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LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco

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42<br />

O prólogo termina com a afirmação repetida de que<br />

a ação vai ser de antinúpcias e de anulação das núpcias<br />

passadas de Medéia e Jasão. O nó da ação é ao<br />

mesmo tempo dado como a relação existente entre a<br />

tragédia e as lendas mitológicas. O que é objeto de<br />

narrativa são os crimes mitológicos, tornados crimes<br />

trágicos. Não há tragédia, hoje, senão porque sobreveio<br />

à lembrança a vingança de Medéia, e essa vingança<br />

não foi digna de memória, visto que com ela<br />

Medéia se abandona da condição humana por um crime<br />

mitológico, ou seja, trágico. Aqui, é o poeta quem<br />

fala, dando, por assim dizer, a regrada escritura da<br />

tragédia, que deve ser representada como um scelus<br />

nefas para justificar sua razão de ser:<br />

Medéia repudiada deve tornar-se legendária.<br />

Narramos já a história das núpcias.<br />

Como tu deixarás teu esposo?<br />

Do mesmo modo que o seguiste!<br />

Sufoca tuas frouxas perplexidades!<br />

Esta casa, onde tu entraste por um crime,<br />

por um crime deverás deixá-la.<br />

Assim, o quadro da cura fantástica está dado ao púbico:<br />

será o das núpcias ao inverso.<br />

O instrumento de Medéia é a língua; sua força, a da<br />

retórica. A relação metafórica entre a pompa nupcial<br />

e a pompa fúnebre é uma constante em Roma. Mas a<br />

tragédia faz da metáfora uma metamorfose, da comparação,<br />

uma razão. O furioso tem o poder de fazer existir<br />

as palavras, de dar à retórica força de realidade.<br />

Outras Obras de Sêneca<br />

A) Catálogo dos crimes trágicos<br />

Tieste<br />

O scelus nefas é composto sucessivamente do sacrifício<br />

humano cumprido por Atreu e do banquete canibal<br />

que se seguiu. A passagem do sacrifício é narrada<br />

no banquete sob a ótica de Atreu, que descreve Tieste<br />

festejando sob seus olhos, antes de interpelá-lo e de<br />

lhe oferecer como brinde um copo de vinho no qual<br />

versara o sangue dos seus filhos, depois contempla-o<br />

olhando a cabeça e as mãos dos filhos. Os dois sujeitos<br />

dos nefas são os dois irmãos, em posição intercambiável<br />

de carrasco e de vítima, de furiosos e de dolorosos.<br />

Atreu precedera Tieste e o havia feito pouco dele porque<br />

sua dor inicial ultrapassara a do irmão.<br />

ATREU<br />

Sei porque tu choras: Tu te angustias por eu ter tomado<br />

depressa<br />

este crime que eu te roubei.<br />

Não há amas canibais que te angustiem,<br />

nem quem te corte a garganta.<br />

É por não me teres feito comer,<br />

esta foi sempre tua intenção,<br />

uma refeição desta espécie,<br />

e de servi-la a teu irmão sem que ele percebesse.<br />

Tu irias te lançar sobre meus filhos,<br />

mas uma coisa te reteve, uma só.<br />

Tu suspeitavas que eles nasceram de ti.<br />

O crime é a repetição agravada daquele de Tântalo.<br />

É a partir daquele modelo que Atreu o inventou. Ele<br />

permite aos dois irmãos de inscreverem-se na dinastia<br />

da mitologia dos reis de Micenas. Uma cena de<br />

astúcia, a reconciliação dos dois irmãos, permitiu a<br />

execução do nefas.<br />

Fedra<br />

O crime de Fedra na tragédia de Eurípedes, Hipólito<br />

coroado, trata da história da esposa de Teseu que, na<br />

ausência deste, apaixonou-se perdidamente por seu<br />

enteado Hipólito. Repelida por este, filho do primeiro<br />

casamento de Teseu, Fedra suicidou-se, enforcandose,<br />

mas deixou uma mensagem mentirosa ao marido,<br />

acusando-lhe o filho de tentar violentá-la, o que irá<br />

provocar a morte do inocente Hipólito.<br />

Os personagens da peça são Fedra, Hipólito e Teseu, os<br />

quais passam para o mito. Fedra renova os amores selvagens<br />

da sua mãe Pasífae (esposa do rei Minos, a qual<br />

se apaixonara por um touro, dando à luz o minotauro),<br />

em seguimento à mesma dolor de Djanira ou Medéia.<br />

Fedra é uma mulher rejeitada, uma cretense exilada na<br />

Ática, para onde seu pai a enviara como refém:<br />

PHAEDRA<br />

O magna vasti Creta dominatrix freti<br />

cuius per omnes litus innumerae rates<br />

tenuere pontum, quidquid Assyria tenus<br />

tellure Nerea pervium rostris secas<br />

cur me in penates obsidem invisos datam<br />

hostique nuptam degere aetatem in malis<br />

lacrimisque cogis? Pefugus en coniux abest<br />

praestatque nuptae quam solet Thaeseus fidem.<br />

...<br />

FEDRA<br />

Ó Creta, soberana do mar vasto, cujos barcos inúmeros<br />

na costa<br />

cobrem as águas que Nereu franqueia às naus até<br />

ao litoral da Assíria,<br />

por que me deixas presa em mar odioso, esposa do<br />

inimigo,<br />

condenada por toda a vida a dor e ao pranto?<br />

Prófugo, Teseu me é fiel como já foi às outras.<br />

Com pretendente ousado, entrou nas trevas do ínvio<br />

lago do qual ninguém regressa.

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