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extremadas na Península. (Por curiosidade, Aquilino Ribeiro tinha ali passado<br />

os cinquenta anos). Chegaram ao Supremo trinta anos depois disso e ali terão<br />

ficado vagos dez anos, sendo substituídos por aqueles que estavam no MP<br />

quando eles eram juízes, e na primeira instância quando eles estavam na<br />

Relação e aqui quando eles já estavam no Supremo.<br />

Estamos quase sós desde 1986, portanto. E isso nota-se na jurisprudência como<br />

se verá. Há umas refracções e algumas marcantes, bem entendido, muitas no<br />

pior sentido, claro – porque as coisas não podem nunca deixar de piorar – e de<br />

algumas delas dá conta o próprio Aquilino. É a importância do Bugalho na<br />

História. (Herculano insiste em dizer-nos que na Idade Média já havia, embora<br />

se dispense da demonstração… Ora o Bugalho é medíocre, pouco limpo,<br />

untuoso, voraz, pronto a trepar e disponível para tudo, embora se engane no<br />

essencial e com frequência – “todo o Regras tem um Bugalho; alguns têem<br />

dous, outros têem trinta. É conforme.” - Herculano, O Monge de Cister, II, 13ª<br />

Ed. Lisboa, 1918, pág. 238).<br />

Mas também há, evidentemente e sempre, quem tenha crescido com livros em<br />

casa. Quem tenha livros dos pais e dos avós. Melhor ainda, quem tenha podido<br />

dispor da presença dos pais e dos avós. Isso é verdade. Nada é absoluto aqui.<br />

Em termos gerais, aplicar-se-á sempre a justeza de uma observação de Gilbert<br />

Durand numa conferência: quando (por exemplo) um plátano nos mostra<br />

algumas folhas no Inverno, ninguém sabe dizer se são as últimas do Verão, se<br />

as primeiras da Primavera. Também aqui isso é perfeitamente exacto.<br />

É porém igualmente exacto que há Inverno.<br />

A última geração dos formados na “temperatura intelectual” universitária da<br />

Primeira República (embora nunca completamente imune aos preconceitos de<br />

época) exerceu uma direcção efectiva, deixando marcas claras de liberalidade<br />

intelectual na prática forense e até há bem pouco tempo. Foi, talvez por isso,<br />

globalmente inconclusiva a acção de Salgado Zenha quanto ao saneamento de<br />

juízes dos tribunais superiores em razão da sua conduta durante a ditadura.<br />

Genericamente falando - e mesmo sem heroísmos visíveis – terão permanecido<br />

fiéis ao Direito, como o atesta a respectiva jurisprudência, ao contrário de<br />

quanto ia acontecendo já na primeira instância com os tribunais plenários. É<br />

altura de consultar os documentos de tal exame político da judicatura… Muitos<br />

dos examinados já não devem estar vivos e tais documentos esclarecem<br />

aspectos importantes da História recente.<br />

Convém contar, assim preservando, uma coisa ouvida a Artur Cunha Leal –<br />

quanto a quem expresso a minha homenagem e a minha saudade – vinha ele<br />

um dia a descer do seu escritório, à R. Augusta, quando os da PIDE vinham a<br />

subir. Queriam entrar e revistar… ora Cunha Leal, aproveitando a escada<br />

estreita, derrubou o primeiro assim conseguindo pôr todos a rolar escada<br />

abaixo. Foi o efeito dominó com uns ais, umas pistolas, umas pragas e uma<br />

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