LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
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e religioso, os poemas homéricos são uma colcha de retalhos<br />
com rótulos de civilizações diferentes no tempo e<br />
no espaço. Não obstante todas essas dificuldades, alguns<br />
elementos micênicos podem, com boa margem de segurança,<br />
ser detectados no meio dos dois grandes poemas.<br />
Consoante Homero, o que parece autêntico, o mundo<br />
micênico era um entrelaçamento de reinos pequenos<br />
e grandes, mais ou menos independentes, centralizados<br />
em grandes palácios, como Esparta, Atenas, Pilos,<br />
Micenas, Tebas..., mas devendo fidelidade, ou talvez<br />
vassalagem, não se sabe muito bem por que, ao reino<br />
de Agamêmnon, com sede em Micenas. Além deste<br />
aspecto político, há outros a considerar. M. Helena da<br />
Rocha Pereira alinha alguns elementos aqueus presentes<br />
na epopéia homérica. “Ora, os Poemas Homéricos<br />
descrevem, fundamentalmente, a civilização micênica,<br />
embora ignorem a sua forte burocratização e a<br />
abundância de escravatura, reveladas pelas tabuinhas<br />
de Pilos. Mas, entre os principais elementos micênicos,<br />
podemos apresentar: as figuras e seus epítetos;<br />
a riqueza de Micenas (era rica em ouro); a raridade<br />
do ferro; a noção de que anáks (o senhor, o príncipe,<br />
rei com poderes religiosos e militares) é mais do<br />
que basileus (rei com poderes políticos); o fausto dos<br />
funerais de Pátroclo; a arquitetura dos palácios, nomeadamente<br />
a presença do mégaron; objetos como o<br />
elmo de presas de javali, a taça de Nestor e a espada<br />
de Heitor, com um aro de ouro”.<br />
Mas se comprovadamente existem elementos micênicos,<br />
de fundo e de forma, nos poemas homé-<br />
A Ilíada<br />
Primórdios da Guerra de Tróia<br />
A Ilíada trata de apenas uma pequena parte da Guerra<br />
de Tróia. De fato, só abarca alguns meses durante o<br />
décimo ano dessa guerra. Os gregos antigos, porém,<br />
estavam familiarizados com todos os acontecimentos<br />
que tinham conduzido a esse décimo ano e, no decurso<br />
da Ilíada, Homero faz muitas referências a diversos<br />
fatos passados.<br />
A lenda começa há séculos, com a construção da<br />
cidade de Tróia. Esta estava sob a proteção dos filhos<br />
de Zeus, o pai dos deuses. O rei da cidade era<br />
Laomedonte, que, por ela prosperar rapidamente, decidiu<br />
fazer uma enorme muralha para sua proteção.<br />
Esta é evidentemente a muralha que os gregos não<br />
conseguiram penetrar durante nove anos – o ponto<br />
em que começa a Ilíada. Para uma construção tão<br />
magnífica era necessário evocar o auxílio divino, e o<br />
deus dos mares e dos oceanos, Posídon, ofereceu-se<br />
para ajudar, mas disse que teria de ser compensado<br />
pelos seus esforços.<br />
ricos, como pode o bardo máximo da Hélade ter<br />
conhecimento, por vezes tão preciso, de um mundo<br />
que ele cantou cerca de quatro ou cinco séculos depois?<br />
A escrita já existia, é verdade, e cinco séculos<br />
também antes do poeta, mas aquela, a Linear B, era<br />
usada, sobretudo em documentos administrativos<br />
e comerciais e não em textos de caráter literário.<br />
Parece que os poderosos senhores do mundo aqueu<br />
julgavam indigno ou desnecessário que suas façanhas<br />
fossem gravadas em tabuinhas de argila. E<br />
realmente não era necessário, pela própria técnica<br />
poética da época. A poesia épica missênica é oral<br />
e tradicional, uma poesia não escrita e transmitida<br />
de geração a geração. Uma poesia áulica, cheia de<br />
fórmulas de caráter religioso e militar e cuja sobrevivência<br />
se deveu aos aedos (cantavam ao som<br />
da cítara, improvisando, inspirados pelos deuses)<br />
e rapsodos (poetas que costuravam os versos sem<br />
cantar, apenas recitando-os).<br />
(....) Os poemas homéricos resultam, pois, de um longo,<br />
mas progressivo desenvolvimento da poesia oral, em<br />
que trabalharam muitas gerações. Usando significantes<br />
do fim do séc. IX e meados do séc. VIII a.C., épocas em<br />
que foram, ao que parece, ‘compostas’, na Ásia Menor<br />
grega, respectivamente a Ilíada e a Odisséia, o poeta nos<br />
transmite significados do séc. XIII ao séc. VIII a.C. O<br />
mérito extraordinário de Homero foi saber genialmente<br />
reunir esse acervo imenso em dois insuperáveis poemas<br />
que, até hoje, se constituem no arquétipo da épica ocidental”<br />
(BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega.<br />
Petrópolis, Ática, 1996. v. III).<br />
No fim dos trabalhos, os troianos pensaram que<br />
a muralha era tão impenetrável que se recusaram a<br />
compensar Posídon. Este retirou então a sua proteção<br />
e, assim, a cidade ficou sem a proteção divina e vulnerável<br />
ao ataque.<br />
Na altura da Guerra de Tróia, a cidade era governada<br />
pelo rei Príamo, casado com Hécuba, a qual, segundo<br />
a lenda, deu-lhe 49 filhos, incluindo o nobre Heitor,<br />
a profetisa Cassandra, Páris e muitos outros. Quando<br />
Hécuba estava grávida de Páris, teve o sonho de que<br />
esse filho seria a causa da destruição de Tróia. Um oráculo<br />
e um adivinho confirmaram que ele seria efetivamente<br />
a causa da destruição total da nobre cidade de<br />
Tróia; portanto, para o bem da cidade, Hécuba concordou<br />
em abandonar o recém-nascido à morte, expondoo<br />
no monte Ida, mas ele foi salvo por pastores e cresceu<br />
como pastor, ignorante do seu nascimento real.<br />
Pouco antes do início da Guerra de Tróia, Zeus preparou<br />
o casamento de Tétis (uma deusa) com Peleu<br />
(um mortal); serão a mãe e o pai do nobre Aquiles. No<br />
casamento, todos os deuses e deusas compareceram e<br />
estavam a divertir-se, quando Éris, a deusa da discór-<br />
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