LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
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2.5 - Ovídio<br />
Nasceu em Sulmona (hoje Abruzzo) em 43 a.C.<br />
Freqüentou as melhores escolas de retórica de Roma,<br />
tendo em vista a carreira política e forense. Após uma<br />
visita à Grécia entrou para o círculo de Messala, onde<br />
se relacionou com os maiores poetas romanos. Devido<br />
à sua poesia foi declarado oficialmente imoral<br />
e punido por Augusto com o exílio no Mar Negro,<br />
o Ponto, em Tomes, hoje Costança. Questiona-se a<br />
verdadeira causa do exílio; segundo alguns, a causa<br />
verdadeira seria o seu envolvimento num escândalo<br />
de adultério com a sobrinha de Augusto. Morreu em<br />
Tomes em 17 ou 18 d. C.<br />
Sua primeira obra foi Amores (49 elegias, 2460 versos),<br />
em dísticos elegíacos. Heroides, Ars amatoria<br />
(três livros, 2300 v.), Remedia amoris (814 v.), Medicamina<br />
faciei feminae (=Os cosméticos das mulheres),<br />
Metamorphóseon libri (15 livros, 12.000 v.),<br />
Fasti (seis livros, 5000 v.), Tristia (cinco livros, 3500<br />
v.). Escreveu ainda quatro livros de Epistulae ex Ponto,<br />
em dísticos elegíacos.<br />
As Heroides<br />
Se o éros é o tema da poesia do Ovídio juvenil, a outra<br />
grande fonte da sua poesia é o mito. As Heroides,<br />
bem como as Metamorfoses, alimenta-se desse tema.<br />
Trata-se de uma coleção de cartas poéticas. A primeira<br />
série, de 1-15, é escrita por mulheres famosas, heroínas<br />
do mito grego (também a Dido, de Vergílio, e sobretudo<br />
a personagem histórica Safo) aos seus amantes<br />
ou maridos distantes (Penélope a Ulisses, Fílides a<br />
Demofonte, Briseida a Aquiles, Fedra a Hipólito, Eno<br />
a Páris, Dido a Enéias, Hipsípile a Jasão, Érmião a<br />
Orestes, Djanira a Hércules, Ariana a Teseu, Medéia a<br />
Jasão, Safo a Fáon etc.). A segunda série, de 16 a 21,<br />
é constituída pelas cartas de três enamorados acompanhadas<br />
pelas respostas das respectivas mulheres: Páris<br />
e Helena, Ero e Leandro, Acôncio e Cídipe.<br />
A originalidade dessa obra, com a qual cria uma<br />
nova espécie literária, Ovídio se diz orgulhoso. Com<br />
efeito, não temos notícias de obras semelhantes antes<br />
dele, ou seja, de coletânea de cartas poéticas de assunto<br />
amoroso. Se personagens e situações pertencem<br />
ao grande patrimônio do mito, muitos elementos são<br />
mudados pela tradição elegíaca latina, onde são freqüentes<br />
os motivos como o sofrimento pela distância<br />
da pessoa amada, recriminações, lamentos, súplicas,<br />
suspeitas de infidelidade, acusações de traições etc.<br />
Um exemplo disso é a epístola de Fedra a Hipólito,<br />
cuja heroína de Eurípedes perde os seus traços de nobre<br />
dignidade trágica para assemelhar-se a uma dama<br />
despreocupada da sociedade galante, empenhada em<br />
seduzir o enteado com os afagos de um fácil furti-<br />
vus amor e desenvolta assertiva de uma nova moral<br />
sexual, zombeteiramente intolerante com as antigas<br />
tradições.<br />
Recodificando em termos elegíacos histórias de heroínas<br />
da épica e da tragédia, não nascidas “dentro” e<br />
“para” o código elegíaco, Ovídio introduz o leitor num<br />
novo universo literário, não é antigo, nem moderno,<br />
não é épico, nem trágico ou mítico, nem é elegíaco.<br />
As Heroides são propriamente poesias de lamento,<br />
são a expressão da condição infeliz da mulher, deixada<br />
só pelo esposo amante distante. Ovídio põe nas<br />
palavras de Safo uma ligação entre o verso elegíaco e<br />
a condição da heroína infelizmente enamorada:<br />
flendus meus est: elegi quoque flebile carmen<br />
devo chorar sobre o meu amor; e a elegia é um canto<br />
lacrimoso.<br />
Os Amores<br />
A falta de uma figura unificante<br />
Ovídio não tinha ainda vinte anos quando publicou<br />
Amores, uma coletânea de elegias de assunto amoroso.<br />
Mostra influências de Tibulo e principalmente<br />
Propércio. Também Ovídio é uma voz em primeira<br />
pessoa a cantar temas tradicionais da elegia: poesia<br />
de ocasião (como o epicédio de Tibulo), ou de pura<br />
estampa alexandrina (como a elegia pela morte do<br />
papagaio da amada), sobretudo aventuras de amor,<br />
encontros fugazes, serenatas noturnas, brigas com a<br />
amada, cenas de ciúme, protestos contra a sua venalidade<br />
ou seus caprichos e as traições etc.<br />
Ovídio e a tradição elegíaca<br />
Antes de tudo – e é talvez a novidade mais saliente<br />
– falta uma figura feminina em torno da qual se reúnam<br />
as várias experiências amorosas que constitua o<br />
centro unificante da obra e junto da vida do poeta. Os<br />
poetas de amor precedentes, Catulo e Propércio, construíram<br />
a própria atividade poética em torno de uma<br />
única mulher, de um só grande amor que constitui o<br />
sentido daquela atividade. Com Ovídio não é assim:<br />
Corina, a mulher evocada aqui e acolá com pseudônimo<br />
grego, é uma figura tênue, de presença intermitente<br />
e limitada, que se suspeita não tivesse nem sequer<br />
uma existência real. Não somente o poeta declara mais<br />
vezes de não saber contentar-se com um único amor,<br />
de preferir duas mulheres (2,10) ou definitivamente de<br />
sofrer o fascínio de qualquer mulher bonita.<br />
Como a figura da mulher inspiradora, que não tem os<br />
contornos nítidos de uma protagonista e tende a parecer<br />
um resíduo, uma função convencional do gênero elegí-