LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
38<br />
Há três datas marcantes na história do teatro latino:<br />
- 364 a.C. : a criação dos jogos cênicos marca um<br />
período de teatro sem texto;<br />
- 240 a.C.: a criação dos jogos gregos marca um período<br />
de teatro com texto;<br />
- 27 a.C.: criação da pantomima romana, o desaparecimento<br />
da comédia. A tragédia deu origem à pantomima<br />
(de novo um teatro sem texto).<br />
Os Primeiros Jogos Cênicos<br />
Em 364 a.C., uma peste se abateu sobre Roma. Para<br />
os antigos, a peste não era epidemia, mas um castigo<br />
divino que podia ser execrado através de ritos expiatórios.<br />
Depois de esgotados todos os ritos domésticos,<br />
os romanos apelaram para um ritual estrangeiro,<br />
mandando vir da Etrúria atores para que eles fizessem<br />
um espetáculo cênico. O ritual passou a ser celebrado<br />
anualmente e integrado aos Grandes Jogos, no meio<br />
da procissão e dos espetáculos de circo. Temos aí a<br />
matriz do teatro romano, que existirá no futuro como:<br />
- um teatro-espetáculo lúdico;<br />
- um conteúdo de representações adaptado de espetáculos<br />
estrangeiros;<br />
- a origem da profissão do ator, chamado de histrio<br />
(do etrusco Hister ou Ister) para diferenciá-lo dos ludiones<br />
da procissão, pois era o histrio dotado de infâmia<br />
e excluído da vida cívica (os histriones reuniamse<br />
num colegiado particular);<br />
- um teatro espetáculo de dança.<br />
No Tempo dos Jogos Gregos<br />
O período de 240 a 27 a.C. é o do teatro com texto.<br />
Cultivam-se todas as espécies dramáticas conhecidas.<br />
Duas tendências marcam esses dois séculos: a primeira<br />
é a multiplicação dos dias de jogos, graças à importação<br />
de divindades estrangeiras (como os jogos<br />
da Grande Mãe, vinda do oriente), à celebração das<br />
vitórias obtidas e aos funerais de ilustres cidadãos; a<br />
segunda é a criação do teatro de texto, por imitação<br />
dos gregos. Na Grécia, a tragédia e a comédia eram<br />
consideradas como obras literárias que proporcionavam<br />
aos poetas muitas honras. O mesmo não ocorria<br />
em Roma, de imediato. Aos poucos, a condição do<br />
dramaturgo ganhou ímpeto. De início, eram chamados<br />
de scribae, depois, de poetae. Por fim a tragédia é<br />
considerada uma espécie literária.<br />
O tempo dos scribae vai de Lívio Andronico, passando<br />
por Névio, Plauto, Cecílio, até Ênio. O tempo<br />
dos poetae começa com Ênio, passa por Pacúvio, Lúcio<br />
Lanúvio até Terêncio. Depois vem o tempo dos<br />
oradores. Começa com Ácio e vai até o poeta Varius.<br />
No Tempo dos Jogos Imperiais: a Confusão<br />
dos Espaços<br />
No final da República se instalam os teatros permanentes.<br />
Os jogos não constituem mais um parênteses na vida<br />
dos cidadãos que se consagram à política e à guerra. Os<br />
teatros ficavam no campo de Marte e o campo de Marte<br />
é integrado à cidade. Os jogos passaram a funcionar<br />
como um intercâmbio entre o povo e o editor dos jogos.<br />
Adquiriram um valor político. O campo de Marte, que<br />
era o lugar das eleições e da Liberdade, torna-se o lugar<br />
dos teatros e da licença. Mas o cidadão romano, definido<br />
como um homo spectator, percebe que o espetáculo<br />
mudou. O ludismo eliminou o civismo e o civismo, inversamente,<br />
entra no teatro. Depois de Augusto, os imperadores<br />
introduziram uma série de regulamentações a<br />
fim de dar um pouco de seriedade à festa e de tornar o<br />
público uma sociedade hierarquizada.<br />
O teatro passou a não se dissociar da vida cívica.<br />
Cada vez menos se distinguiam os espetáculos lúdicos<br />
dos espetáculos cívicos. O mundo imaginário do palco<br />
se confundiu com a nova sociedade imperial. Os impossíveis<br />
heróis mitológicos da tragédia encarnaramse<br />
nos imperadores. Eles eram os novos Héracles e<br />
Apolos. Os aristocratas não se preocupavam com a infâmia<br />
e subiram ao palco para se tornarem “heróis”.<br />
O Teatro de Texto Deixa o Palco<br />
Com o início do Império, a tensão entre o teatro monumento<br />
e o teatro acontecimento abriu uma ruptura.<br />
Sob o reinado de Augusto praticaram-se as leituras<br />
públicas – recitatio. Nas casas de cidadãos privados<br />
organizaram-se leituras de textos de poemas dramáticos<br />
para os amigos. O texto era só declamado, como<br />
um discurso. A meta não era suscitar um prazer teatral,<br />
mas propor ao julgamento dos ouvintes uma obra<br />
que pretendia ser um monumento da cultura latina.<br />
O autor dessas obras, geralmente o chefe da casa ou<br />
um seu protegido, não procura o sucesso público dos<br />
teatros. Segundo Horácio, ele escreve uma obra séria,<br />
geralmente uma tragédia, e se deixa prender nas armadilhas<br />
da mimese. Ele dá um conteúdo alegórico<br />
à peça, e o teatro-texto se torna um instrumento de<br />
propaganda entre os espectadores. A poesia dramática<br />
se torna um exercício puramente de retórica, como os<br />
que praticam os declamadores.<br />
A Pantomima<br />
Paralelamente uma outra espécie de espetáculo é<br />
criada: a pantomima. Dois libertos de Augusto, Pylades<br />
e Bathyles, fabricam, a partir da tragédia, peças<br />
de teatro em que tudo é cantado e dançado. Um único<br />
ator apresentava todos os papéis. Um cantor, acom-