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exclusivo, dos tribunais superiores e em casos concretos. Temos, não obstante,<br />

uma escola onde se diz como julgar. Onde parece privilegiar-se o acesso da<br />

classe média baixa. Escola de onde vêm ecos com o alcance de dissuasão das<br />

eventuais divergências com a “jurisprudência dominante”, assim tornada<br />

funcionalmente obrigatória (o “não discutimos”, cá está a coisa).<br />

A Universidade em Portugal agravou, ao menos em Direito, os tiques restritivos<br />

de imposições já velhas e para as quais se não vê utilidade prática ou teórica no<br />

plano dos interesses da comunidade. Um gesto automático separado de<br />

qualquer utilidade é um tique, justamente… São espantosas na esterilidade,<br />

estas estruturas. Refiro-me sobretudo à nossa área. Ao Direito. Conheço-a<br />

melhor. Nas outras tenho contactos muito esclarecedores, embora ocasionais.<br />

Nas engenharias, por exemplo, encontrei um Professor Associado, com<br />

agregação feita, a escrever, habitualmente, “lissenssa” e não vi ninguém com<br />

dúvidas na compreensão de quanto ali se tratava… Eles são muito inteligentes<br />

nas engenharias.<br />

Na nossa área, as “Lições” são hoje vulgares descrições de textos legais, sem<br />

opiniões, posições ou reflexões, aparentemente reservadas para os pareceres.<br />

Maioritariamente não se publicam senão uns trabalhinhos escolares – vagas<br />

resenhas bibliográficas produzidas em mestrado, na melhor das hipóteses,<br />

porque, na pior, já vi publicar, em nome próprio do docente, trabalhos por ele<br />

fixados aos estudantes e produzidos por estes para avaliação escolar. Atente-se<br />

no significado disto quanto à falta de exigência intelectual do editor. Quanto à<br />

falta de exigência intelectual do público. Quanto à falta de exigência intelectual<br />

na própria usurpação. Desde quando é que aquilo que um miúdo escreve,<br />

sobretudo na nossa área e por mais inteligente que ele seja, é passível de<br />

apropriação por um adulto normal? … Valha-nos Deus. Falei mesmo com umas<br />

vítimas do estranho fenómeno, tão intimidadas como surpreendidas ante tais<br />

publicações. Vi os papéis. E não tenho dúvidas.<br />

Eis o panorama geral. Depois há as excepções. Na minha geração e em Direito,<br />

Paulo Ferreira da Cunha é a mais evidente. Publica desenfreadamente revoadas<br />

de coisas bem pensadas. Passa a vida aos saltos pelo mundo - escreverá ele nos<br />

aviões? - e vai trazendo uns pedaços do mundo para o Porto. Isso é<br />

retemperante. É preciso um espaço na cidade para Paulo Ferreira da Cunha<br />

dispor os seus pedaços de mundo. E uns sítios no mundo para ele ir enraizando<br />

os bocados de Porto que há-de levar. Alguém devia prevenir disso o mundo,<br />

porque ninguém conseguirá fazer-se ouvir no Porto. Há gente a precisar de<br />

melhorar significativamente o que a rodeia para conseguir sobreviver. E essa<br />

gente areja os lugares, ilumina, planta, constrói sem descanso, abre estradas e<br />

percorre-as, acolhe ideias para as fazer germinar e florescer, na certeza<br />

desmedida de que o novo mundo será apenas a transfiguração deste. E à escala<br />

de tudo quanto possa – e pode surpreendentemente muitíssimo – esta gente<br />

transfigura e transfigura-se. É um problema de subsistência, evidentemente,<br />

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