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_ “Ele escreveu que intimidava os membros do directivo”.<br />
_“ Estava escrito “intimido”?<br />
_“Estava… “<br />
_“ão seria, “intimo”?...<br />
_“Sim, ou isso…”<br />
E o juiz, atravessando-se em socorro da testemunha: -“ Isso é um detalhe,<br />
sôtôr”. Talvez seja. Mas é um grande detalhe. (Porque veio o juiz socorrer uma<br />
testemunha destas, em interrogatório plácido, quanto a matéria com esta<br />
natureza?... É o mistério das mentalidades, suponho).<br />
Também se podia falar da Procuradora-Geral Adjunta numa Relação<br />
apresentando uma resposta a alegações de recurso onde, dizendo citar as<br />
alegações, substituía “teleologia” por “teologia” (substituía sempre) e isso<br />
alvejou-se, evidentemente: tais pretensas citações traduzem imputação de facto<br />
não apenas falso, mas incompatível com qualquer percurso de escolaridade<br />
regular, motivo pelo qual, mesmo sendo lapso – e grande lapso sempre o seria -<br />
traduz tal facto uma clara quebra de respeito pelo opositor em debate, fazendo<br />
exigível a correcção da peça apresentada. Requereu-se despacho ordenando a<br />
correcção. Não conheço ainda o desfecho. Deve ser interessante. Uma<br />
participação disciplinar ou criminal contra advogado, intuo.<br />
A vida deve ser muito complicada para os condenados a falhar distinções<br />
destas. Aparentemente, porém, aos olhos de tal gente, o desempenho de<br />
qualquer poder decisório simplifica-lhes as coisas: quem havia de o dizer? E o<br />
que lhes simplifica as tarefas é, crêem eles, a possibilidade imaginada de calar<br />
os outros… Assim sofreram o poder alheio, assim concebem o poder “próprio”.<br />
Tais mecanismos – como as correspondentes personagens – são familiares a<br />
todos. Todas traduzem, em alguma medida, o “escravo rei”.<br />
Tudo está aqui completamente desajustado. De todos os pontos de vista. No<br />
plano dos pressupostos jusfilosóficos do sistema, antes de mais, porque não há<br />
tal poder próprio, nem o alheio, porque o cidadão não deve obediência a<br />
ninguém mas à Lei e isso é modo de obediência a si próprio… (mesmo com a lei<br />
ordinária eivada de estranhas transigências com a mentalidade dos seus autores<br />
materiais … e isso não é pequeno abuso). Em República não há homenzinhos a<br />
dar ordens a ninguém, em síntese geral. Ninguém dá ordens ao Soberano. Só os<br />
funcionários estão subordinados (porque a Administração obedece ao<br />
Soberano). E os clérigos (noutra ordem de razões). Os soldados, também<br />
(noutro contexto, mas ainda por obediência ao Soberano). Os cidadãos não<br />
estão sujeitos senão a si próprios (é a obediência à Lei por eles instituída).<br />
A cidadania é insusceptível de subordinação pessoal. São livres e iguais, os<br />
cidadãos. Não há “Hierarquia Social”, embora possa haver estratificação social.<br />
“Hierarquia Social”, só com nobreza de sangue e nenhuma nobreza de sangue<br />
releva em República (a não ser como testemunho ético, estético, ou histórico,<br />
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