sincrético entre o ‘eu’<br />
e o ‘outro’”. Isto se explica historicamente.<br />
Se lírica se refere ao instrumento, o sintagma “poesia<br />
lírica” alcança dimensões maiores, visto que a<br />
significação se amplia e a expressão passa a designar<br />
2.2 - Momento Histórico<br />
O surgimento e expansão da lírica na Grécia está<br />
no bojo de grandes transformações políticas, sociais,<br />
econômicas e culturais, decorrentes das ações de colonização<br />
e de ampliação de uma economia voltada<br />
para o comércio e as navegações.<br />
No século VII a.C., as cidades gregas viviam sob o<br />
governo das oligarquias, que substituíram os governos<br />
monárquicos. O poder era, então, aristocrático,<br />
fundado na ancestralidade, reconhecida como divina,<br />
e na riqueza, ligada à propriedade rural. Naquele<br />
século, a expansão do mundo grego, através da emigração,<br />
se fazia indispensável, visto que a população<br />
aumentara e o solo era pobre. Fundaram-se colônias<br />
às margens do mar Egeu e do mar Jônio, onde havia<br />
terras propícias à agricultura. Assim, nasceram novas<br />
cidades e a Grécia Continental e Asiática.<br />
O comércio e a navegação levaram os gregos a negociar<br />
(cereais, matérias-primas, metais preciosos,<br />
todo o poema cantado, acompanhado de um instrumento<br />
musical de cordas: lyra, phórminx, kítharis,<br />
bárbitos – ou de sopro – o aulós.<br />
Iniciando-se no século VII a.C., passando melodiosamente<br />
pelo século VI e ainda ressoando no século<br />
V, ressurge renovada nos séculos III e II a.C. Há, pois,<br />
dois momentos distintos na história da lírica grega: a<br />
lírica arcaica e a lírica alexandrina. A lírica arcaica<br />
constitui a Idade Lírica. Sobre ela faremos considerações<br />
mais prolongadas.<br />
A lírica alexandrina floresceu numa época de anseios<br />
de erudição, nos séculos III e II a.C. Caracteriza-se<br />
sobretudo pelo culto da forma, pela busca da<br />
expressão rara, pelo distanciamento da linguagem coloquial.<br />
Os poetas dessa época são, por assim dizer,<br />
os longínquos precursores do Parnasianismo: tinham<br />
o lema da Arte pela Arte. Os alexandrinos deixaram<br />
de cultivar muitas das modalidades da lírica arcaica<br />
ou transformaram-nas profundamente. Cultivavam a<br />
elegia, de conteúdo amoroso e mitológico. O idílio e<br />
a poesia bucólica foram as criações (formas novas)<br />
desse período.<br />
lãs, vinho, azeite, produtos manufaturados, como a<br />
cerâmica) para além do mundo grego, chegando, por<br />
exemplo, à Síria e ao Egito.<br />
As oligarquias, que tinham um poder absoluto, começam<br />
a sofrer pressões de uma emergente classe<br />
média, de uma “burguesia” (oriunda do comércio)<br />
que reivindica participação no governo. A introdução<br />
da moeda e as transações comerciais mudou o conceito<br />
de riqueza, até então assentada na posse de grandes<br />
quantidades de terra. Os pequenos agricultores são<br />
obrigados a contrair dívidas na tentativa de superar os<br />
efeitos de uma má colheita. Não conseguindo pagálas,<br />
perdem as terras e são reduzidos à condição de<br />
simples trabalhadores e de escravos.<br />
Tal fato impele os camponeses para o outro lado do<br />
mar. Inicia-se, ao mesmo tempo, o movimento reivindicatório<br />
de novas leis, como: anistia das dívidas, divisão<br />
das terras (reforma agrária) e a publicação de<br />
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