LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
LITERATURA LATINA I - Universidade Castelo Branco
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UNIDADE I<br />
INTRODUÇÃO À <strong>LITERATURA</strong> <strong>LATINA</strong><br />
1.1 - Aspectos Históricos<br />
Como Foi Transmitida a Literatura Clássica?<br />
Quem lê uma história da literatura latina encontrase<br />
diante de uma narrativa contínua, uma narrativa<br />
complexa na qual se encontram personagens diversos<br />
– os escritores – que produzem suas obras. Ao ler assim,<br />
tudo em seqüência, não se dá conta de quanto<br />
trabalho, no tempo, foi necessário aos estudiosos para<br />
reconstruir um quadro dos fatos e dos acontecimentos<br />
literários tal que se possa, hoje, no estado atual do<br />
conhecimento, defini-lo como completo.<br />
O fato é que, de todos os textos da literatura clássica,<br />
alguns se conservaram mais ou menos íntegros,<br />
outros nos chegaram mutilados mais ou menos gravemente,<br />
de outros permaneceram somente algum<br />
pequeno fragmento, outros ainda desapareceram por<br />
completo e sabemos só (por testemunhas indiretas)<br />
que existiram um dia. O mesmo texto que lemos estampado<br />
em edições não é senão o ponto de chegada<br />
de uma história acidentada, no curso da qual sofreu<br />
deformações e prejuízos de vários tipos que o tornaram<br />
cá e lá defeituoso ou talvez incorreto. O trabalho<br />
dos filólogos providencia com perícia e paciência a<br />
restituição da originária correção dos textos. Em resumo,<br />
tanto a história da literatura grega ou latina<br />
como os textos das obras que as acompanham, se<br />
não tivessem sido integrados pelo trabalho dos estudiosos,<br />
resultariam muito mais lacunosos e incertos<br />
do que hoje o são.<br />
Uma enorme quantidade de textos da literatura latina<br />
já tinha sido perdida no fim da Idade Antiga;<br />
muitos outros se perderam durante a Idade Média.<br />
As razões desse desaparecimento são múltiplas e<br />
diversas: não só mudança de gosto e transformações<br />
culturais fizeram “descartar” certas obras, mas<br />
advém também que obras particularmente longas,<br />
como as Historiae de Tito Lívio, fossem abreviadas<br />
e simplificadas até que os compêndios fizeram desaparecer<br />
os originais; outras desapareceram pelos incêndios<br />
ou saques ou destruições de bibliotecas. Se<br />
o trabalho dos historiadores literários e dos filólogos<br />
não tivesse procurado pesquisar e reconstruir o que<br />
existia, muitos autores importantes hoje não teriam<br />
sequer mencionados os nomes.<br />
Os textos foram conservados e chegaram até nós<br />
graças a papiros e a manuscritos em pergaminhos ou<br />
em papel [ditos ainda códices, do nome codex (tabuinha<br />
de escrever), que tinha a tabuinha de madeira<br />
usada na idade imperial como capa das folhas de<br />
pergaminhos encadernados como livro]; importante<br />
é ainda a documentação que se reuniu através das<br />
epígrafes (inscrições em prosa ou em versos incisas<br />
no mármore, na pedra, no bronze ou sobre os vasos).<br />
Em alguns casos temos numerosíssimos exemplares<br />
para examinar, como certas obras de Ovídio; mas há<br />
também casos em que o manuscrito é um só, como<br />
acontece com os seis primeiros livros dos “Anais”<br />
de Tácito. Na maioria das vezes se trata de manuscritos<br />
medievais (a maior parte dos séculos IX ao<br />
XIII); mais raramente o texto é transmitido por manuscritos<br />
tardo-antigos ou, ao contrário, só por cópia<br />
da idade humanística.<br />
Por quanto vária e complexa possa ser a transmissão<br />
da cada um e dos diversos autores, quando a obra de<br />
um autor é conservada em códices manuscritos (copiados<br />
durante a I. M. pelos monges ou mais tarde<br />
pelos Humanistas), o editor reconstrói o texto trabalhando<br />
sobre testemunhas que são representadas por<br />
uma cópia ou por uma fieira de cópias. O resultado<br />
que alcança é chamado de edição crítica, uma edição<br />
que de costume contém, além do texto crítico reconstruído<br />
pelo editor moderno, também um aparato crítico,<br />
onde estão assinaladas as variantes por ele refutadas<br />
(neste aparato de notas, estampado na maioria<br />
das vezes ao pé da página, se registram precisamente<br />
as variantes, isto é, as diferenças entre os vários manuscritos).<br />
De tal modo resultam logo evidentes os<br />
critérios de reconstrução do texto que o editor adotou<br />
preferindo uma lição a outra (preferindo um determinado<br />
modo que o copista do manuscrito “leu”<br />
e transcreveu um passo). A disciplina que examina a<br />
tradição manuscrita de um texto (ou seja, o conjunto<br />
dos documentos escritos que o transmitiram), que<br />
tem por objetivo reconstruir a forma originária e que<br />
procura saneá-lo dos gastos ocorridos com o tempo, é<br />
chamada de crítica textual.<br />
Nesse caso, qualquer que seja a particular situação<br />
da tradição manuscrita de um autor, a nossa relação<br />
com os textos pode ser definida como direta, no sentido<br />
que esses foram reproduzidos por si sós (embora<br />
com possíveis gastos, cochilos do copista, omissões,<br />
infidelidades, acréscimos e ajustes). Diz-se então que<br />
esses textos chegaram até nós por tradição direta.<br />
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