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LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco

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do círculo de Lutácio Cátulo, deixam lugar a um<br />

tipo de poesia que não concede senão um espaço<br />

limitado ao otium e aos seus prazeres (recortados<br />

às margens do sistema, como concessão ocasional<br />

de uma conduta de vida centrada ainda nos deveres<br />

do civis), mas os coloca no centro da existência, tornando-os<br />

os valores absolutos, as razões exclusivas,<br />

como acontece em Catulo. A poesia neotérica assinala<br />

o auge, sob o plano literário, de uma tendência<br />

sensível na literatura latina: de um lado, o crescente<br />

desinteresse pela vida ativa gasta a serviço do estado,<br />

pelos valores venerados pela tradição, pelo<br />

papel, em suma, do civis romano; de outro lado, o<br />

contemporâneo afirmar-se do gosto pelo otium, pelo<br />

tempo livre, dedicado às letras e aos prazeres, à satisfação<br />

das necessidades individuais e privadas.<br />

A revolução do gosto literário é acompanhada por<br />

uma geral revolta do caráter ético que a substancia e<br />

mostra a crise dos valores do mos maiorum. A refutação<br />

da vida empenhada ao serviço da comunidade,<br />

do modelo do cidadão-soldado, se reflete no difundirse<br />

do epicurismo, uma filosofia que prega a renúncia<br />

aos negotia político-militares em favor de uma vida<br />

à parte e tranqüila, em íntima comunhão dos amigos.<br />

A convergência entre os princípios do epicurismo e<br />

as tendências dos poetas neotéricos é evidente, mas<br />

nota-se também uma diferença importante: para os<br />

epicuristas, cuja finalidade é a ataraxia, o prazer sem<br />

perturbações, o éros é uma doença insidiosa, da qual<br />

devemos fugir pois é fonte de angústia e de dor (basta<br />

pensar no livro De rerum natura, de Lucrécio), enquanto<br />

que para os neòteroi – sobretudo para Catulo<br />

2.4 - Virgílio e as Bucólicas<br />

As Bucólicas ou Églogas são uma coletânea de<br />

poemas inspirados nos idílios do alexandrino Teócrito<br />

de Siracusa (III a.C.). Codificam o gênero<br />

bucólico. Há églogas díspares, i. é, dialógicas, e<br />

as églogas pares, narração com uma só voz. São<br />

apresentados, sobre o fundo a campanha padana<br />

personagens pastoris que cantam suas experiências<br />

e seus sentimentos.<br />

A égloga I contém um diálogo entre dois pastores,<br />

dos quais um, Melibeu, é obrigado a deixar<br />

seus campos confiscados, ao passo que o segundo,<br />

Títiro, pode permanecer graças à ajuda de um poderoso<br />

que reside em Roma. Na II égloga, Córidão<br />

lamenta seu amor não correspondido pelo jovem<br />

Aléxis. A III consiste numa disputa poética entre<br />

– o amor é o sentimento central da vida, aquele que<br />

constitui o fulcro e a razão essencial.<br />

Isso torna também, por conseguinte, o tema privilegiado<br />

de sua poesia e concorre para dar forma<br />

a um novo estilo de vida, inspirado justamente no<br />

culto do éros e das paixões e da dedicação à poesia<br />

que os alimenta.<br />

O trabalho da forma, o escrupuloso cuidado pela<br />

composição, o paciente lavor de lima são, enfim, o<br />

tratamento distintivo primário da nova poética vinda<br />

de Calímaco. Como Calímaco havia asperamente polemizado<br />

contra os seguidores do épos homérico, ridicularizando<br />

o desmazelo e o proselitismo do poema<br />

longo, e havia propugnado um novo estilo poético,<br />

inspirado pela brevitas e pela ars (o meticuloso trabalho<br />

do cinzel), assim Catulo e os neòteroi ridicularizam<br />

os estanques imitadores de Ênio, os pomposos<br />

cultores da épica tradicional (Volúsio, Sufeno, Hortênsio),<br />

celebrativa das glórias nacionais, já estranhas<br />

ao gosto atual, quer pelo cuidado formal quer pelos<br />

conteúdos antiquados. Serão, em vez, outros os gêneros<br />

privilegiados pela poética calimácea e apropriados<br />

para o acurado lavor do cinzel, ao labor limae: os<br />

poemas breves, como o epigrama, ou ainda como o<br />

epílio, o poema mitológico em miniatura, possibilitam<br />

ao poeta a ostentação da própria preciosa erudição<br />

(trata-se de antigos mitos de assunto erótico,<br />

próximos, talvez, da sensibilidade moderna), e de pôr<br />

em prática refinadas estratégias de composição (narrativas<br />

de encaixe, narrações tramadas juntas as quais<br />

se refletem mutuamente).<br />

os pastores Dâmeta e Menalca. A IV celebra a renovação<br />

do mundo ligado ao nascimento de um<br />

menino que abrirá uma nova época de paz. A V<br />

evoca, através do canto de dois pastores, a morte<br />

e a divinação de Dáfnis. A VI contém o canto<br />

de Sileno, inspirado em Lucrécio, que descreve a<br />

criação do universo. A VII é uma disputa de canto<br />

entre dois pastores árcades. A VIII apresenta<br />

o lamento de um pastor pela infidelidade da mulher<br />

amada e a descrição dos encantamentos com<br />

que a moça procura reconquistar seu amado. A IX<br />

tem por protagonista dois pastores, dos quais o<br />

primeiro (Mérides) vê seus campos confiscados e<br />

o segundo (Licidas) recorda que Menalca tentou<br />

inutilmente conservar a propriedade com a poesia.<br />

A X canta o amor de Galo pela bela Licóride.<br />

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