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LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco

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32<br />

2.5 - Ovídio<br />

Nasceu em Sulmona (hoje Abruzzo) em 43 a.C.<br />

Freqüentou as melhores escolas de retórica de Roma,<br />

tendo em vista a carreira política e forense. Após uma<br />

visita à Grécia entrou para o círculo de Messala, onde<br />

se relacionou com os maiores poetas romanos. Devido<br />

à sua poesia foi declarado oficialmente imoral<br />

e punido por Augusto com o exílio no Mar Negro,<br />

o Ponto, em Tomes, hoje Costança. Questiona-se a<br />

verdadeira causa do exílio; segundo alguns, a causa<br />

verdadeira seria o seu envolvimento num escândalo<br />

de adultério com a sobrinha de Augusto. Morreu em<br />

Tomes em 17 ou 18 d. C.<br />

Sua primeira obra foi Amores (49 elegias, 2460 versos),<br />

em dísticos elegíacos. Heroides, Ars amatoria<br />

(três livros, 2300 v.), Remedia amoris (814 v.), Medicamina<br />

faciei feminae (=Os cosméticos das mulheres),<br />

Metamorphóseon libri (15 livros, 12.000 v.),<br />

Fasti (seis livros, 5000 v.), Tristia (cinco livros, 3500<br />

v.). Escreveu ainda quatro livros de Epistulae ex Ponto,<br />

em dísticos elegíacos.<br />

As Heroides<br />

Se o éros é o tema da poesia do Ovídio juvenil, a outra<br />

grande fonte da sua poesia é o mito. As Heroides,<br />

bem como as Metamorfoses, alimenta-se desse tema.<br />

Trata-se de uma coleção de cartas poéticas. A primeira<br />

série, de 1-15, é escrita por mulheres famosas, heroínas<br />

do mito grego (também a Dido, de Vergílio, e sobretudo<br />

a personagem histórica Safo) aos seus amantes<br />

ou maridos distantes (Penélope a Ulisses, Fílides a<br />

Demofonte, Briseida a Aquiles, Fedra a Hipólito, Eno<br />

a Páris, Dido a Enéias, Hipsípile a Jasão, Érmião a<br />

Orestes, Djanira a Hércules, Ariana a Teseu, Medéia a<br />

Jasão, Safo a Fáon etc.). A segunda série, de 16 a 21,<br />

é constituída pelas cartas de três enamorados acompanhadas<br />

pelas respostas das respectivas mulheres: Páris<br />

e Helena, Ero e Leandro, Acôncio e Cídipe.<br />

A originalidade dessa obra, com a qual cria uma<br />

nova espécie literária, Ovídio se diz orgulhoso. Com<br />

efeito, não temos notícias de obras semelhantes antes<br />

dele, ou seja, de coletânea de cartas poéticas de assunto<br />

amoroso. Se personagens e situações pertencem<br />

ao grande patrimônio do mito, muitos elementos são<br />

mudados pela tradição elegíaca latina, onde são freqüentes<br />

os motivos como o sofrimento pela distância<br />

da pessoa amada, recriminações, lamentos, súplicas,<br />

suspeitas de infidelidade, acusações de traições etc.<br />

Um exemplo disso é a epístola de Fedra a Hipólito,<br />

cuja heroína de Eurípedes perde os seus traços de nobre<br />

dignidade trágica para assemelhar-se a uma dama<br />

despreocupada da sociedade galante, empenhada em<br />

seduzir o enteado com os afagos de um fácil furti-<br />

vus amor e desenvolta assertiva de uma nova moral<br />

sexual, zombeteiramente intolerante com as antigas<br />

tradições.<br />

Recodificando em termos elegíacos histórias de heroínas<br />

da épica e da tragédia, não nascidas “dentro” e<br />

“para” o código elegíaco, Ovídio introduz o leitor num<br />

novo universo literário, não é antigo, nem moderno,<br />

não é épico, nem trágico ou mítico, nem é elegíaco.<br />

As Heroides são propriamente poesias de lamento,<br />

são a expressão da condição infeliz da mulher, deixada<br />

só pelo esposo amante distante. Ovídio põe nas<br />

palavras de Safo uma ligação entre o verso elegíaco e<br />

a condição da heroína infelizmente enamorada:<br />

flendus meus est: elegi quoque flebile carmen<br />

devo chorar sobre o meu amor; e a elegia é um canto<br />

lacrimoso.<br />

Os Amores<br />

A falta de uma figura unificante<br />

Ovídio não tinha ainda vinte anos quando publicou<br />

Amores, uma coletânea de elegias de assunto amoroso.<br />

Mostra influências de Tibulo e principalmente<br />

Propércio. Também Ovídio é uma voz em primeira<br />

pessoa a cantar temas tradicionais da elegia: poesia<br />

de ocasião (como o epicédio de Tibulo), ou de pura<br />

estampa alexandrina (como a elegia pela morte do<br />

papagaio da amada), sobretudo aventuras de amor,<br />

encontros fugazes, serenatas noturnas, brigas com a<br />

amada, cenas de ciúme, protestos contra a sua venalidade<br />

ou seus caprichos e as traições etc.<br />

Ovídio e a tradição elegíaca<br />

Antes de tudo – e é talvez a novidade mais saliente<br />

– falta uma figura feminina em torno da qual se reúnam<br />

as várias experiências amorosas que constitua o<br />

centro unificante da obra e junto da vida do poeta. Os<br />

poetas de amor precedentes, Catulo e Propércio, construíram<br />

a própria atividade poética em torno de uma<br />

única mulher, de um só grande amor que constitui o<br />

sentido daquela atividade. Com Ovídio não é assim:<br />

Corina, a mulher evocada aqui e acolá com pseudônimo<br />

grego, é uma figura tênue, de presença intermitente<br />

e limitada, que se suspeita não tivesse nem sequer<br />

uma existência real. Não somente o poeta declara mais<br />

vezes de não saber contentar-se com um único amor,<br />

de preferir duas mulheres (2,10) ou definitivamente de<br />

sofrer o fascínio de qualquer mulher bonita.<br />

Como a figura da mulher inspiradora, que não tem os<br />

contornos nítidos de uma protagonista e tende a parecer<br />

um resíduo, uma função convencional do gênero elegí-

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