LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
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panhado pelo coro, canta o texto, um livrinho escrito<br />
por um poeta. O mais importante, no entanto, era a<br />
dança. Assemelhava-se, de certa forma, aos primeiros<br />
jogos cênicos latinos, conforme os modelos do ludis-<br />
3.8 - As Tragédias de Sêneca<br />
Os poetas dramáticos não desapareceram, mas tornaram-se<br />
amadores. Os profissionais partem para o que<br />
lhes interessava: os livrinhos de textos para a pantomima.<br />
Entre os oradores engajados e os livristas interessados,<br />
encontram-se alguns dramaturgos na linha de Ênio<br />
e de Ácio. Sêneca é um deles. É graças a ele que temos<br />
acesso a textos completos de tragédias romanas.<br />
Lucius Annaeus Seneca<br />
Nasceu entre 2 a.C. e 2 d.C. em Córdova, Espanha. Seu<br />
pai era um rico cavaleiro romano, que deixa a Espanha<br />
quando seu filho era ainda bebê. Depois de uma agitada<br />
juventude que acabou com seu exílio na Córsega, por<br />
ordem do Imperador Cláudio, tornou-se o pedagogo de<br />
Nero, juntamente com Burrus, e foi seu primeiro ministro.<br />
Estóico, é acusado de ter aconselhado Nero no assassinato<br />
da mãe do Imperador, Agripina. Foi posto de lado<br />
por Nero, que se lança em sua loucura política. Envolvido<br />
na conjuração contra Nero, suicida-se em 64 p.C.<br />
A leitura das tragédias de Sêneca revela obras cuja eficácia<br />
espetacular é evidente. Elas não são inteligíveis sem<br />
a reconstituição do espetáculo em que elas poderiam ter<br />
lugar. A estrutura se organiza não por uma lógica do discurso,<br />
mas pela encenação do ator. Essas tragédias foram<br />
representadas? Nunca saberemos, mas o importante é que<br />
elas foram escritas como se devessem ser representadas e<br />
como obras de propaganda destinadas à leitura pública.<br />
Elas são suscetíveis de uma interpretação filosófica?<br />
Não se pode, salvo incríveis distorções intelectuais,<br />
por não dizer de sofismas, chamá-las de obras estóicas.<br />
Talvez elas ofereçam uma filosofia pessimista do<br />
poder absoluto e do heroísmo em geral, mas elas afirmam<br />
que o homem heróico não tem senão a escolha<br />
entre a santidade e a monstruosidade, duas maneiras<br />
de excluir a humanidade.<br />
Suas obras dramáticas são: Agamêmnon, Hércules<br />
Furioso, Hércules no Eta, As fenícias, As troianas,<br />
Medéia, Édipo, Fedra e Thiestes.<br />
A Atualidade do Teatro Latino<br />
O tipo de teatro proposto pelo teatro latino corresponde<br />
à evolução contemporânea do palco. Esse<br />
teatro, onde o musical ocupa o papel principal, que<br />
mo do IV século a.C. A única diferença era que os<br />
assuntos eram tomados da mitologia grega. A pantomima<br />
tornou-se, até o final do Império, o espetáculo<br />
por excelência representado em toda a Europa.<br />
não tem nada de intelectual visto que se endereça à<br />
sensibilidade e não à reflexão, este teatro sem distanciamento<br />
e sem mensagem, que não visa a nada senão<br />
a produzir um espetáculo total, é, por todas as razões,<br />
redescoberto pelos grupos de vanguarda americanos<br />
e japoneses. O teatro latino, do mesmo modo, exige<br />
corpos e vozes para conseguir reter a expressão de<br />
paixões elementares e dar livre curso ao rir.<br />
É preciso ainda lembrar que a comédia e a tragédia<br />
latinas passaram além das fronteiras do tempo da<br />
existência do Império Romano. Quando, no Renascimento,<br />
a Europa descobre o teatro antigo, é, de início,<br />
através das tragédias de Sêneca. Admiraram-no e o<br />
imitaram os poetas trágicos em toda a Europa, até à<br />
época clássica, de Shakespeare a Corneille. Os poetas<br />
barrocos não conheciam outro autor clássico vindo da<br />
Antigüidade. Na época clássica, na França, no século<br />
XVII, visto que a tragédia grega eclipsou a tragédia<br />
latina, uma comédia de conteúdo psicológico se impôs.<br />
É dessa época que surge a desafeição pelo teatro<br />
latino depois de muitos séculos. Somente alguns espíritos<br />
isolados, Antonin Artraud ou Robert Brasillach,<br />
na primeira metade do século XX, releram Sêneca e<br />
encontraram sua pujança trágica. A dimensão musical<br />
do teatro de Plauto e de Terêncio não foi, por seu<br />
turno, verdadeiramente redescoberta. Finalmente, a<br />
relação que cada época tem com o teatro latino é revelador<br />
de sua própria estética teatral. É preciso, para<br />
ser capaz de redescobrir o teatro latino, saber fazer do<br />
espetáculo uma festa.<br />
Medéia<br />
Texto I<br />
Prólogo (v. 1-55)<br />
O primeiro canto de Medéia, monólogo de abertura<br />
da tragédia, é ao mesmo tempo um canto de dolor e<br />
um anticanto do himeneu, dando espaço, na entrada, a<br />
uma estrutura de inversão: a queixa da dolor se opõe<br />
termo a termo ao feliz canto do himeneu constituído<br />
pelo primeiro coro.<br />
Este prólogo de Medéia deve ser lido do ponto de<br />
vista do código e da estrutura. Do ponto de vista do<br />
espetáculo, síntese dos dois precedentes, a cena torna<br />
imediatamente sensível a decadência de Medéia,<br />
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